São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NARCOTRÁFICO
Traficante afirma a secretário que não se considera um criminoso, mas "um guerrilheiro urbano"
Marcinho VP é preso em morro do Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio


O traficante Márcio Amaro de Oliveira, 30, o Marcinho VP, foi preso às 11h de ontem em um barraco no morro do Falet (Rio Comprido, zona norte do Rio) por policiais acusados de integrar a "banda podre" da polícia carioca.
Marcinho VP estava dormindo, segundo os policiais que o prenderam. Foragido desde 1997, ele não reagiu. De acordo com os policiais, o traficante limitou-se a dizer que "sabia que ia ser preso".
Não havia armas e drogas no barraco, localizado na travessa da Família, parte alta da favela.
A prisão foi realizada por cinco policiais da DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) da Polícia Civil e por quatro do 1º BPM (Batalhão de Polícia Militar).
Os nove policiais foram comandados pela delegada Márcia Julião, afastada no mês passado da direção da DPCA por ter sido acusada pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-coordenador de Segurança do governo estadual, de cobrar propinas de hotéis do centro da cidade.
Márcia Julião orientou, da base da favela, os nove policiais que subiram as vielas e becos em busca do traficante.
As investigações da DPCA que levaram à prisão de Marcinho VP começaram há três meses e não foram interrompidas com o afastamento da delegada.
Na semana passada, a DPCA teria descoberto que Marcinho VP estava no Falet.
Um helicóptero com policiais chegou a filmar o alto da favela para estudar uma maneira de chegar ao barraco onde o traficante vinha se escondendo.
Os policiais militares do 1º BPM só participaram da operação porque conhecem a favela melhor que a equipe da DPCA. Eles foram acionados ontem de manhã.
As condições do barraco surpreenderam os policiais. Havia apenas um colchão, um armário velho, mudas de roupa no chão e uma vela acesa.
Marcinho VP vestia calção e camisa de malha. Está com cabelo comprido, amarrado em um rabo de cavalo no alto da cabeça. O cavanhaque dele é preso por um elástico.
Depois de preso, Marcinho VP foi levado para a DPCA, na Cidade Nova (região central do Rio). Lá, ele fez críticas à imprensa.
"Sou a imagem que foi criada pela imprensa. Eu sou um mito. Foi a imprensa que fez esse mito. Eu sou o monstro que vocês criaram", disse aos jornalistas.
Da DPCA, algemado, Marcinho VP foi levado para a DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil, onde começou a ser interrogado às 16h.
Enquanto esteve na DPCA, Marcinho VP conversou com o secretário estadual da Segurança Pública, coronel Josias Quintal.
O secretário disse ter ouvido do traficante que, durante o período em que esteve foragido, viajou para a Argentina e para o México, onde teria se encontrado com guerrilheiros zapatistas.
Marcinho VP teria dito ainda ao secretário que não se considera um criminoso e sim "um guerrilheiro urbano". Segundo o secretário, o traficante teria um "discurso revolucionário".
"Agora, ele vai pagar o ônus de todo esse discurso. Nós temos uma atração enorme por bandido famoso. Vagabundo ficou famoso, está na fita. A gente fica com mais vontade de prender", afirmou Josias Quintal.

Garotinho
O governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), disse que a polícia sabia havia quatro meses que Marcinho VP voltara ao Brasil.
Segundo o governador, a ação de captura foi planejada durante o fim-de-semana, por ele e pelo secretário da Segurança.
Assessores disseram que ele não gostou da participação da delegada Márcia Julião na operação.
"Esse traficante, no governo passado, fugiu pela porta da frente da Polinter. Agora, finalmente, depois de uma operação asfixia, onde ele ficou privado dos recursos que o mantinham no exterior, ele foi obrigado a voltar para o Rio", disse Garotinho.


Texto Anterior: Educação: Professores da Unicamp fazem greve
Próximo Texto: Polícia teria ajudado fuga da Argentina
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.