São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Ensinando a voar Repetia, como se fosse mantra: "o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar"
O CEARENSE Expedito Resende, 66, conseguiu atrair a
atenção mundial ao inventar
um combustível para avião feito à
base de óleo de babaçu, atualmente
em testes avançados nos laboratórios da Boeing, acompanhados pela
Nasa, a agência espacial dos Estados
Unidos. Mudar o jeito como os
aviões voam, usando o chamado
"bioquerosene", não seria sua mais
importante descoberta. José Parente tinha 12 anos quando deixou um povoado nas proximidades de Sobral (CE), onde vivia, e mudou-se para Fortaleza. Era o caçula entre seus 28 irmãos, sustentados pelo pai agricultor. Fez o trajeto a pé, sozinho, alimentando-se com o que encontrava no caminho. Tinha dois projetos: obter um emprego e entrar numa escola. Matriculou-se para o período noturno de uma escola, mas, com o excesso de trabalho, acabou desistindo. Tentou por várias maneiras continuar estudando. Pediu ajuda a seu patrão e ouviu a seguinte frase: "Menino pobre não precisa de escola". Praticando, José Parente aprendeu as artes do comércio. Adulto, tornou-se empresário, casou, teve nove filhos, todos entraram na faculdade. Repetia algumas frases como se fossem mantras: "o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar" ou "a maior riqueza está dentro da cabeça" Nas conversas familiares, sempre vinham as histórias do menino de 12 anos, caminhando sozinho pelas estradas de terra, a frustração pela impossibilidade de estudar compensada pelas habilidades autodidatas. Já empresário próspero (depois teve um banco), José Parente tratou de ajudar aquela escola em que tentou, mas não conseguir estudar. Expedito cresceu ouvindo esses casos. "Ficou arraigada em todos nós aquela reverência pelo saber", conta Expedito. Essa reverência estava por trás de sua decisão de sair de casa para estudar, como tinha feito seu pai. "Só que, desta vez, sem desconforto", diz ele. Mudou-se para o Rio, onde se formou em engenharia química e, depois, aprimorou-se nos Estados Unidos e na Europa. Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos. Uma de suas criações foi a "vaca mecânica" para a produção de leite de soja, disseminada em centenas de cidades brasileiras. Testou motores com álcool, mas preferiu investigar melhor o poder de plantas como o babaçu. Em 1984, um Bandeirante, da Embraer, voou de São José dos Campos até Brasília, movido a bioquerosene, desenvolvido por Expedito -apesar do sucesso do vôo, o projeto foi arquivado pelos militares. Foram necessários mais 20 anos para que levassem a sério sua experiência, agora em apreciação pelos americanos -certamente seria impossível se o inventor não tivesse com um de seus professores um menino de 12 anos, andando a pé pelo interior do Nordeste, com o sonho de aprender. PS - O caso de José Parente mostra os caminhos para se evitar a marginalidade, gerando inventores e não criminosos -envolvimento familiar na vida dos filhos, culto ao empreendedorismo e reverência ao aprendizado. Nosso problema não é de maioridade penal, mas a de menoridade dos adultos. Texto Anterior: Curso na USP: Medicina dá aulas de emergências clínicas Próximo Texto: Bingos de SP viram mais uma opção de balada e de paquera Índice |
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