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Pai tem que pagar para ver parto do filho
Maternidades particulares de São Paulo cobram entre R$ 113 e R$ 147 para acompanhante poder entrar no centro obstétrico
Anvisa, ANS e Procon dizem que a cobrança é ilegal; pesquisa mostra que acompanhante ajuda na diminuição da dor pós-parto
Joel Silva/Folha Imagem
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A secretária-executiva Patrícia Fernandes Lopes Felipe e sua filha; família teve de pagar R$ 147 para marido de Patrícia acompanhar parto
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A administradora de recursos humanos Roberta Meza, 41,
não sabia. A secretária-executiva Patrícia Fernandes Lopes
Felipe, 32, também não. Antes
de ter filhos há alguns meses, as
duas percorreram maternidades particulares de São Paulo
para conhecer os serviços antes
de decidir onde fariam o parto.
Por desconhecer a resolução
que garante a presença de um
acompanhante de livre escolha
da mulher, pagaram R$ 147 para que os maridos assistissem
ao nascimento dos bebês.
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), ANS
(Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Procon dizem em
uníssono que a cobrança é abusiva e claramente ilegal.
Pesquisa da USP mostra que
diversos indicadores melhoram com a presença do acompanhante no parto, como diminuição da dor e índices menores de depressão pós-parto, por
exemplo.
Ao longo da semana, a reportagem refez os passos de Roberta e Patrícia e visitou cinco
maternidades paulistanas:
Einstein, Pro Matre, Santa Catarina, Santa Joana e São Luiz.
Todas, menos o Einstein, cobram entre R$ 113 e R$ 147 para
presença do pai na hora do parto, o que chamam de "taxa de
paramentação" para cobrir os
custos do avental cirúrgico.
Com o comprovante de pagamento do parto em mãos, Roberta, mãe dos gêmeos Rute e
Miguel, de 11 meses, diz ter pago a taxa para o marido acompanhá-la, mas que a cobrança
não foi incluída na nota fiscal
emitida pela maternidade Pro
Matre. "Não sabia que tinha de
pagar a roupa", diz.
"O hospital não pode cobrar
pelo acompanhamento do parto, nem mesmo por roupas usadas no centro cirúrgico", afirma
a ANS em nota.
"A presença do acompanhante na hora do parto é um
direito e é de livre escolha da
mulher", diz Andrezza Amorim, técnica da Anvisa.
Segundo a agência, denúncias sobre esse cobrança podem ser feitas à vigilância sanitária local e podem render multas de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão.
"É uma prática abusiva.
Qualquer cobrança é considerada um obstáculo à garantia
desse direito em lei", diz Robson Campos, diretor do Procon.
Essa taxa é mais um dos serviços do pacote oferecido às
mães e um indicativo do negócio que se firmou em torno do
parto na rede particular.
Para gravar ou fotografar o
nascimento, todas as maternidades exigem que o serviço seja
feito por uma única empresa
indicada, que cobra R$ 1.298.
Para o Procon, a restrição deve ser previamente justificada e
informada às mães e a concorrência deve ser estimulada.
Com medo de que o marido
desmaiasse na hora do parto e
perdesse as fotos, Patrícia, mãe
de Estela, de um ano e três meses, pagou R$ 1.000 a um fotógrafo indicado pelo Hospital
São Luiz.
"Se eu levasse um fotógrafo
próprio, só deixariam fazer as
imagens do berçário do lado de
fora, pela vidraça. Mas o fotógrafo deles entrou e tirou fotos
do primeiro banho. Aceitei e fiquei rendida. Naquele momento tinha outras prioridades, já
estava numa fase de muito cansaço", diz Patrícia.
As maternidades também
oferecem extensões do teste do
pezinho, cuja detecção básica
de cinco doenças, por lei, é gratuita. Para o exame de mais cinco são cobrados R$ 118 e, para
41 deficiências, R$ 428.
Gratuitas na rede pública e
que devem ser aplicadas nos
primeiros dias de vida, as vacinas como BCG e contra a hepatite B são cobradas em alguns
hospitais, R$ 95 a dose de cada
uma, como no São Luiz, e gratuitas em outras, como no Santa Catarina.
Considerado inócuo por hematologistas e geneticistas, o
congelamento do sangue do
cordão umbilical, rico em células-tronco, é vendido a
R$ 3.500 mais R$ 570 de manutenção anual como promessa
de cura de doenças.
Colaborou EDUARDO GERAQUE
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