São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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PAULO MENDES

É a Emurb que deve cuidar do planejamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 77 anos, Paulo Mendes da Rocha tornou-se uma espécie de arquiteto tranqüilo: não quer confronto com ninguém. Muito menos com o prefeito José Serra (PSDB), a quem chama de amigo. Mendes da Rocha também não quer propor obra nenhuma para a cidade. "Não gosto de ditar regras. E essas entrevistas abordam questões de uma frivolidade além do suportável", assinala o autor de projetos como o Museu da Escultura e da nova Pinacoteca.
O que ele quer é defender a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), instituição criada em 1971 com a função de direcionar as intervenções em São Paulo: "A Emurb deveria administrar a cidade, mas está sendo desmontada. Ela não pode ser um cabide de empregos, não pode mudar a cada quatro anos. Você imaginou se mudassem a diretoria do Metrô a cada quatro anos? Teria trem andando de marcha a ré".
O Estado já fez uma ação semelhante, diz ele, quando o governador Orestes Quércia decidiu acabar com o Deop (Departamento Estadual de Obras Públicas), em 1988. O Deop ditava normas e padrões para obras públicas.
"Essas instituições são espaços de excelência, como o Hospital das Clínicas e a USP. Elas reúnem um conhecimento que você não encontra em outro lugar", diz. Sem instituições, segundo ele, o destino da cidade é o desastre. "Tem de construir instituições porque não há alternativa".
O desprestígio da Emurb decorre de uma confusão entre política e questões "eleitoreiras". "Transformar os problemas da cidade em bandeira política é degenerar a questão, é banalizar a gravidade." O arquiteto afirma que instituições como a Emurb deveriam gerenciar um programa urbano de longo prazo, que não fosse alterado a cada quatro anos.
"São Paulo não é um lugar para brincar de dizer onde deve ficar o rico e onde ficar o pobre. Por que a Caetano de Campos foi desativada no dia em que o metrô chegou na sua porta e o menino do arrabalde poderia estudar numa escola modelo? Por que a sede do governo mudou-se para o Morumbi? São políticas", diz.
Questionado sobre o plano da prefeitura de demolir trechos da área da Luz conhecida como "cracolândia", ele mede as palavras: "Só o governo aceitar repetir a vulgata "cracolândia" já é uma infâmia. Chamar de "cracolândia" é criar uma abstração. É como o Bush pensa o Iraque. Cada um inventa a sua "cracolândia" para poder bombardeá-la mais facilmente. É uma justificativa para um grande negócio imobiliário".
Ele frisa que não é uma crítica a Serra: "Não falo mal de nenhum prefeito. Já vi horrores demais e coisas maravilhosas demais".


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