|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CIDADE EM MUTAÇÃO 3
Para arquitetos, cidade pode se reorganizar melhor com mudanças econômicas
Serviços elevam qualidade de vida
da Reportagem Local
São Paulo pode se tornar um lugar melhor para viver se a cidade
souber aproveitar o crescimento
do setor de serviços para reorganizar de uma maneira melhor a ocupação de seu espaço urbano.
A cidade, no entanto, não tem
conseguido tirar proveito do caos
instalado pela mudança de sua base econômica para criar um ambiente urbano mais agradável.
Essa é a opinião, em linhas gerais, da maioria dos arquitetos e
urbanistas ouvidos pela Folha.
"Essa transformação (econômica) pode ser benéfica para a cidade", disse o urbanista Paulo Bastos, professor de arquitetura da
Universidade Católica de Santos e
ex-presidente do Condephaat (órgão estadual de defesa do patrimônio histórico).
Com a liberação de muitas áreas
físicas antes ocupadas por indústrias, esses espaços temporariamente vagos poderiam ser convertidos para usos mais nobres
-transformados em áreas verdes
(parques) ou, no caso de prédios
fabris de valor histórico, restaurados e utilizados como centros de
cultura ou comércio.
"A cidade é dominada pela especulação imobiliária e predomina a
visão shopping center: demole tudo e faz um prédio novo", afirmou
Bastos. Para o arquiteto, a "classe
dominante" tem um nível muito
baixo para ter sensibilidade e entender a mudança.
Luiz Carlos Costa, professor da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, disse que a transformação
econômica da cidade se deu num
momento de exclusão social.
"As perspectivas de obter renda
e emprego hoje são pessimistas e
uma parcela de população continua excluída do consumo", afirmou Costa. "'Há problemas urbanos que não vão se resolver pelo
mercado, como a falta de habitação e de serviços básicos."
Para Raquel Rolnik, professora
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e ex-diretora de Planejamento na gestão
Luiza Erundina, o crescimento do
setor terciário da economia faz a
cidade ficar "mais misturada".
"Os serviços e comércio convivem melhor com a moradia do que
a indústria", afirmou Raquel. "Na
cidade industrial, há muita separação entre o espaço da moradia e o
do trabalho."
Teoricamente, disse a arquiteta,
numa cidade terciária, a necessidade de uso do carro é menor, pois
as pessoas podem morar mais perto do trabalho ou mesmo trabalhar
em casa. Isso, no entanto, ainda
não acontece em São Paulo.
"O problema é que São Paulo
ainda está organizada como cidade industrial e mesmo a lei de zoneamento é baseada na antiga cidade industrial, dificultando a
coexistência de moradia e comércio", afirmou Raquel.
O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, seção São Paulo, Pedro Cury, afirmou que a capital paulista "vai ser uma cidade
mundial".
"É óbvio que o Rio de Janeiro é
fisicamente mais bonito e Curitiba
é mais ecológica, mas a força da
economia de São Paulo vai fazer a
cidade ter um papel importante na
relação do Brasil com o mundo",
disse Cury.
(MARCOS PIVETTA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|