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SAÚDE
Pesquisa feita na região do semi-árido do país mostra que taxa é de 6,6%, quase três vezes acima do aceitável internacionalmente
Desnutrição infantil cai, mas ainda assusta
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A desnutrição crônica infantil
no semi-árido brasileiro, região
mais pobre do país, caiu significativamente na última década, mas
o índice ainda é quase três vezes
acima do aceitável pelas organizações internacionais de saúde.
Pesquisa inédita que envolveu
17 mil crianças com até cinco anos
mostra uma taxa de desnutrição
de 6,6% na região que abrange oito Estados do Nordeste e o norte
de Minas Gerais. O índice internacionalmente aceitável de desnutrição é de 2,5%.
É a primeira vez que se obtém,
por meio de uma amostra significativa, dados nutricionais do semi-árido. Em 1996, uma pesquisa
domiciliar em todo o Nordeste
encontrou um índice de 17,9% de
desnutrição infantil crônica.
Para o pesquisador Carlos Augusto Monteiro, do departamento de nutrição da USP, que coordenou a análise da pesquisa, uma
série de ações feitas ao longo das
últimas décadas propiciou a queda da desnutrição. Entre elas, a
melhoria do saneamento básico,
do nível de escolaridade e do acesso à saúde, especialmente o PSF
(Programa de Saúde da Família).
Um dado novo avaliado foi o
impacto dos programas de transferência de renda (bolsas-família,
escola e alimentação) do governo
federal. Das famílias das crianças
estudadas, 35,3% estavam inscritas em algum programa -mas isso influenciou de forma diferente
na taxa de desnutrição de acordo
com a idade. Em bebês de até cinco meses, não houve diferença.
Nas crianças de seis a 11 meses de
idade, 2% dos inscritos estavam
desnutridos, contra 5,3% dos
não-inscritos.
Benefícios mais modestos foram observados nas crianças mais
velhas: redução na desnutrição de
28,3% para crianças entre 12 e 35
meses de idade (de 8,5% para
6,1% dos inscritos em programas
sociais) e redução de 25,7% para
crianças entre 36 e 59 meses de
idade (de 6,2% para 4,6%).
"O Bolsa-Família é um "plus",
mas não dá para atribuir só a ele a
diminuição [da taxa de desnutrição]", diz Monteiro, lembrando
que o maior índice de desnutrição
entre os não-inscritos nos programas sociais foi de 8,5% (entre
crianças de 12 a 35 meses).
Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, cerca de 22%
de sua verba foi investida em programas na região do semi-árido.
Em 2005, esses recursos chegaram a R$ 3,9 bilhões.
Na opinião do gestor de relações
institucionais da Pastoral da
Criança, Clóvis Boufleur, além da
importância do acesso à alimentação, uma das preocupações tem
sido a qualidade das refeições. Segundo ele, técnicos da entidade
têm detectado aumento de casos
de obesidade e de anemia infantil.
O pesquisador Carlos Monteiro
explica que a prevalência de formas crônicas de desnutrição (déficits de altura para idade) variaram bastante segundo os indicadores socioeconômicos: 17% nas
classes D e E, 2,5% na C e menos
de 1% nas classes A e B.
Entre as mães analfabetas, a
pesquisa encontrou 14,1% de
crianças desnutridas. Naquelas
com nove anos ou mais de escolaridade, a taxa ficou em 3,3%.
O estudo mostra também que
23% das famílias avaliadas não
possuem água encanada. "Isso
mostra que ainda há muito o que
ser feito", comenta Monteiro.
Outro achado que chamou a
atenção do pesquisador foi a alta
cobertura da assistência pré-natal: 97,2% das mães fizeram pré-natal, sendo que 83,8% relataram
cinco ou mais consultas e 79,7%
iniciaram o pré-natal ainda no
primeiro trimestre da gravidez.
"Não temos dúvida de que o PSF
tem colaborado para isso."
A pesquisa, feita em agosto de
2005 durante a Campanha Nacional de Vacinação, foi realizada pelos ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde.
Colaborou a SUCURSAL DE BRASÍLIA
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