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DANUZA LEÃO
De mal a pior
Os criminosos adultos recrutam os adolescentes e passam a eles a função
de cometer os crimes
DEPOIS DO horror que aconteceu nas vésperas do Carnaval, parecia que iríamos ter
alguns dias não de esquecimento,
mas de trégua, mas não; na noite de
segunda-feira, segundo o jornal "O
Globo", um empresário chinês foi
assaltado e baleado por três adolescentes; um fugiu. A primeira notícia,
publicada na terça-feira, dizia que os
dois presos tinham 11 e 12 anos; no
dia seguinte, que tinham 12 e 13.
Ora, 11 e 12, ou 12 e 13, são pré-adolescentes; são meninos, crianças.
Como tiveram acesso a essa arma? E
como, nas suas mentes ainda infantis, planejaram assaltar e atirar para
roubar um carro?
Com essa lei que protege os menores de 18 anos, os assaltos e violências serão, cada vez mais, cometidos
por eles. Bons profissionais do crime, maiores de idade, ensinarão a
eles como fazer, pois crianças dessa
idade não têm condições de descolar
uma arma, nem sabem como assaltar um adulto. O normal seria estarem jogando bolinhas de gude, e não
assaltando e atirando.
Tudo indica que estamos passando para outra fase; os criminosos
adultos recrutam os adolescentes e
passam a eles a função de cometer os
crimes. Não é em vão que, quando se
cruza um grupo de crianças de camisetona e descalças numa rua qualquer, se tem mais medo do que de
um bando de adultos com cara de assaltantes. As coisas estão mudando.
Os adolescentes não têm medo;
além da excitação da aventura, de
brincar de bandidos, já têm uma vida tão infeliz que a idéia de passar alguns anos numa fundação "do bem-estar do menor" não lhes causa o
menor medo. Vão comer tão mal
quanto, dormir tão mal quanto, e
conviver com outros adolescentes
que também cometeram crimes; na
hora do recreio cada um vai contar
seus malfeitos, o que será, para eles,
um assunto palpitante. Hora do recreio? E por acaso eles têm aulas? As
últimas declarações de Lula sobre a
diminuição da maioridade penal só
fazem estimular os jovens a se tornarem criminosos.
Não se sabe de quem ter mais medo, se do ladrão, se das crianças ou se
da polícia; aliás, não vamos esquecer
que vários policiais suspeitos de pertencerem a organizações criminosas foram eleitos deputados nas últimas eleições. Investigações levam
anos para serem concluídas, e quando isso acontece, o que é raro, ninguém vai para a cadeia.
Alguém conhece algum graúdo,
fora o juiz Lalau, que esteja preso
(prisão domiciliar, bem entendido)?
E onde anda seu cúmplice Luiz Estevão, que teve a prisão decretada há
poucos meses e nunca mais se falou
do assunto? Os jornais não podem
acompanhar os casos; não há espaço
para isso, já que a cada dia aparecem
novos escândalos.
O que impede uma pessoa de cometer um crime é o medo de ir para
a cadeia.
Mas quem dá um golpe (como o
dos Correios) sabe que dificilmente
vai ser apanhado, e mesmo denunciado pela imprensa sempre terá
amigos poderosos prontos a ajudar,
e tudo vai ficar por isso mesmo.
Houve um tempo em que eu acreditei na frase "o crime não compensa", mas hoje tenho minhas dúvidas.
Os maiores ladrões estão aí na boa,
"armando", e os que perderam parte
de seu patrimônio -seu banco, por
exemplo- estão esperando pacientemente, passeando de lancha, sabendo que vão acabar recebendo
uma indenização (quem tem bons
advogados não precisa nem de
Deus).
Eu não sei o que fazer, mas os políticos, já que se candidataram para
melhorar o país, esses têm a obrigação de fazer qualquer coisa, antes
que o caldo entorne.
Porque a população continua
crescendo numa velocidade espantosa, e em controle de natalidade
ninguém fala.
danuza.leao@uol.com.br
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