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PAULO MENDES
É a Emurb que deve cuidar do planejamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 77 anos, Paulo Mendes da
Rocha tornou-se uma espécie de
arquiteto tranqüilo: não quer
confronto com ninguém. Muito
menos com o prefeito José Serra
(PSDB), a quem chama de amigo.
Mendes da Rocha também não
quer propor obra nenhuma para
a cidade. "Não gosto de ditar regras. E essas entrevistas abordam
questões de uma frivolidade além
do suportável", assinala o autor
de projetos como o Museu da Escultura e da nova Pinacoteca.
O que ele quer é defender a
Emurb (Empresa Municipal de
Urbanização), instituição criada
em 1971 com a função de direcionar as intervenções em São Paulo:
"A Emurb deveria administrar a
cidade, mas está sendo desmontada. Ela não pode ser um cabide de
empregos, não pode mudar a cada quatro anos. Você imaginou se
mudassem a diretoria do Metrô a
cada quatro anos? Teria trem andando de marcha a ré".
O Estado já fez uma ação semelhante, diz ele, quando o governador Orestes Quércia decidiu acabar com o Deop (Departamento
Estadual de Obras Públicas), em
1988. O Deop ditava normas e padrões para obras públicas.
"Essas instituições são espaços
de excelência, como o Hospital
das Clínicas e a USP. Elas reúnem
um conhecimento que você não
encontra em outro lugar", diz.
Sem instituições, segundo ele, o
destino da cidade é o desastre.
"Tem de construir instituições
porque não há alternativa".
O desprestígio da Emurb decorre de uma confusão entre política
e questões "eleitoreiras". "Transformar os problemas da cidade
em bandeira política é degenerar
a questão, é banalizar a gravidade." O arquiteto afirma que instituições como a Emurb deveriam
gerenciar um programa urbano
de longo prazo, que não fosse alterado a cada quatro anos.
"São Paulo não é um lugar para
brincar de dizer onde deve ficar o
rico e onde ficar o pobre. Por que
a Caetano de Campos foi desativada no dia em que o metrô chegou na sua porta e o menino do
arrabalde poderia estudar numa
escola modelo? Por que a sede do
governo mudou-se para o Morumbi? São políticas", diz.
Questionado sobre o plano da
prefeitura de demolir trechos da
área da Luz conhecida como "cracolândia", ele mede as palavras:
"Só o governo aceitar repetir a
vulgata "cracolândia" já é uma infâmia. Chamar de "cracolândia" é
criar uma abstração. É como o
Bush pensa o Iraque. Cada um inventa a sua "cracolândia" para
poder bombardeá-la mais facilmente. É uma justificativa para
um grande negócio imobiliário".
Ele frisa que não é uma crítica a
Serra: "Não falo mal de nenhum
prefeito. Já vi horrores demais e
coisas maravilhosas demais".
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