São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 1998.



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CIDADE EM MUTAÇÃO 3
Para arquitetos, cidade pode se reorganizar melhor com mudanças econômicas
Serviços elevam qualidade de vida

da Reportagem Local

São Paulo pode se tornar um lugar melhor para viver se a cidade souber aproveitar o crescimento do setor de serviços para reorganizar de uma maneira melhor a ocupação de seu espaço urbano.
A cidade, no entanto, não tem conseguido tirar proveito do caos instalado pela mudança de sua base econômica para criar um ambiente urbano mais agradável.
Essa é a opinião, em linhas gerais, da maioria dos arquitetos e urbanistas ouvidos pela Folha.
"Essa transformação (econômica) pode ser benéfica para a cidade", disse o urbanista Paulo Bastos, professor de arquitetura da Universidade Católica de Santos e ex-presidente do Condephaat (órgão estadual de defesa do patrimônio histórico).
Com a liberação de muitas áreas físicas antes ocupadas por indústrias, esses espaços temporariamente vagos poderiam ser convertidos para usos mais nobres -transformados em áreas verdes (parques) ou, no caso de prédios fabris de valor histórico, restaurados e utilizados como centros de cultura ou comércio.
"A cidade é dominada pela especulação imobiliária e predomina a visão shopping center: demole tudo e faz um prédio novo", afirmou Bastos. Para o arquiteto, a "classe dominante" tem um nível muito baixo para ter sensibilidade e entender a mudança.
Luiz Carlos Costa, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, disse que a transformação econômica da cidade se deu num momento de exclusão social.
"As perspectivas de obter renda e emprego hoje são pessimistas e uma parcela de população continua excluída do consumo", afirmou Costa. "'Há problemas urbanos que não vão se resolver pelo mercado, como a falta de habitação e de serviços básicos."
Para Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e ex-diretora de Planejamento na gestão Luiza Erundina, o crescimento do setor terciário da economia faz a cidade ficar "mais misturada".
"Os serviços e comércio convivem melhor com a moradia do que a indústria", afirmou Raquel. "Na cidade industrial, há muita separação entre o espaço da moradia e o do trabalho."
Teoricamente, disse a arquiteta, numa cidade terciária, a necessidade de uso do carro é menor, pois as pessoas podem morar mais perto do trabalho ou mesmo trabalhar em casa. Isso, no entanto, ainda não acontece em São Paulo.
"O problema é que São Paulo ainda está organizada como cidade industrial e mesmo a lei de zoneamento é baseada na antiga cidade industrial, dificultando a coexistência de moradia e comércio", afirmou Raquel.
O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, seção São Paulo, Pedro Cury, afirmou que a capital paulista "vai ser uma cidade mundial".
"É óbvio que o Rio de Janeiro é fisicamente mais bonito e Curitiba é mais ecológica, mas a força da economia de São Paulo vai fazer a cidade ter um papel importante na relação do Brasil com o mundo", disse Cury. (MARCOS PIVETTA)



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