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Rio demora 3 h para atender casos de dengue
Secretaria municipal da Saúde afirmou que a "política de portas abertas, a de não recusar pacientes" provocou a lotação
No Salgado Filho, sujeira e falta de estrutura complicam espera; mulher de 69 anos teve de sentar em ferro que deveria sustentar cadeira
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Somada às dores no corpo,
diarréia e manchas na pele, a
espera se tornou mais um "sintoma" da dengue nos hospitais
públicos no Rio -foram 48
mortes pela doença no Estado
neste ano. A demora, em média,
é de três horas nos principais
postos de atendimento.
A Folha acompanhou a fila
do Hospital Municipal Salgado
Filho, no Méier (zona norte do
Rio). Viu disputa por muros para acomodar as crianças -todas as cadeiras já estavam ocupadas-, desleixo pela limpeza
do local e a inusitada reunião
de dezenas de crianças na faixa
de 4 a 12 anos. Não havia brincadeiras -elas estavam abatidas pela doença.
A sala de espera tem ar-condicionado, o que abrandava o
clima quente e úmido de ontem na zona norte. No entanto,
faltavam cadeiras para os suspeitos de vítimas da dengue fazerem o que mandam os médicos: descansar.
A dona-de-casa Simone da
Silva, 35, apoiou por uma hora
e meia em seu colo a filha Lívia
Cristina, 4. "Consigo segurar
ela por um tempo, mas cansa
demais. Ela pesava 17 kg, mas
emagreceu quatro na última
semana por causa da doença".
A aposentada Almerinda Faria dos Santos, 69, conseguiu
sentar -não em uma cadeira,
mas sim no ferro onde deveria
existir uma. Deveria haver no
local 63 cadeiras, mas sete estavam apenas com a estrutura de
metal, sem o assento.
Por volta das 11h, sua neta,
Laila Faria da Silva, 8, com suspeita de dengue, passou mal e
vomitou no chão. Uma atendente foi até o local e chamou a
menina e sua mãe, Lindiara Faria da Silva, 35, para a enfermaria, onde Laila recebeu então
um medicamento.
Sem limpeza
Os dejetos permaneceram no
chão por 50 minutos. Após
meia hora, a reportagem da Folha questionou um segurança
da unidade sobre o motivo pelo
qual o local não havia sido limpo. "Você pediu? Eles não limpam não", disse Almerinda,
rindo. Só 20 minutos depois
um funcionário limpou a sujeira no local.
A aposentada Maria da Luz,
57, e seu neto Daniel Mesquita
dos Santos, 9, aguardavam havia três horas o atendimento
no posto. A expectativa deles
era que esperassem ainda mais
uma hora.
"Estou com muita fome. Saí
às 9h da escola e ainda não comi nada", disse o menino. Pouco tempo depois, os dois saíram do hospital. "Vamos procurar algo para comer, porque
ele está morrendo de fome",
disse Luz. Além de um ambulante vendendo biscoito de polvilho e pipoca, não havia alimentação no hospital.
"Se levar em consideração
que a dengue deixa a vítima debilitada, não ter água por perto
prejudica outra recomendação
médica: se reidratar e alimentar", afirmou o infectologista
da UFRJ, Edmilson Migowski.
"Se fossem competentes, as autoridades médicas poderiam
melhorar o quadro do paciente
com medidas simples na própria fila do hospital."
Portas abertas
Por meio de sua assessoria de
imprensa, a secretaria municipal de Saúde afirmou que a "política de portas abertas, ou seja,
de não recusar pacientes" provoca a "lotação máxima".
Recém-reformado, a demora
no Hospital Estadual Getúlio
Vargas também chegava a três
horas. No entanto, a Folha não
viu falta de assentos na recepção. Havia quatro horas, uma
paciente esperava por atendimento deitada sobre duas cadeiras. "É horrível ficar aqui
sem ter o que comer", disse Juliana Moreira Jaime, 25.
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