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Viva o Centro defende reformas e diz que valorizam a diversidade
Superintendente da ONG vê medida como positiva quando mostra a segmentação natural da cidade
Marco Antonio Ramos de Almeida diz que iniciativa privada "terá de esperar demais" se for aguardar a intervenção do setor público
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O superintendente da ONG
Viva o Centro, Marco Antonio
Ramos de Almeida, considera
legítimas as parcerias público-privadas para a reforma e revitalização de ruas da cidade. E
acha desejável que essas reformas tentem singularizar a rua,
como na Avanhandava, centro
de SP, onde foi instalada uma
fonte ao estilo italiano e colocado calçamento vermelho.
"Quando são ruas e quadras
que expressam a segmentação
natural da cidade, é até interessante essa caracterização. Isso
mostra a diversidade cultural
da metrópole", afirma.
A rua Avanhandava caracteriza-se pela concentração de
restaurantes "italianos". Outras PPPs já reformaram as
ruas Oscar Freire, Augusta, Benedito Andrade (em Pirituba) e
Amaury (em Pinheiros). As
avenidas Matteo Bei (São Mateus), Santa Catarina (Jabaquara) e Silva Bueno (Ipiranga)
têm reformas em andamento.
Ainda neste ano, contratos
de PPPs para as ruas Milton da
Rocha (Vila Maria) e Teodoro
Sampaio (Pinheiros) deverão
ser assinados. "Se a iniciativa
privada for esperar o poder público para fazer as melhorias
necessárias, terá de esperar demais", diz Ramos de Almeida.
FOLHA - Cinco ruas já passaram por
reformas a partir de PPPs. Prevê-se
mais quatro ainda neste ano. Por
que isso está acontecendo?
MARCO ANTONIO RAMOS DE ALMEIDA - A iniciativa privada percebeu que, se for esperar o poder público para fazer as melhorias necessárias, terá de esperar demais. De um lado existe escassez de recursos; de outro, áreas muito carentes, que
são prioritárias. Então a recuperação de áreas onde já existe
uma razoável estrutura, comércio e empresas de porte
acabará ficando em segundo
plano. A saída é os proprietários dos estabelecimentos se
disporem a pagar pelas melhorias -total ou parcialmente. É
isso o que está acontecendo.
FOLHA - Intervenções feitas ao sabor da iniciativa privada e por elas
custeadas. Não se corre o risco de
particularizar o espaço urbano, que
deveria ser de todos?
RAMOS DE ALMEIDA - Se intervenções como a da rua Avanhandava fossem feitas em um trecho
da avenida São João, ou da Paulista, trechos emblemáticos do
cosmopolitismo paulistano,
evidentemente não seria aceitável. Mas em algumas outras
áreas, muito específicas, você
cria uma certa diversidade interessante para a cidade. Ali [a
rua Avanhandava] é uma rua
muito pequenininha, curva, característica por seus restaurantes e bares -é até natural que
ela seja decorada com fontes e
motivos de inspiração italiana.
FOLHA - Mas e se na Boca do Lixo
os comerciantes resolvessem decorar a rua com estatuária erótica? Pode? Qual é o limite?
RAMOS DE ALMEIDA - Veja bem: o
projeto da rua Avanhandava foi
aprovado pela prefeitura. Qualquer projeto desses tem de passar pelo crivo de órgãos técnicos. Também é obrigatório que
receba apoio do comércio local
e dos moradores. É uma discussão que se resolve caso a caso.
FOLHA - Estamos inventando uma
fórmula de financiamento de reformas urbanas?
RAMOS DE ALMEIDA - Não. Na Liberdade, você tem uma série de
ruas com iluminação que imita
lanternas japonesas. Em Nova
York, Chinatown, o mesmo espírito. Eles têm ainda a rua dos
joalheiros, com decoração típica. Em Buenos Aires há a rua do
tango, o Caminito. Quando são
ruas e quadras que expressam a
segmentação natural da cidade,
é até interessante a caracterização, mostra a diversidade da
metrópole. É claro que não pode, não deve ser feito indiscriminadamente, mas como intervenção pontual é muito bom.
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