São Paulo, domingo, 25 de março de 2001

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SEGURANÇA

Prefeitos de 39 municípios do Estado se reunirão a cada três meses para definir estratégias de combate à violência

Cidades de SP vão se unir contra o crime

Dado Galdieri/Folha Imagem
Eduardo Capobianco, presidente da ONG que quer unir prefeitos do Estado contra a criminalidade


DA REPORTAGEM LOCAL

Prefeitos da Grande São Paulo vão formar uma "frente antiviolência", pela primeira vez, para discutir medidas e articulações com outras esferas de governo para o combate ao crime.
O primeiro encontro está marcado para o próximo dia 29, na abertura do Fórum Metropolitano de Segurança Pública. Daí em diante, a cada três meses, eles devem se reunir para traçar metas e avaliar o que foi feito.
A frente é resultado de um trabalho de aproximação do Instituto São Paulo Contra a Violência -uma organização não-governamental mantida com a colaboração de empresários.
Segundo o instituto, 37 dos 39 municípios convidados confirmaram a participação até ontem. Cotia e Biritiba-Mirim ainda não haviam definido a presença. Nos municípios convidados estão 17,8 milhões de pessoas -a metade da população do Estado.
"Os prefeitos, até hoje, ficaram de fora dessa discussão sobre segurança", afirma o empresário Eduardo Ribeiro Capobianco, 49, presidente do instituto.
Para ele, as causas da violência podem ser divididas em quatro grupos: eficiência da polícia, bom funcionamento do Judiciário e do sistema prisional, mais questões sócio-econômico-culturais.
"Essas causas trabalham de forma integrada, formando um círculo vicioso, sendo que uma provoca um impacto na outra, fazendo com que aumente a violência."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida por Capobianco à Folha:

Folha - O que o fórum deve fazer?
Eduardo Ribeiro Capobianco -
O fórum tem como objetivo envolver os prefeitos, que são pessoas fundamentais na ação preventiva contra a violência. Sabemos que a epidemia do crime acontece principalmente nas cidades, em especial nas metrópoles, e que o problema sócio-econômico-cultural está ligado a problemas regionais. Se você pegar um mapa da Grande São Paulo, encontrará situações extremamente diversas em relação ao tipo e número de crimes em cada região. Os problemas locais direcionam a violência.

Folha - E por que a escolha de toda a Grande São Paulo e não um grupo menor com a capital?
Capobianco -
Essas cidades representam quase a metade da população do Estado. Sabemos que o problema da violência não está circunscrito a um ponto ou outro. Existe migração. Um criminoso que mora em uma cidade da região metropolitana, pode atuar em outro município. Não existe fronteira que delimite a atuação do criminoso. Há uma integração muito grande entre todas as cidades que compõem a região metropolitana. A idéia, com o fórum, é que as experiências bem sucedidas sejam copiadas.

Folha - Como estará organizado esse fórum?
Capobianco -
Os prefeitos irão dirigir, alternando entre eles a coordenação. A primeira reunião eu vou coordenar até o final. Depois, passo a bola para um prefeito, que irá assumir o cargo de coordenador-geral. Como as reuniões serão trimestrais, ele irá dirigir o fórum nesses três meses, incluindo a reunião seguinte. Teremos ainda a instalação de alguns grupos de trabalho, também dirigidos por prefeitos. Esse é o desenho que imaginamos para evitar que haja uma centralização política muito forte nas mãos de um prefeito.

Folha - A segurança deverá estar entre as principais bandeiras das próximas eleições. Como se pretende evitar disputas internas?
Capobianco -
Estruturamos o fórum de tal forma que se tira a questão partidária e, por meio do rodízio da sua direção, torna-se algo que é dos prefeitos e não de um prefeito só. Dessa forma, a questão político-partidária está sendo diluída ao máximo. O combate à violência, que é uma coisa seriíssima, exige desprendimento e doação. Tenho certeza de que os prefeitos que mais estiverem se dedicando ao fórum terão o reconhecimento adequado para que isso traga a eles os ganhos políticos necessários.

