São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO

Sem verba do governo federal, fundação que cuida da Serra da Capivara (PI) vai suspender o serviço de manutenção

Parque nacional corre risco de abandono

Marcelo Leite - 11.fev.00/Folha Imagem
A Pedra Furada, localizada no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, que dá nome a um dos sítios arqueológicos do local


JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma área considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, localizada no Piauí, corre o risco de ficar praticamente abandonada a partir de sábado com a desistência de uma fundação de continuar responsável pelas atividades de manutenção do local.
A área ameaçada é o Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado próximo a São Raimundo Nonato (município a 534 km de Teresina) e criado em 1979 por um decreto do governo federal.
O local abriga 735 sítios arqueológicos e paleontológicos, além de pinturas rupestres de cerca de 13 mil anos e um museu arqueológico, de acordo com a arqueóloga Niède Guidon, 72, da Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano).

Parceria parada
A fundação, que tem um contrato de co-gestão com o Ibama e com o Ministério da Cultura para o gerenciamento do parque, encaminhou um documento ao governo federal avisando sobre a decisão de deixar os trabalhos.
Segundo Guidon, a parceria está parada desde o final do ano passado, já que a verba para o ano de 2004 não foi enviada.
"A partir do dia 1º, continuaremos com nossas pesquisas e estudos na área, mas não seremos mais responsáveis pela manutenção do parque", disse Guidon.
Trabalham no parque, que conta com uma área de cerca de 100 mil hectares, três funcionários do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e 79 funcionários da fundação.
Para Guidon, a burocracia do governo federal -que é responsável pela preservação do local- é o principal obstáculo para que o parque continue a ser cuidado e protegido. "Chega uma hora em que não existe mais dinheiro. Então, infelizmente, não dá pra continuar", afirmou ela.
A arqueóloga disse que a fundação, por meio de cotas de apoio de instituições internacionais, conseguiu complementar o suporte dado pelo governo federal e manteve o parque desde 1986.
O parque da Serra da Capivara, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no ano de 1991, recebia até 2002 cerca de 10 mil visitantes por ano, de acordo com Guidon.
"A partir de 2003, apenas alguns visitantes conseguiram chegar até aqui, já que a estrada que dá acesso ao parque está praticamente destruída pelas chuvas."

Risco de destruição
Segundo a arqueóloga, com a interrupção do trabalho dos funcionários da fundação, o patrimônio histórico poderá ser destruído pela ação do homem. "Há risco de depredação das áreas que foram preservadas com muito sacrifício", disse Guidon.
Em 1996, a fundação encaminhou projeto ao governo federal para a construção de um aeroporto em São Raimundo Nonato. De acordo com Guidon, a obra foi licitada, mas não iniciada.
O secretário da Infra-Estrutura do Piauí, Bertolino Marinho Madeira Campos, disse que o aeroporto deve começar a ser erguido ainda no mês de maio, após o encaminhamento de uma parcela de R$ 3,5 milhões pelo Ministério do Turismo.


Texto Anterior: Habitação: Sem-teto têm aliados em governo petista
Próximo Texto: Outro lado: Ibama quer manter parceria com fundação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.