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Mulheres mais ricas da corte desfilam chanéis em butique
Festa de loja multigrife em Brasília reúne 1.500 personalidades da alta roda
Nova sede de 3 andares e 1.500 m2 da Magrella, considerada a Daslu do Distrito Federal, tem bar, champanheria, bistrô e café
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Como retrato de uma época,
a festa de inauguração do novo
prédio da butique Magrella, a
Daslu de Brasília, dá de dez a
zero em "Maria Antonieta", o
filme de Sofia Coppola que ganhou o Oscar de figurino.
A festa, realizada na terça-feira, não pode ser encarada como excentricidade de cineasta
ou visão particular de um artista: aquilo é vida real.
Sem constrangimento de declarar, peça por peça, as grifes
que estão usando, as mulheres
mais ricas da corte desfilam
seus chaneizinhos pelos 1.500
metros quadrados do prédio de
três andares, bar, bistrô, champanheria, café, tudo muito
clean, e gargalham descontroladamente entre um canapé e
um grito de "Olá, querida!".
Uma senhora cinqüentona, a
boca repuxada mais para o lado
esquerdo, cabelos longos como
os de uma menina de 12 e um
minivestido balonê colorido,
explica que não é difícil adivinhar quem assina seu brinco
composto por duas coruscantes bolotas pingentes:
Olha só, diz ela, tem um C e
um D grandes: Christian Dior.
A Magrella existe há 35 anos
e tem esse nome porque sua dona, a empresária Cleuza Ferreira, 60, tinha 47 kg (para 1,60 m)
quando a inaugurou.
"Na época, as mulheres eram
mais encorpadas", lembra.
Cleuza gosta de dizer que
nasceu "simples", se desfez de
um Fusca para se capitalizar e,
no começo, vendia roupas "importadas" do Rio.
Seu primeiro negócio foi uma
franquia da então bombada butique carioca Company; depois
vieram lojas da Zoomp, Forum,
Le Lis Blanc e Armani, um total
de 11 -além da Magrella, a única (e poderosa) sobrevivente.
"Há três dias que eu só choro!", diz a empresária, para dimensionar sua felicidade.
"Chora sim, querida, chora
que você merece", diz a atriz
Marianne Vicenthini, mulher
do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda
(PD, antigo PFL).
Alguém ali ao lado solta um
"hum!" e diz que ela, Marianne,
sim, tem motivo para chorar de
verdade. Conta que leu em uma
notinha cifrada de jornal que
Arruda estaria para deixá-la
por uma amante.
A reportagem vai checar com
a primeira-dama.
"Que jornal? Daqui de Brasília?", quer saber Marianne, rindo muito, meio surpresa. "Está
tudo bem, tudo bem."
Um top, R$ 10.000
Tornada uma instituição na
cidade, Cleuza hoje trabalha
com marcas como D&G, Armani, Lanvin e Prada, além de ainda representar a Les Lis Blanc e
vender Reinaldo Lourenço,
Walter Rodrigues, Ricardo Almeida e mais de 30 estilistas
nacionais caros. Um modelo
exclusivo ali pode custar R$ 15
mil, mas, informa sua assessoria, a média é R$ 5.000.
Perto da champanheria, Tatiana Monteiro de Barros, representante da grife italiana La
Perla, conta que no Brasil só
existem três tops iguais ao que
ela está usando. "Um foi vendido em São Paulo [ela não diz o
nome da proprietária], o outro
está aqui na Magrella."
Quanto custa?
"Dez mil... Mas tem 3.500
cristais Swarovski!", justifica.
Lia Socha, braço direito de
Cleuza há 31 anos, explica que
existe um controle na venda
das peças duplicadas.
Em geral, Socha pergunta à
cliente em que festa ela pretende ir com a peça, para evitar o
fenômeno das "peruas gêmeas". Só vende um modelo
igual depois que a primeira
compradora usa o dela pela segunda vez.
"Também não dá para segurar a roupa pra sempre", diz Socha, que agora estendeu o controle ao Rio e a São Paulo.
