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ABORTO
Projeto de lei que permite que o SUS atue nos casos de interrupção de gravidez espera há dez anos por votação dos parlamentares
Livro mostra ação da CNBB no Congresso
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três anos atrás, uma organização feminista fez uma pesquisa no
Congresso Nacional sobre o aborto. Pelos dados recolhidos, 87,2%
dos parlamentares disseram ser
favoráveis a uma legislação que
obrigue a rede pública a realizar o
aborto nos casos previstos em lei.
Cerca de 64% foram mais longe:
disseram ser favoráveis à ampliação dos motivos legais para a interrupção da gravidez.
Na hora de votar, no entanto, os
parlamentares se revelam conservadores: um projeto de lei, o PL
20/91, apresentado na Câmara
uma década atrás, ainda não entrou para votação.
O projeto, de autoria dos deputados petistas Eduardo Jorge e
Sandra Starling, apenas obriga o
SUS (Sistema Único de Saúde) a
incluir em seus serviços os abortos permitidos por lei. Para o Código Penal de 1940, o aborto só
não é crime quando a gravidez é
causada por estupro ou quando a
mãe corre risco de vida (leia o texto na página 7).
Entre a maioria que na pesquisa
do Cfemea (Centro Feminista de
Estudos e Assessoria) quer que o
SUS realize os abortos legais e a
maioria que impede a votação do
projeto que trata do tema, estaria
uma força maior, a da Igreja Católica, cujo lobby junto aos deputados tem sido constante.
A forma como se organiza e
atua essa ação está descrita na publicação "Aborto Legal, Igreja Católica e o Congresso Nacional",
lançado na semana passado pela
ONG Católicas pelo Direito de
Decidir (CDD).
Para o porta-voz da Cúria Metropolitana, "a preocupação da
Igreja é atuar na defesa da vida".
A autora, a socióloga Myriam
Aldana Santin, tomou como objeto da pesquisa a tramitação do
projeto de lei 20/91. "O intuito é
contribuir para uma melhor compreensão da atuação da Igreja Católica no Congresso", diz a introdução do trabalho.
A escolha do PL 20/91 é ilustrativa, porque mostra as forças que
levam parlamentares a "se contraporem a legislações que favorecem a vida da mulher", afirma a
socióloga Maria José Rosado,
coordenadora do CDD.
Myriam traça um perfil do chamado Grupo Parlamentar Católico, o GPC, que na legislatura anterior tinha 57 deputados e 11 senadores e teria agora 114 deputados
e 17 senadores.
Os próprios membros do GPC
relatam como são arregimentados: no início de cada legislatura,
os integrantes antigos identificam
aqueles que se apresentam como
católicos e enviam a cada um uma
correspondência, explicando como atua o grupo.
"Deixamos claro que a pastoral
parlamentar católica não é bloco
(...), não discutimos as divergências, mas as convergências em
torno do Cristo...", diz um deputado. "O objetivo é partilhar, rezar
junto...", afirma outro. Nos depoimentos, vários deputados pediram para não ser identificados.
O grupo se reúne uma vez por
mês, no café da manhã, e às vezes
promove encontros de reflexão.
Oficialmente, o GPC não é ligado à igreja, mas "seus membros,
subdivididos em grupos, buscam
ou são buscados por algum setor
da igreja que lhes pede apoio ou
assessoria nos momentos de votação", escreve a autora.
"A maioria das nossas reuniões
contou com a presença do representante da CNBB, mas não somos organizados por ela", diz um
deputado ouvido no livro, citando a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil. A publicação
aponta o GPC como grupo suprapartidário, com deputados do
PSDB, PFL, PMDB, PTB e PT. As
mulheres representam 10,5%.
Informações sobre o livro e a ONG Católicas pelo Direito de Decidir pelo telefone
0/XX/11/3107-9038
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