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Resgate de cisne mobiliza frequentadores de parque
Cisne fêmea driblou todas as tentativas feitas para capturá-lo; refugiou-se no meio do ex-lago, em poças recheadas de peixes mortos
Centenas de pessoas acompanharam a tentativa de tirar ave da lama no ex-lago da Aclimação
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O macho e a fêmea de cisne
negro nadavam juntos no momento em que o fundo do lago
da Aclimação abriu-se e 78 milhões de litros d'água começaram a desabar em um redemoinho cujo vórtex apontava para
o córrego da Pedra Azul, que
deságua no Tamanduateí, que
deságua no Tietê.
Ralo adentro rolaram peixes,
tartarugas e, muitos frequentadores do parque da Aclimação
juram tê-lo visto, aves aquáticas. Quando quase todo o lago
já tinha sido sugado, e apenas
uma fina lâmina d'água restava
recobrindo o fundo, milhares
de peixes pulavam desesperados, tentando sair do atoleiro.
No meio da confusão, os dois
cisnes assistiam a tudo, pescoços colados. "Eles estavam como que hipnotizados. Nem tentavam fugir", lembrava ontem
Romilda Queiroz, 67, professora aposentada, chorando os
acontecimentos da véspera.
Ontem, o casal de cisnes separou-se. O macho foi capturado ao se aproximar da margem
do lago. Enviaram-no para o Viveiro Manequinho Lopes, no
parque Ibirapuera, local que recebeu as aves flageladas (patos,
marrecos, gansos, além do cisne). Faltou uma.
O cisne fêmea driblou todas
as tentativas feitas até as 18h de
ontem para capturá-lo. Refugiou-se no meio do ex-lago, cercado por poças d'água agora recheadas de peixes mortos
-cascudos, tilápias, carpas coloridas, carpas-de-espelho e até
mussuns, espécimes de corpo
cilíndrico, parecidos com enguias ou moreias.
Resgate
"O cisne está atolado." Ninguém sabia se estava, mas a fêmea, parada por horas no meio
do pântano, indicava isso, e o
murmúrio espalhou-se.
Frequentadores do parque
exigiam que a polícia fizesse
um resgate da ave à la Rambo
-helicóptero em voo estacionário, um Rambo descendo de
rapel até o animal.
A saída foi cogitada porque,
antes, alguns voluntários e
guardas civis metropolitanos já
haviam tentado alcançar a fêmea -andando. Afundaram na
lama. O lago converteu-se em
armadilha movediça. Ir de barco também não dava, não havia
água suficiente -encalhava.
Foi quando apareceu Edmir
Rabello, radialista "patriota e
voluntário" na autodefinição.
Chapéu camuflado de pescador, bermudas, botas de mergulhador e uma boia imensa
feita com câmara de pneu de
caminhão, ele parecia um aqualouco, mas tinha uma ideia na
cabeça: ser conduzido por cordas -de boia- até o cisne, e assim capturá-lo.
Por volta das 15h, as centenas
de pessoas que assistiam à agonia do bicho soltaram um
óóóóóó uníssono. A ave tinha
se movido. Foram poucos centímetros, mas ok. Ela não estava atolada.
A estratégia mudou. Esticou-se uma corda de uma margem à
outra do lago. Homens em joggings limpinhos, frequentadores do parque, ofereciam-se para ajudar a agitar a corda, de
modo a "arrastar" a ave até a
margem coalhada de lixo urbano -pneus velhos, sapatos, garrafas, e latinhas que apareceram depois que a água baixou.
O "arrastão" na lama envolveu até quem achava a estratégia bizarra, como o músico Luís
Guilherme de Mattos, 28, guitarrista e violonista, que terminou imundo e com as mãos lanhadas. "Achei um pouco rústico demais. Mas eu senti que devia ajudar, e fui."
Até que funcionou e o bicho
foi bonitinho para a margem. O
que ninguém sabia, porque
paulistano que é bom não sabe
nada de natureza, é que os cisnes são exímios voadores.
Quando o homem com a rede
se aproximou da ave, ela abriu
as asas imensas (aí se viram as
pontas brancas) e voou, linda,
de volta para o meio do lago
sem água. Os espectadores, até
ali calados, irromperam em
aplausos e gritos de alegria.
Quietinha, a funcionária que
cuida dos banheiros do parque
há 14 anos, Agustia Maria, 37,
picava bem miudinho um pão
francês. "Deixa essa confusão
parar. Daqui a pouco ela vem
comer na minha mão, como
vem todos os dias."
A Secretaria Municipal do
Verde e do Meio Ambiente, responsável pela administração do
parque da Aclimação, não sabia
informar ontem à noite se,
quando ou como será feita nova
tentativa de resgate da ave. A
noite passada ela passou sozinha no lago sem água.
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