São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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ISAY WEINFELD

O que é melhor: beleza ou personalidade?

DA REPORTAGEM LOCAL

Não é preciso ser um esteta vitoriano para achar São Paulo um horror. Isay Weinfeld, 53, endossa o julgamento. "A coisa mais fácil do mundo numa cidade como São Paulo é fazer algo bonito", diz. Quem conhece a sua obra, que vai do Hotel Fasano ao Clube Chocolate, sabe que a frase não é um indicador de orgulho vão.
Ele diz que está interessado em tentar entender a cidade. Não quer propor novas obras: "O desastre é tão grande que não vale a pena adicionar mais nada".
Com a máquina fotográfica, ele circulou pelos Jardins (zona oeste), uma das regiões mais sofisticadas de São Paulo, e viu nas calçadas o seu eureca: as cerquinhas que os prédios usam para proteger árvores. "Foram essas pequenas obras caseiras, o cercadinho, a lixeira na calçada, as floreiras, que transformaram São Paulo nessa coisa que não se identifica, que é o avesso do avesso do avesso."
Weinfeld afirma que tudo é feio, mas não é padronizado.
"Será que tem sentido padronizar essas pequenas obras?" Quem espera um "sim", pode puxar a cadeira para esperar pela resposta: ele se recusa a responder. "A minha opinião não interessa. Quero fazer perguntas. Temos o direito de mexer nessas coisas? Será que isso não é a cara de São Paulo? O que você prefere: cidade bonita ou com personalidade?"
O arquiteto diz ter algumas pistas das razões pelas quais os cercadinhos de árvores, um mais inacreditável do que outro, pululam pela cidade sem critério algum. A primeira pista é a relação do paulistano com a natureza: a cidade é cortada por dois rios fétidos e ninguém se preocupa.
A segunda pista é o isolamento crescente do paulistano. "Cada um está voltado para o seu mundinho, por causa da violência, e o espaço público virou o que se vê."
A terceira pista aponta para os autores dessas pequenas obras. "Às vezes tenho a impressão de que a área mais nobre de São Paulo é uma cidade feita por síndicos. Eles fazem a lixeira, a cerquinha da árvore, a floreira. Tentam combinar a obra com o predinho que está atrás. Não há uma preocupação com a cidade." O horror, na visão de Weinfeld, seria a soma de boas intenções: "Ninguém faz essas coisas por mal".
Ele tem uma única obra pública -a praça da rua Amauri, premiada na Bienal de Arquitetura-, mas tem um pensamento claro sobre o espaço público: "Arquitetura pública tem de ser uma negociação com quem usa aquele espaço. Quando faço uma praça, não é para mostrar o que sei de arquitetura ou como sou bacana. Seria melhor que a arquitetura ficasse invisível", defende.
Não é à toa que o arquiteto predileto dele no momento é o japonês Yoshio Taniguchi, que criou a nova sede do Museu de Arte Moderna de Nova York, um defensor da idéia da invisibilidade.


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