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Chefes querem ter governo como parceiro
DA SUCURSAL DO RIO
Duas propostas do chefe da
milícia do complexo de Palmeirinha soam como insólitas, tendo em vista a resistência oficial
ao fenômeno. Ele quer ter o poder público como principal parceiro para "melhorar a vida das
comunidades" onde atua e promete até legalizar os seus serviços de segurança, para evitar a
repressão.
"Gostaríamos de trabalhar
em conjunto com o governo. A
parte difícil já fizemos, que é
expulsar e dominar o tráfico,
acabar com roubos, assaltos.
Queremos auxílio para administrar as comunidades da forma que o governo determine."
O líder de milícia ainda quer
legalizar seus serviços e transformar as favelas em espécies
de condomínios fechados.
Criar e contratar empresa de
segurança privada, com guardas uniformizados, por intermédio da associação de moradores; regularizar o "GatoNet"
(TV a cabo com sinal furtado) e
a venda de gás e carvão.
Para ele, vale abrir mão de receitas livres de impostos em
troca de "tranqüilidade".
No mapa colorido de mais de
um metro, montado com fotos
de satélite do site Google Earth,
já estão marcados os quatro
pontos das futuras cancelas,
"abertas das 5h às 22h", conforme inscrição a caneta.
O secretário de Segurança
Pública do Rio, José Mariano
Beltrame, considera uma "bravata" a proposta do líder da milícia de legalizar seus serviços e
formar empresa de segurança
no local. "Ele não vai fazer isso,
porque terá de pagar impostos,
fundo de garantia, INSS e se estabelecer como empresário. É
até uma análise mais econômica. Mas se quiser, então faça!"
A exploração de atividades
como transporte irregular,
venda de gás e "GatoNet" é a
principal fonte de renda das
milícias. Normalmente, elas
herdam os negócios ilegais dos
traficantes. "Tudo o que dava
[dinheiro] para o tráfico passa a
vir para a gente. Mas a diferença para quem dá é monstruosa", disse o chefe da milícia do
complexo da Palmeirinha.
Segundo ele, o "GatoNet" é
uma importante receita. "Vamos formalizar pedido à Net
para legalizá-la, com custo popular para a comunidade."
A Net informou que tem projeto-piloto de TV por assinatura para 500 pessoas de baixa
renda, a R$ 15, em Vila Canoas,
São Conrado, no Rio, desde o
ano passado. Segundo sua assessoria de imprensa, a Net estuda caso a caso as demandas e
planeja expandir o projeto a
outras comunidades, caso seja
bem-sucedido. "É sinalização à
legalização de "gato"."
Na Vila das Canoas, há um
plano básico com canais abertos, um canal comunitário, um
educativo/cultural, um universitário, outros regionais não-codificados, TVs Senado, Justiça, Câmara, Canal Legislativo e
mais dois canais.
De acordo com o comandante da milícia do Piscinão de Ramos e Roquette Pinto, um policial civil, a tomada das comunidades pelo grupo tornou o local
um ponto de encontro e atrai
policiais nas horas de descanso.
"Hoje vêm muitos policiais
para o piscinão. Antes já morreram muitos aqui, três agentes
da PF, mais de dez PMs, quatro
civis. Aqui era incrível. Hoje,
tem mais de 50 policiais com a
família, pode vir ver no fim de
semana. Aqui virou "point"."
O policial, que diz não andar
armado, nega haver cobrança
de taxas aos moradores.
"Isso aqui não é milícia. Pode
entrevistar quem você quiser.
[Não cobro porque] Não é interessante, moro aqui, tenho satisfação nisso. Senão vou virar
bandido", disse. Ele disse que
não se vê ninguém fumando
maconha e nos bailes funk "você não vai ver orgia, menina pelada ou arma exposta".
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