São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2011

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BARBARA GANCIA

Bye-bye, Liz!


"Ela fazia questão de acariciar o gato com a mão em que usava o anel que ganhou de Richard Burton"


ASSIM QUE A morte de Liz Taylor foi anunciada, Raffaella Perucchi, artista e amiga querida, postou uma pergunta no meu Facebook: "Sua mãe ainda tem aquele "foulard" que a Liz deu a ela?"
Liz Taylor foi a maior de todas (embora Ava Gardner tenha sido mais bonita), símbolo absoluto do cinema do início ao fim da carreira.
As safiras que tinha no lugar dos olhos tornavam impossível qualquer conversa objetiva com ela, isso eu pude constatar pessoalmente. Sua voz era hipnotizante, sua simpatia convidava a uma festa, a mulher era um colosso. Mesmo pré-adolescente eu já conseguia sentir o peso da sua sensualidade.
Respondendo à pergunta da Raffaella, sim, minha mãe ainda tem o lenço de seda da Hermès que ganhou de Liz Taylor, nas cores branca, azul, bege e amarela. Acho que vou pedir que ela o deixe em testamento e um dia, quem sabe, eu não o converta em doação na luta contra a Aids, isso seria chique, que tal?
Nas primeiras vezes que cruzei Liz Taylor, ela ainda estava com Burton. Teve uma ocasião em que minha irmã e eu presenciamos uma briga entre os dois, na porta de um restaurante chamado Olden, em Gstaad, na Suíça, onde Liz era nossa vizinha e eu passei boa parte das férias da infância.
A cena foi um show. O dois praticamente secaram a adega do restaurante e, na hora de ir embora, trocaram catiripapos na calçada. Pena que não existisse celular para registrar o bailado.
Richard Burton não segurou a onda. Era um beberrão, sim, mas isso não quer dizer que estivesse disposto a viver tão intensamente.
Para Liz, naquela época, sentimentos eram multiplicados por zilhão. Ela tinha uma PA (personal assistant) chamada Chen que era mais exigida do que o anjo da guarda do Fernandinho Beira-Mar. Mulher fantástica a Chen, personalidade forte, era obrigada a monitorar os humores da atriz de perto a todas as horas do dia.
Richard Burton picou a mula com Suzy Hunt, mulher do campeão de F-1 James Hunt. Muito boazinha ela, com pinta e agilidade mental de modelo, foi contar a novidade de que iria deixar o piloto para ficar com um homem "muito famoso" em um nervoso chá das cinco com minha irmã Kika (sempre ela) no hotel Palace. Não sei, mas acho que dramas de estações de esqui são bem mais densos do que questões ocorridas em balneários. Creio que tenha a ver com os espaços fechados.
Liz levou anos e tonéis de álcool para se recuperar. Filhos e animaizinhos de estimação não arredaram pé, todos ali juntos no mesmo mafuá, em formação Tenenbaum de família disfuncional.
Minha mãe lembra especialmente de um gato preto, que era xodó. "Ela fazia questão de acariciar o gato com a mão em que usava o anel que ganhou de Burton", conta. Estamos falando do brilhante Krupp, de 33,4 quilates, que entrou para a história do romance no mesmo patamar de importância da adaga que matou Julieta.
Depois disso, Taylor casou-se com o senador republicano John Warner, um tipo capaz de deixar Sarah Palin parecendo Lênin, e que ressurgiu das trevas nos últimos anos para defender Bush e Cheney.
Deve ter sido uma tentativa da atriz de se enquadrar. Eu nunca vi, mas me contam que ela ficava muda na mesa em jantares na sua casa fazendo papel de gueixa, enquanto John parlamentava sobre política.
Durante esse casamento, Liz em nada lembrava a mesma pessoa que namorou o Peter, amigo do nosso professor de esqui, cujo blazer certo dia amanheceu todo rasgado. Queria ver a Gwyneth Paltrow ser capaz de paixão assim.


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