Folha - Como ficam os outros responsáveis por combater a violência, como o governo do Estado, o Judiciário e o Legislativo?
Capobianco -
As três instâncias de poder devem participar. Na montagem do fórum, como implicaria a inclusão de uma série de câmaras municipais e para não levar muito para o caráter político-partidário, deixamos de incluir o Legislativo. Estamos fazendo um trabalho agora específico com os prefeitos, com o governo do Estado e com o governo federal. Com certeza, os projetos que serão desenvolvidos no fórum irão incluir o Legislativo e o Judiciário, porque, caso contrário, não conseguiremos fazer tudo o que queremos contra a violência.

Folha - E como será feita a ligação do fórum com a população?
Capobianco -
O Instituto São Paulo Contra a Violência é a sociedade civil organizada. Fazem parte dele uma grande quantidade de entidades empresarias, as principais do Estado. A universidade também está junto. Estaremos ligando uma série de projetos, definidos no fórum, com organizações da sociedade.

Folha - Como assim?
Capobianco -
Vamos supor que seja definida a necessidade de intervir em uma região de alto risco social, com elevados índices de criminalidade. Isso exige uma articulação da polícia com a prefeitura: a polícia desmobiliza as quadrilhas para que a prefeitura possa fazer seu trabalho social. É evidente que essa atuação na área social irá depender do apoio de uma série de ONGs. O fórum irá criar a possibilidade de uma articulação entre o governo do Estado, por meio da polícia atuando e limpando a área do domínio das quadrilhas, e a prefeitura, em conjunto com a sociedade civil.

Folha - Qual será o papel do instituto no fórum?
Capobianco -
O instituto dará suporte técnico e fará todo o trabalho de administração. A gestão política fica nas mãos dos prefeitos. Eles é que vão entrar em cena, com uma função que até hoje não foi assumida de forma firme.

Folha - Muito do que se planeja para segurança pública é a longo prazo. Troca-se o governo, mudam-se as prioridades. Como se pretende evitar que isso ocorra?
Capobianco -
Quanto mais a sociedade participar desse processo, mais se cria uma cultura de entendimento em torno do que é a violência e fica muito mais difícil desmobilizar o que está sendo feito.

Folha - Como o fórum irá divulgar o conteúdo do que for debatido?
Capobianco -
Além da ajuda da imprensa, vamos criar um portal na Internet. A idéia é transformá-lo em um centro de combate à violência, permitindo que informações que hoje estão disseminadas pela sociedade, não de forma fácil para o cidadão, sejam disponibilizadas. Dessa maneira, estaremos criando caminhos para que o cidadão que quiser ajudar tenha possibilidade de atuar.

Folha - O instituto já definiu quais serão os grupos de trabalho dentro do fórum?
Capobianco -
Sim. O primeiro deles irá discutir a questão do papel das guardas municipais, como complementação ao trabalho da Polícia Militar. Vários prefeitos criaram guardas municipais, só que não existe hoje, por incrível que pareça, uma clara definição do seu papel. Essas guardas, às vezes, são muito caras e apresentam poucos resultados efetivos.

Folha - E os outros grupos?
Capobianco -
Um outro grupo está ligado ao desenvolvimento do Infocrim (banco de dados de informações criminais, em uso na cidade de São Paulo). Esse sistema mapeia ocorrências criminais e permite ver, em cada cidade, em qual local ocorrem os crimes. Isso pode orientar os trabalhos preventivos das prefeituras, como os de iluminação e até colocação de circuitos de TV.

Folha - O Disque-Denúncia também está na discussão?
Capobianco -
Teremos um grupo específico para debater a sua implantação de forma definitiva em toda a região metropolitana, principalmente nas áreas mais carentes. É esse tipo de população que mais sofre com a ausência de um disque-denúncia. Eles sabem o que está acontecendo onde moram, mas estão longe da polícia.

Folha - Já se pensa em meios para divulgar melhor os números do Disque-Denúncia?
Capobianco -
Nós queremos colocá-lo em todos os ônibus, em todos os orelhões e no metrô. O governo estadual, pelas conversas iniciais, já disse que autoriza a colocação nas estações do metrô. Vamos discutir agora a criação de uma legislação municipal que vá nesse caminho. No Rio de Janeiro, o número do Disque-Denúncia de lá aparece em todos os ônibus.

Folha - O interior do Estado também pode ser incluído nessa mobilização?
Capobianco -
Já tivemos pedidos do interior, tanto sobre o fórum quanto o Disque-Denúncia. Estamos conversando com empresários de Ribeirão Preto.


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