São Paulo, domingo, 25 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ABORTO

Projeto de lei que permite que o SUS atue nos casos de interrupção de gravidez espera há dez anos por votação dos parlamentares

Livro mostra ação da CNBB no Congresso

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Três anos atrás, uma organização feminista fez uma pesquisa no Congresso Nacional sobre o aborto. Pelos dados recolhidos, 87,2% dos parlamentares disseram ser favoráveis a uma legislação que obrigue a rede pública a realizar o aborto nos casos previstos em lei.
Cerca de 64% foram mais longe: disseram ser favoráveis à ampliação dos motivos legais para a interrupção da gravidez.
Na hora de votar, no entanto, os parlamentares se revelam conservadores: um projeto de lei, o PL 20/91, apresentado na Câmara uma década atrás, ainda não entrou para votação.
O projeto, de autoria dos deputados petistas Eduardo Jorge e Sandra Starling, apenas obriga o SUS (Sistema Único de Saúde) a incluir em seus serviços os abortos permitidos por lei. Para o Código Penal de 1940, o aborto só não é crime quando a gravidez é causada por estupro ou quando a mãe corre risco de vida (leia o texto na página 7).
Entre a maioria que na pesquisa do Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) quer que o SUS realize os abortos legais e a maioria que impede a votação do projeto que trata do tema, estaria uma força maior, a da Igreja Católica, cujo lobby junto aos deputados tem sido constante.
A forma como se organiza e atua essa ação está descrita na publicação "Aborto Legal, Igreja Católica e o Congresso Nacional", lançado na semana passado pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir (CDD).
Para o porta-voz da Cúria Metropolitana, "a preocupação da Igreja é atuar na defesa da vida".
A autora, a socióloga Myriam Aldana Santin, tomou como objeto da pesquisa a tramitação do projeto de lei 20/91. "O intuito é contribuir para uma melhor compreensão da atuação da Igreja Católica no Congresso", diz a introdução do trabalho.
A escolha do PL 20/91 é ilustrativa, porque mostra as forças que levam parlamentares a "se contraporem a legislações que favorecem a vida da mulher", afirma a socióloga Maria José Rosado, coordenadora do CDD.
Myriam traça um perfil do chamado Grupo Parlamentar Católico, o GPC, que na legislatura anterior tinha 57 deputados e 11 senadores e teria agora 114 deputados e 17 senadores.
Os próprios membros do GPC relatam como são arregimentados: no início de cada legislatura, os integrantes antigos identificam aqueles que se apresentam como católicos e enviam a cada um uma correspondência, explicando como atua o grupo.
"Deixamos claro que a pastoral parlamentar católica não é bloco (...), não discutimos as divergências, mas as convergências em torno do Cristo...", diz um deputado. "O objetivo é partilhar, rezar junto...", afirma outro. Nos depoimentos, vários deputados pediram para não ser identificados.
O grupo se reúne uma vez por mês, no café da manhã, e às vezes promove encontros de reflexão.
Oficialmente, o GPC não é ligado à igreja, mas "seus membros, subdivididos em grupos, buscam ou são buscados por algum setor da igreja que lhes pede apoio ou assessoria nos momentos de votação", escreve a autora.
"A maioria das nossas reuniões contou com a presença do representante da CNBB, mas não somos organizados por ela", diz um deputado ouvido no livro, citando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A publicação aponta o GPC como grupo suprapartidário, com deputados do PSDB, PFL, PMDB, PTB e PT. As mulheres representam 10,5%.


Informações sobre o livro e a ONG Católicas pelo Direito de Decidir pelo telefone 0/XX/11/3107-9038


Texto Anterior: "Polícia Florestal deve agir mais energicamente"
Próximo Texto: "Em defesa da vida, a igreja sempre fará tudo"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.