Nada a temer
Apesar de não revelar os números de seu negócio, Cleuza
afirma ser "um exemplo de cidadã em dia com o fisco".
"Não tenho o que temer", ela
garante, quando alguém lembra o tombo da empresária
Eliana Tranchesi, dona da Daslu, acusada pela Receita Federal de fraude em importação,
formação de quadrilha e falsidade ideológica.
"Amo essa cidade. Você conhece outra igual?", pergunta
Cleuza em voz alta, como uma
atriz de teatro, enquanto sobe
mais um degrau da escadaria
que leva ao segundo andar. Um
casal chega perto, e ela diz,
olhando para a reportagem.
"Eles são milionários e vêm
aqui só pra me dar um abraço.
Não é fantástico?"
Entre os 1.500 convidados
estão a mulher do ministro
Nelson Jobim, Adriana; a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT); e Cristiane Constantino
Foresti, "filha do dono da Gol",
que está de Pucci e Gucci.
Uma lourinha aguada entra
no local com a mãe, e um dos
asseclas de Cleuza diz: "Essa
menina é um amor, linda, todo
mundo na cidade adora".
E quem é?
"Filha do embaixador da Suíça", responde outro convidado.
"Olha o jeitinho de modelo..."
"Não é da Suíça, é da Dinamarca", corrige a primeira.
No colo
O convidado famoso -local
ou nacional- ganha um grito
de boas vindas:
"Cleucy! Cleucyyyy!"
Cleucy é a festejada mulher
do empresário Luiz Estêvão de
Oliveira, que responde a processo por crimes de peculato,
estelionato, corrupção ativa e
passiva, uso de documentos falsos e formação de quadrilha.
Ela está com a filha Ilca, que
solta uns gritinhos agudos
quando avista algum conhecido. "Bruno, olha isso, tô sendo
entrevistada!"
Ourtro convidado importante chega. Cleuza exclama:
"Tufiii! Me carrega no colo!"
O dono da Forum abarca
Cleuza com os dois braços, enquanto cinco fotógrafos se
aproximam para registrar o
momento.
Tufi Duek chegou com Natalie Klein, filha do dono das Casas Bahia, que pegou um jato
particular emprestado e levou
de carona Adriane Galisteu e
respectivos assessores.
"A gente não enfrenta apagão
aéreo, porque sai do Campo de
Marte, mas de qualquer maneira precisa de autorização para
decolar. A vantagem é que você
voa a hora que quer, entende?",
explica Klein, dona da NK Store, em São Paulo, uma espécie
de "dasluzinha".
Galisteu conta que está ensaiando um espetáculo com Juca de Oliveira e Bibi Ferreira.
"O teatro é o alimento da alma,
é o ofício do ator, árduo, difícil",
diz a apresentadora, ajeitando
no braço a pulseira-releitura da
fita do Senhor do Bonfim, feita
em ouro e brilhantes.
Será que ela ficou triste com
a notícia do namoro de Deborah Secco com Roger, seu ex,
publicada por uma revista de
fofocas? "Imagina, a Deborah é
minha amiga. Gosto mais dela
do que dele", diz.
Em outro canto da sala, o
Amaury Jr. local entrevista Tatiana Mares Guia, sobrinha do
ministro. "Que noite emocionante! Obrigado pelo presente
que você nos deu, Cleuza!", diz
ela para a câmera.
Agora é a vez da socialite Vivianne Piquet: "A Cleuza é uma
mulher fantástica, que trabalhou muito para conseguir o
que tem, e venceu. É uma pessoa que eu acho chique não pela
maneira de vestir, mas pela atitude na vida..."
Cleuza Ferreira gosta de reforçar sua imagem de "mulher
de fibra".
"Tudo o que dizem é verdade:
fui deixada pelo meu marido,
sim, ele fugiu com outra, sim,
mas essa história de que me
deixou na miséria não existe.
Ele está aí, pela festa. É o pai
dos meus filhos...", ela diz.
Sem parar de rir, com uma
flûte de champanhe na mão,
Cleuza segue em frente.
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