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NARCOTRÁFICO
Traficante afirma a secretário que não se considera um criminoso, mas "um guerrilheiro urbano"
Marcinho VP é preso em morro do Rio
FERNANDA DA ESCÓSSIA
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
O traficante Márcio Amaro de
Oliveira, 30, o Marcinho VP, foi
preso às 11h de ontem em um barraco no morro do Falet (Rio Comprido, zona norte do Rio) por policiais acusados de integrar a
"banda podre" da polícia carioca.
Marcinho VP estava dormindo,
segundo os policiais que o prenderam. Foragido desde 1997, ele
não reagiu. De acordo com os policiais, o traficante limitou-se a dizer que "sabia que ia ser preso".
Não havia armas e drogas no
barraco, localizado na travessa da
Família, parte alta da favela.
A prisão foi realizada por cinco
policiais da DPCA (Delegacia de
Proteção à Criança e ao Adolescente) da Polícia Civil e por quatro do 1º BPM (Batalhão de Polícia Militar).
Os nove policiais foram comandados pela delegada Márcia Julião, afastada no mês passado da
direção da DPCA por ter sido acusada pelo antropólogo Luiz
Eduardo Soares, ex-coordenador
de Segurança do governo estadual, de cobrar propinas de hotéis
do centro da cidade.
Márcia Julião orientou, da base
da favela, os nove policiais que subiram as vielas e becos em busca
do traficante.
As investigações da DPCA que
levaram à prisão de Marcinho VP
começaram há três meses e não
foram interrompidas com o afastamento da delegada.
Na semana passada, a DPCA teria descoberto que Marcinho VP
estava no Falet.
Um helicóptero com policiais
chegou a filmar o alto da favela
para estudar uma maneira de chegar ao barraco onde o traficante
vinha se escondendo.
Os policiais militares do 1º BPM
só participaram da operação porque conhecem a favela melhor
que a equipe da DPCA. Eles foram
acionados ontem de manhã.
As condições do barraco surpreenderam os policiais. Havia
apenas um colchão, um armário
velho, mudas de roupa no chão e
uma vela acesa.
Marcinho VP vestia calção e camisa de malha. Está com cabelo
comprido, amarrado em um rabo
de cavalo no alto da cabeça. O cavanhaque dele é preso por um
elástico.
Depois de preso, Marcinho VP
foi levado para a DPCA, na Cidade Nova (região central do Rio).
Lá, ele fez críticas à imprensa.
"Sou a imagem que foi criada
pela imprensa. Eu sou um mito.
Foi a imprensa que fez esse mito.
Eu sou o monstro que vocês criaram", disse aos jornalistas.
Da DPCA, algemado, Marcinho
VP foi levado para a DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil, onde começou a ser interrogado às 16h.
Enquanto esteve na DPCA,
Marcinho VP conversou com o
secretário estadual da Segurança
Pública, coronel Josias Quintal.
O secretário disse ter ouvido do
traficante que, durante o período
em que esteve foragido, viajou para a Argentina e para o México,
onde teria se encontrado com
guerrilheiros zapatistas.
Marcinho VP teria dito ainda ao
secretário que não se considera
um criminoso e sim "um guerrilheiro urbano". Segundo o secretário, o traficante teria um "discurso revolucionário".
"Agora, ele vai pagar o ônus de
todo esse discurso. Nós temos
uma atração enorme por bandido
famoso. Vagabundo ficou famoso, está na fita. A gente fica com
mais vontade de prender", afirmou Josias Quintal.
Garotinho
O governador do Rio, Anthony
Garotinho (PDT), disse que a polícia sabia havia quatro meses que
Marcinho VP voltara ao Brasil.
Segundo o governador, a ação
de captura foi planejada durante o
fim-de-semana, por ele e pelo secretário da Segurança.
Assessores disseram que ele não
gostou da participação da delegada Márcia Julião na operação.
"Esse traficante, no governo
passado, fugiu pela porta da frente da Polinter. Agora, finalmente,
depois de uma operação asfixia,
onde ele ficou privado dos recursos que o mantinham no exterior,
ele foi obrigado a voltar para o
Rio", disse Garotinho.
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