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BARBARA GANCIA
O que querem as crianças?
Ceder a caprichos é pedir para ver o filho crescer e se tornar um adulto com baixa tolerância para a frustração
EM UM MUNDO em que alterações de humor são identificadas num piscar de olhos como
transtorno bipolar e tratadas a baldes de novas drogas cujos efeitos colaterais ainda não foram devidamente destrinchados, causa alguma
estranheza a história do padre que
saiu voando amarrado a balões de
festa? Na visão dos terapeutas de
porta de farmácia, o "noviço voador"
do Paraná, com seu lero-lero messiânico, não seria imediatamente
diagnosticado como alguém que está passando por episódio de mania?
Em um planeta em que qualquer
criança um pouco mais ativa está
passível de ser identificada e, pasme,
medicada como portadora de DDA
(distúrbio de déficit de atenção),
chega a admirar o fato de que um pai
imaturo e superprotegido pela família esteja agora sendo acusado de jogar a própria filha pela janela?
Tempos atrás, distúrbios mentais,
hormonais (como a depressão pós-parto) e de aprendizado eram muitas vezes classificados como farinha
do mesmo saco. E quem deles sofria
corria o sério risco de passar a vida
trancafiado num sanatório.
Hoje existem remédios específicos para tratar desde TOC (transtorno obsessivo-compulsivo, aquele do
Roberto Carlos) até males que remontam à época do onça, como a dependência do álcool.
Mas embora diagnósticos, terapias e novas drogas tenham evoluído e possibilitado que gente que antes era classificada "tout court" de
esquizofrênica agora possa levar
uma vida produtiva e, até certo ponto, independente, por outro lado
houve uma regressão.
Eu pergunto: quantas vezes o dileto leitor já não ouviu algum pai ou
mãe se vangloriar de conseguir dar
ao filho tudo o que ele lhe pede? Não
sei direito de onde nasceu essa aberração, mas conheço casos de gente
humilde que se endividou até as
tampas a fim de proporcionar aos filhos mimos imbecilizantes como tênis, brinquedos e videogames.
Outro dia mesmo, na TV, vi uma
destituída choramingando por não
poder dar ao filho o que ela chamou
de "as coisas que ele me pede". Não
sei quantos pimpolhos imploram
aos pais que lhes dêem a possibilidade de fazer cursos profissionalizantes no Senai ou Senac, aulas de inglês ou de piano. Imagino que não
sejam muitos. Mas sei de pouca coisa menos educativa do que dar à
criança tudo o que ela pede. Afinal,
crianças, como bem sabemos, são
volúveis e novidadeiras e mudam de
idéia a cada meia hora.
Satisfazer todo capricho da petizada é a antítese de educar com responsabilidade. É pedir para ver o filho crescer e se tornar um adulto
com baixa tolerância à frustração,
em suma, um irresponsável.
Adulto do tipo que pode vir a bater
o pé e teimar em sair voando amarrado a balões de festa ou que, depois
de cometer uma atrocidade com a
própria filha, liga ao pai para vir acudir e esquece de chamar o resgate.
Em vez de correr ao médico atrás
de um diagnóstico específico a cada
vez que o filho é repreendido na escola (no caso dos mais abonados) ou
de ceder aos caprichos da prole com
presentes que podem custar uma
bela porcentagem do salário (no caso dos mais pobres), não seria lindo
se os pais voltassem a agir como pais
e deixassem de lado essa moda besta
de posar de amigão do peito ou de
ser uma mera caixa 24 horas?
barbara@uol.com.br
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