São Paulo, segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

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Maior desigualdade escolar é em São Paulo

Secretária estadual da Educação diz que o tamanho da população do Estado é uma das explicações para as diferenças

Para economista, se Brasil quiser continuar diminuindo sua desigualdade de renda, será preciso colher avanços na desigualdade educacional

DA SUCURSAL DO RIO

O economista Fábio Waltenberg, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, também pesquisou a desigualdade brasileira a partir das notas de alunos da oitava série em matemática e descobriu que São Paulo é o Estado com a maior diferença.
Em sua tese de doutorado -premiada pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia-, Waltenberg também aplicou na educação uma medida usada por economistas (o índice de entropia generalizada) para medir a desigualdade de renda.
Ele mostra que os Estados mais desiguais são São Paulo, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Minas e Rio. No outro extremo estão Amapá, Rio Grande do Sul e Acre.
O Sudeste, apesar de ter desempenho melhor no Saeb, apresentou mais desigualdade. No Nordeste, acontece a pior situação: médias baixas com altos níveis de desigualdade. O Sul apresentou o resultado mais satisfatório: menos desigualdade e melhores médias.
No caso de São Paulo, a hipótese de Waltenberg é que, assim como acontece no Rio e em Minas, há, ao mesmo tempo, os melhores colégios particulares e péssimas escolas nas periferias e favelas.

Distância
Uma maneira mais simples -porém menos precisa- de constatar esse resultado é comparando a média de escolas particulares e públicas no Saeb (exame do MEC) em cada Estado. Utilizando a mesma série (a oitava) e a mesma disciplina (matemática) analisada por Waltenberg, a Folha comparou essa distância em 2005.
São Paulo, de novo, aparece como o Estado onde a rede privada está mais distante da pública. As regiões Sudeste e Nordeste do país também foram mais desiguais.
Para o economista, se o país quiser continuar diminuindo sua desigualdade de renda, será preciso colher avanços na desigualdade educacional.
"Muitos estudos no Brasil só consideram a quantidade nas comparações educacionais, mas a qualidade é determinante da renda. Não basta transferir dinheiro para os mais pobres. Resolver o nó da qualidade é o caminho para alterar a estrutura de desigualdade."

Secretária
A secretária estadual da Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, diz que o tamanho da população do Estado (40 milhões) é uma das explicações para a maior desigualdade educacional. "Provavelmente, não existe no Brasil nenhuma rede tão heterogênea quanto a de São Paulo."
Ela argumenta, no entanto, que São Paulo tem a maior proporção de jovens de 15 a 17 anos estudando na série adequada para a sua idade (66%). "Aqui, a inclusão dos mais pobres no sistema foi real."
Para diminuir a desigualdade, a secretária diz que o governo está melhorando o sistema de recuperação dos alunos com dificuldade de aprendizado e padronizando os critérios de avaliação e o currículo.
"Cada escola estava avaliando o aluno de uma maneira", afirma. Sou a favor do sistema de progressão continuada, mas, para que ele funcione, é preciso que o aluno seja avaliado constantemente, o que não estava acontecendo. O que estamos fazendo é recuperar as rotinas básicas da escola, que foram abandonadas, mas que precisam funcionar", diz.


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