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Ernani Luz Jr. e a cura da dependência
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O médico Ernani Luz Júnior acreditava no que fazia,
cada vez que recebia uma
carta agradecendo pela "cura" -fosse do álcool, do cigarro, da cocaína. Pois foi um
dos primeiros psiquiatras
gaúchos a estudar a dependência e um pioneiro no tratamento da doença.
A carreira militar do pai
fez com que nascesse em Rio
Grande (RS) e morasse em
muitas cidades até os 15,
quando se fixou em Porto
Alegre. Formou-se em medicina e virou psiquiatra -o estágio com dependentes de
uma vila da periferia gaúcha
o marcaria por toda vida.
Costumava dizer que tratou daquelas pessoas "no
tempo em que alcoolismo
era visto como defeito de caráter, como uma falha moral
e não como doença". A impressão foi tamanha, diz a família, ao ver tanta desgraça,
que nunca mais bebeu uma
só gota de álcool.
Contratado no Hospital
São Pedro para chefiar a divisão de tóxicos, "não saiu da
área nunca mais". Ajudou a
fundar o corpo clínico da
unidade de dependência química do Hospital Mãe de
Deus e foi um dos diretores
mais ativos da Clínica do
Bem-Estar Mental.
Experiência que transcreveu em capítulos de mais de
dez livros sobre o tratamento
da dependência química
-área que defendeu como
presidente da Associação
Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.
Tinha três filhos e dois netos o homem apaixonado por
música clássica e barcos à vela, que morreu no dia 15, em
Porto Alegre, de infarto.
O livro de presenças do velório ganhou volume com
mensagens de gente agradecida. Chorando no ombro da
viúva, um escritor, sóbrio há
dez anos, não hesitou em dizer: "devo a vida a ele". Luz
faria 63 anos hoje.
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