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Escolas mudam até a arquitetura para coibir a "turma do fundão"
Instituições recorrem a medidas alternativas para frear indisciplina dos alunos
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os pedidos de silêncio e as
ameaças de advertência já não
são os únicos inimigos da "turma do fundão" nas escolas particulares. Contra a indisciplina
dos alunos, os colégios têm tomado medidas que vão de reformas da sala de aula a punição em atividades esportivas.
É o caso do colégio Augusto
Laranja, localizado na zona sul
de São Paulo. Neste ano, as
classes do ensino médio (antigo
colegial) foram modificadas para que ficassem mais largas do
que profundas. Agora, as fileiras têm no máximo quatro carteiras. Antes, era o dobro.
"Quando chegamos no começo do ano, levamos um susto:
"Cadê o fundão?'", disse Marcela, 15, do 2º ano do ensino médio. "A primeira preocupação
foi: "Como vamos colar?'"
Segundo a diretora, Rosa
Costa de Paula, a intenção da
escola foi coibir a indisciplina
nas aulas e, também, aumentar
a integração do professor com a
sala. "Ele agora fica próximo de
todos da classe."
Menos dispersão
Os alunos contam que agora
dispersam menos nas aulas.
"Mas já temos novos métodos
para colar. Só não vamos entregar", disse Priscila, 16.
O Vértice, na zona sul de São
Paulo, é outro colégio que possui classes com a largura maior
do que a profundidade -a escola foi a primeira colocada nos
últimos rankings do Enem
(Exame Nacional do Ensino
Médio). "Também determinamos onde cada um vai sentar. E
o mapa muda a cada 15 dias",
afirmou à Folha o diretor da
escola, Marco Botteon Logar.
"Isso ajuda na socialização e
evita panelinhas."
O colégio Santo Américo (zona oeste de São Paulo) também
determina onde cada aluno deve sentar. "Muitos não querem
ter o professor em cima o tempo todo, por isso vão para o
fundo. Mas, ao determinarmos
os lugares, avaliamos se ele está
tendo bom comportamento",
disse a diretora de ética do colégio, Regina Tocci.
Coisa do passado
No Pueri Domus, que possui
cinco unidades na Grande São
Paulo, praticamente já não há
carteiras enfileiradas. Nas aulas, são usados grupos com até
cinco alunos ou formação em
círculo. O colégio visa, com isso,
aumentar a interação entre os
próprios estudantes.
"A turma do fundão é coisa
do passado", disse a coordenadora, Karen Colby de Mattos.
Ela própria diz que ficava no
fundo da classe na época de estudante. "Eu era do povo "do social". Mas era boa aluna, viu?",
afirmou. "O formato que usamos agora permite que um aluno possa aprender com outro, é
mais interessante."
Para a presidente da Abpp
(Associação Brasileira de Psicopedagogia), Maria Irene Maluf, "a disciplina e a integração
entre os estudantes depende
muito mais da postura do professor do que a disposição das
carteiras na classe".
Segundo ela, "o desafio da escola é tornar as aulas interessantes". De outra forma, diz a
presidente da entidade,"qualquer medida será inócua".
Fora do time
No caso de Thomas Istravinks Durigon, 16, foi a ameaça
de ficar fora de competições esportivas que o levou a uma mudança de comportamento.
"Sentava no fundo, fazia "ola" e
guerra de papel. Não estava
nem aí para as aulas", afirma.
Se mantivesse tal postura, o
colégio em que estuda -o Albert Sabin, localizado na zona
oeste de São Paulo- ameaçou
tirá-lo das equipes de basquete
e de handebol mantidas para
disputar torneios externos.
A escola decidiu considerar a
disciplina e a participação nas
aulas para a formação de suas
equipes de competição.
"Com muita conversa, fui
convencido a mudar de postura. No ano passado, até saí do
fundão", disse Thomas.
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