São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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Rio demora 3 h para atender casos de dengue

Secretaria municipal da Saúde afirmou que a "política de portas abertas, a de não recusar pacientes" provocou a lotação

No Salgado Filho, sujeira e falta de estrutura complicam espera; mulher de 69 anos teve de sentar em ferro que deveria sustentar cadeira

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Somada às dores no corpo, diarréia e manchas na pele, a espera se tornou mais um "sintoma" da dengue nos hospitais públicos no Rio -foram 48 mortes pela doença no Estado neste ano. A demora, em média, é de três horas nos principais postos de atendimento.
A Folha acompanhou a fila do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier (zona norte do Rio). Viu disputa por muros para acomodar as crianças -todas as cadeiras já estavam ocupadas-, desleixo pela limpeza do local e a inusitada reunião de dezenas de crianças na faixa de 4 a 12 anos. Não havia brincadeiras -elas estavam abatidas pela doença.
A sala de espera tem ar-condicionado, o que abrandava o clima quente e úmido de ontem na zona norte. No entanto, faltavam cadeiras para os suspeitos de vítimas da dengue fazerem o que mandam os médicos: descansar.
A dona-de-casa Simone da Silva, 35, apoiou por uma hora e meia em seu colo a filha Lívia Cristina, 4. "Consigo segurar ela por um tempo, mas cansa demais. Ela pesava 17 kg, mas emagreceu quatro na última semana por causa da doença".
A aposentada Almerinda Faria dos Santos, 69, conseguiu sentar -não em uma cadeira, mas sim no ferro onde deveria existir uma. Deveria haver no local 63 cadeiras, mas sete estavam apenas com a estrutura de metal, sem o assento.
Por volta das 11h, sua neta, Laila Faria da Silva, 8, com suspeita de dengue, passou mal e vomitou no chão. Uma atendente foi até o local e chamou a menina e sua mãe, Lindiara Faria da Silva, 35, para a enfermaria, onde Laila recebeu então um medicamento.

Sem limpeza
Os dejetos permaneceram no chão por 50 minutos. Após meia hora, a reportagem da Folha questionou um segurança da unidade sobre o motivo pelo qual o local não havia sido limpo. "Você pediu? Eles não limpam não", disse Almerinda, rindo. Só 20 minutos depois um funcionário limpou a sujeira no local.
A aposentada Maria da Luz, 57, e seu neto Daniel Mesquita dos Santos, 9, aguardavam havia três horas o atendimento no posto. A expectativa deles era que esperassem ainda mais uma hora.
"Estou com muita fome. Saí às 9h da escola e ainda não comi nada", disse o menino. Pouco tempo depois, os dois saíram do hospital. "Vamos procurar algo para comer, porque ele está morrendo de fome", disse Luz. Além de um ambulante vendendo biscoito de polvilho e pipoca, não havia alimentação no hospital.
"Se levar em consideração que a dengue deixa a vítima debilitada, não ter água por perto prejudica outra recomendação médica: se reidratar e alimentar", afirmou o infectologista da UFRJ, Edmilson Migowski. "Se fossem competentes, as autoridades médicas poderiam melhorar o quadro do paciente com medidas simples na própria fila do hospital."

Portas abertas
Por meio de sua assessoria de imprensa, a secretaria municipal de Saúde afirmou que a "política de portas abertas, ou seja, de não recusar pacientes" provoca a "lotação máxima".
Recém-reformado, a demora no Hospital Estadual Getúlio Vargas também chegava a três horas. No entanto, a Folha não viu falta de assentos na recepção. Havia quatro horas, uma paciente esperava por atendimento deitada sobre duas cadeiras. "É horrível ficar aqui sem ter o que comer", disse Juliana Moreira Jaime, 25.


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