Proprietário de lotérica afirma que houve "falha humana" e admitiu que dados de bolão não foram repassados à Caixa

Sem o registro, Caixa não reconhece os ganhadores no RS; dono diz que ele e o pai da funcionária que cometeu o erro também apostaram

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NOVO HAMBURGO

O dono da lotérica de Novo Hamburgo (RS) onde saiu um bolão premiado da Mega-Sena admitiu à polícia que o jogo não foi registrado no sistema da Caixa Econômica Federal.
Em depoimento, José Paulo Abend, 49, culpou uma funcionária por esquecer de registrar o bolão e afirmou que, se a aposta tivesse sido feita, ele e o pai dela também estariam milionários -os dois participavam do bolão, disse.
"Foi uma falha humana, o problema foi com essa guria responsável por passar jogos e ela simplesmente esqueceu", afirmou, ao deixar a delegacia, onde deu depoimento por cerca de 80 minutos.
"Estou me sentindo envergonhado e lesado. Sou uma das vítimas, poderia estar com o dinheiro [de parte do prêmio] e minha lotérica, famosa. [Agora] vou ser processado e minha lotérica está fechada."
Três bolões não foram registrados, disse ele. O nome da funcionária não foi divulgado.
Apesar das declarações de Abend, a polícia vai apurar outros bolões feitos anteriormente aos de sábado. A suspeita é que a lotérica recolhia dinheiro de apostadores e não registrava as apostas na Caixa.
O delegado Clóvis Nei da Silva, que chefia a investigação, vai ouvir os funcionários da lotérica até amanhã.
No final da tarde de ontem, o delegado, Abend e seus advogados estiveram no local para recolher documentos que deverão ser analisados no inquérito.
A Caixa suspendeu a licença de funcionamento da lotérica Esquina da Sorte até a conclusão do caso na polícia.

Estelionato
O dono da casa lotérica é suspeito de estelionato. Em um dos bolões, vendido a 35 apostadores por R$ 11 cada cota, estava a combinação de números ganhadora do prêmio de R$ 53 milhões. Como a aposta não foi registrada, a Caixa não irá pagá-lo. No sorteio de ontem à noite, o prêmio acumulou novamente. A premiação do próximo concurso, no sábado, será de R$ 70 milhões.
Conforme a versão do empresário, a lotérica comprava de uma gráfica cartelas e os volantes das apostas já previamente marcados.
O procedimento normal e que foi quebrado pelo "esquecimento", de acordo com ele, consistia no lançamento das apostas no sistema de controle da Caixa antes de iniciar a venda de cada cartela do bolão. O empresário afirmou que foi a primeira vez que apostas deixaram de ser registradas.
Quando Abend chegou para depor no saguão da delegacia, ele encontrou apostadores lesados que deixavam o local após formalizar queixa. Ele e as vítimas não se falaram.
Desde segunda-feira, 25 pessoas registraram queixa contra a casa lotérica e a Caixa -20 deles já prestaram depoimento.


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