São Paulo, quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

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2º dia do novo trajeto do metrô no Rio tem falha técnica, falta de informação e confusão

CAIO BARRETTO BRISO
DA SUCURSAL DO RIO

Há dez minutos na estação Pavuna do metrô do Rio, Décio de Albuquerque espera o trem que o levará ao trabalho, em Botafogo. Ele cumpre o mesmo ritual há 10 dos seus 48 anos. Desta vez, o trem demora mais que o habitual. "Ontem foi pior, esqueci meu livro."
O segundo dia de operações do novo trajeto da linha 2 do metrô carioca (que elimina a baldeação e reduz o tempo de ligação entre o centro e a zona sul) foi melhor que o primeiro.
O intervalo máximo entre os trens caiu de 15 para 10 minutos, mas repetidas falhas técnicas nos trens, somadas à falta de informação, fizeram começar mal o dia de muitos dos 550 mil cariocas que usam o metrô diariamente.
Antes da mudança, o intervalo entre os trens era de 4min 40s. Com a criação de mais um trajeto -e sem que a quantidade de trens cresça, o que está previsto só para 2011-, o intervalo entre os trens subiu e atrapalhou a vida dos passageiros.
A Folha acompanhou as primeiras horas do segundo dia de problemas.

5h30: partida
Bilheterias e plataformas relativamente vazias na estação General Osório, em Ipanema, recém-inaugurada. Está escuro e a zona sul -a mais rica da cidade- ainda dorme.

5h52: espera
Pouco antes de chegar à estação Botafogo -a quarta a partir da General Osório-, o trem para no fim do túnel de circulação. Os passageiros ficam sem saber o que acontece, pois ninguém ouve o que diz o condutor. Quase cinco minutos mais tarde, o trem segue.

8h05: debandada
Ao chegar à estação Maracanã, as portas do trem se abrem e o condutor anuncia: "Por motivo de uma falha técnica, pedimos aos passageiros que se dirijam ao trem posicionado na outra plataforma".
É o sinal para a debandada. Os mais jovens correm para conseguir um assento vazio no outro trem. Os mais velhos são empurrados pela multidão. "Se ele não tivesse me segurado, ia morrer pisoteada aqui mesmo", diz Maria do Carmo Oliveira, 58, após tropeçar e ser ajudada por um homem.

8h47: sufoco
As portas do trem fecham e Maria Mello não consegue embarcar. Ela está com a perna engessada e, por isso, se movimenta mais lentamente. "Nada é motivo para falta de respeito. As pessoas viram que estou debilitada, mas não me deixaram passar", disse a auxiliar de escritório.
A pressa para não perder o trem e a hora esquenta os ânimos na estação Glória. Dois passageiros, um saindo e outro entrando no trem, se trombam. Eles se xingam.
Quase todos os passageiros vindos da linha 2 descem na Glória para passar à linha 1. Eles já poderiam fazer isso a partir da estação Central -cinco estações antes da Glória-, mas poucos sabem disso.

9h30: chegada
O trem chega vazio à recém-inaugurada estação General Osório. Nas plataformas, não há ninguém.

Outro lado
A Metrô Rio diz que o sistema tem falhas por estar no início da implantação. Cem mil cartões do metrô, no valor de R$ 10, foram distribuídos ontem nas estações, "como forma de se desculpar e de ressarcir os passageiros pelos transtornos" de terça-feira. Dezenove novos trens serão adicionados aos 33 atuais a partir de 2011.


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