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EXÉRCITO
Procurador diz não estar sujeito à Justiça Militar
Cresce divergência entre militares e Procuradoria sobre investigações
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O Exército e o Ministério Público Federal acirraram ontem as divergências sobre a apuração de
eventual violência da corporação
em ação em morro do Rio.
O Exército sugere que o MPF ignora informação de que traficantes pressionaram moradores, e o
procurador da República Fábio
Aragão disse que a instituição
tende a não obedecer ao Superior
Tribunal Militar caso seja determinada a interrupção das investigações sobre supostas violações
aos direitos humanos por militares no morro da Providência. Ele
alega que a Justiça Militar não tem
ingerência sobre o MPF.
"Nós não estamos sujeitos à Justiça Militar. A ordem, ainda que
venha, é inexistente. Juridicamente, a Justiça Militar não pode dar
liminar para trancar as investigações", afirmou o procurador.
Para Aragão, o STF (Supremo
Tribunal Federal) poderá ser
acionado caso a Justiça Militar
tente bloquear a atuação do MPF.
Intimado a depor no inquérito
civil público que apura o que
aconteceu na ocupação da Providência por oito dias pelas tropas
do CML (Comando Militar do
Leste), o general Domingos Curado recorreu à Justiça Militar para
interromper as investigações.
Ele também pediu liminar para
não ser interrogado, anteontem,
pelos procuradores Fábio Aragão
e Vinícius Panetto, sob a alegação
de que os fatos que levaram o
Exército ao morro -o roubo de
11 armas de um quartel- ameaçam a segurança nacional.
A liminar foi concedida pelo almirante-de-esquadra Rayder
Alencar da Silveira, ministro do
tribunal. Até ontem, Silveira não
se manifestara sobre o pedido para suspender as investigações.
Aragão lamentou que o general
não tenha explicado no habeas
corpus levado ao Superior Tribunal Militar as razões de requerer
judicialmente o fim da investigação. "É um fato estranho demais.
Qual o receio de que se apure?"
A entrada do MPF no caso foi
motivada por queixas de moradores da favela de que militares estavam praticando espancamentos,
ameaças e invasões, além de atirarem a esmo na comunidade. Um
dos tiros teria causado a morte do
estudante Eduardo dos Santos, 16.
Caso concluam que houve a violação, será aberta uma ação civil
pública contra os comandantes
da operação.
Em nota, o Exército criticou ontem a atuação do MPF, citando
manifestação do Ministério Público Militar, que participa das investigações sobre o roubo das armas: "os procuradores da República tomam como verdade absoluta as declarações de moradores", não considerando "a possibilidade de muitos desses testemunhos estarem contaminados
por pressões de traficantes".
O Exército reafirma que as recentes ações realizadas em favelas
do Rio "foram pautadas pelo estrito respeito à lei e aos direitos
humanos".
"O comandante militar do Leste
[general Domingos Curado] não
praticou qualquer ato ilícito, apenas cumpriu diligências, autorizadas pela autoridade judiciária
militar", diz a nota do Centro de
Comunicação Social do Exército.
A nota não comenta o pedido
do general Curado para que a Justiça Militar interrompa as investigações da Procuradoria da República a esse respeito. Diz apenas
que ele obteve uma liminar para
não depor no inquérito civil público aberto pelos procuradores.
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