São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Aos 75, USP tem mais alunos e menos produção científica

Especialistas apontam o aumento das matrículas como um dos motivos para a queda nas pesquisas realizadas

Média de trabalho por docente caiu 30,4% de 2003 a 2007; há 27,7% mais alunos de graduação

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A USP chega hoje aos 75 anos como a melhor universidade do país e com uma forte expansão em matrículas na graduação nos últimos anos. Por outro lado, há indicadores de produção de pesquisa em queda.
Segundo o anuário estatístico da instituição, o número de trabalhos científicos por docente vem caindo desde 2003. Era de 6,9 e chegou a 4,8 em 2007 (dado mais recente), uma redução de 30,4%.
O dado abrange atividades como publicações em revistas científicas e trabalhos em congressos. Ou seja, é um indicador amplo, que inclui as atividades nas diferentes áreas.
Pesquisadores apontam como um dos motivos para a queda na produção o crescimento das matrículas na graduação (27,7% nos últimos cinco anos), puxada principalmente pela criação da USP Leste, em 2005.
"O orçamento é finito. É preciso definir prioridades, tanto financeiras quanto de energia" afirma o ex-reitor Roberto Lobo, que preside um instituto de pesquisas sobre ensino superior. "Na pesquisa, a universidade atingiu um alto patamar e agora parece acomodada."
O presidente da Comissão de Planejamento da USP, Glaucius Oliva (grupo formado pela reitoria), afirmou que a queda "preocupa a universidade".
"Em parte é natural, pois os novos docentes demoram um tempo para se adaptar. Também há uma preocupação em publicar melhor. Mas isso não é a explicação toda. Talvez estejamos um pouco lenientes."
A redução no número de trabalhos por docente, porém, não foi uniforme. O Instituto de Física de São Carlos cresceu 20% em quatro anos -foram 17 trabalhos por professor.
A média na USP é de 4,8. Houve queda em unidades tradicionais, como as faculdades de Medicina (-68,7%) e de Direito (-78,7%) -especialistas ressalvam que a produção tem ritmos diferentes em cada área.
O total de trabalhos publicados também caiu -de 29,1 mil para 26,2 mil. O número de docentes cresceu 9,7%.
Por contrato, os professores com dedicação exclusiva (82,2% do total) são obrigados a fazer pesquisa, além das atividades de ensino. Os salários variam de R$ 3.000 a R$ 9.000.
Por outro lado, em indicadores mais focados, como o número de artigos na base ISI (que abrange 12 mil revistas científicas internacionais), há aumento de 55% de 2003 a 2007. Essa base abrange principalmente as ciências básicas (física e química, por exemplo).

Prioridades
A USP é cobrada, especialmente por movimentos sociais, a elevar a cobertura do ensino superior público no Estado (são 15% das matrículas, ante 85% do sistema privado).
Especialistas divergem sobre o papel da universidade na expansão na graduação. "A USP utilizaria melhor seus recursos se focasse na pesquisa, onde é líder. A massificação da graduação pode ser feita por instituições como as Fatecs", diz Lobo.
A USP recebe percentual fixo da arrecadação de impostos do Estado. A previsão neste ano é que o valor chegue a R$ 3 bilhões (duas vezes os orçamentos somados das secretarias de Cultura e Meio Ambiente).
"A questão é o que a USP pretende ser. Ela vem da tradição de formar profissionais de alto nível e da pesquisa e pós-graduação", diz Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e membro do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. "Ultimamente, tem incorporado característica de universidade de massa, o que é um erro."
Já o professor titular da USP Renato Janine Ribeiro, ex-diretor da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), defende a expansão. Para a sociedade, diz, a universidade é uma formadora de graduandos. "Se não aumentar sua graduação, há o risco de diminuir sua legitimidade política. Mas claro que não pode prejudicar a pesquisa."
Dois especialistas afirmaram que os dados presentes no anuário não são suficientes para concluir que há queda na produção da universidade.
Rogerio Meneghini, especialista em cienciometria (que estuda a produtividade em pesquisa), diz que o ideal é utilizar o número de trabalhos publicados na base ISI, "um dos sistemas mais confiáveis".
Ribeiro diz que a redução pode tanto indicar uma "preocupante queda na produção quanto um empenho em só considerar as publicações mais respeitadas da área".


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