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ISAY WEINFELD
O que é melhor: beleza ou personalidade?
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é preciso ser um esteta vitoriano para achar São Paulo um
horror. Isay Weinfeld, 53, endossa o julgamento. "A coisa mais fácil do mundo numa cidade como
São Paulo é fazer algo bonito",
diz. Quem conhece a sua obra,
que vai do Hotel Fasano ao Clube
Chocolate, sabe que a frase não é
um indicador de orgulho vão.
Ele diz que está interessado em
tentar entender a cidade. Não
quer propor novas obras: "O desastre é tão grande que não vale a
pena adicionar mais nada".
Com a máquina fotográfica, ele
circulou pelos Jardins (zona oeste), uma das regiões mais sofisticadas de São Paulo, e viu nas calçadas o seu eureca: as cerquinhas
que os prédios usam para proteger árvores. "Foram essas pequenas obras caseiras, o cercadinho, a
lixeira na calçada, as floreiras, que
transformaram São Paulo nessa
coisa que não se identifica, que é o
avesso do avesso do avesso."
Weinfeld afirma que tudo é feio,
mas não é padronizado.
"Será que tem sentido padronizar essas pequenas obras?" Quem
espera um "sim", pode puxar a
cadeira para esperar pela resposta: ele se recusa a responder. "A
minha opinião não interessa.
Quero fazer perguntas. Temos o
direito de mexer nessas coisas?
Será que isso não é a cara de São
Paulo? O que você prefere: cidade
bonita ou com personalidade?"
O arquiteto diz ter algumas pistas das razões pelas quais os cercadinhos de árvores, um mais
inacreditável do que outro, pululam pela cidade sem critério algum. A primeira pista é a relação
do paulistano com a natureza: a
cidade é cortada por dois rios fétidos e ninguém se preocupa.
A segunda pista é o isolamento
crescente do paulistano. "Cada
um está voltado para o seu mundinho, por causa da violência, e o
espaço público virou o que se vê."
A terceira pista aponta para os
autores dessas pequenas obras.
"Às vezes tenho a impressão de
que a área mais nobre de São Paulo é uma cidade feita por síndicos.
Eles fazem a lixeira, a cerquinha
da árvore, a floreira. Tentam combinar a obra com o predinho que
está atrás. Não há uma preocupação com a cidade." O horror, na
visão de Weinfeld, seria a soma de
boas intenções: "Ninguém faz essas coisas por mal".
Ele tem uma única obra pública
-a praça da rua Amauri, premiada na Bienal de Arquitetura-,
mas tem um pensamento claro
sobre o espaço público: "Arquitetura pública tem de ser uma negociação com quem usa aquele espaço. Quando faço uma praça,
não é para mostrar o que sei de arquitetura ou como sou bacana.
Seria melhor que a arquitetura ficasse invisível", defende.
Não é à toa que o arquiteto predileto dele no momento é o japonês Yoshio Taniguchi, que criou a
nova sede do Museu de Arte Moderna de Nova York, um defensor
da idéia da invisibilidade.
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