São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2000


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CIDADANIA
Depois de duas tentativas, apesar de autorização da Justiça, Thays Martinez consegue o direito de usar o meio de transporte
Cego vai poder usar cão-guia no metrô

EUNICE NUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pela primeira vez, e por decisão judicial, o metrô de São Paulo permitiu a circulação de um deficiente visual acompanhado de um cão-guia em seus trens.
O episódio aconteceu ontem, por volta das 17h30 depois de uma batalha judicial iniciada na tarde da última sexta-feira, quando Thays Martinez, 26, foi impedida de entrar no metrô com o cão labrador Boris.
Seu advogado, Marcial Barreto Casabona, entrou com uma ação e pediu uma antecipação de tutela (uma espécie de liminar) para que ela pudesse andar com o cão no metrô. Ele basou-se na lei municipal 12.492/97, que permite aos deficientes visuais transitar com cão-guia em ambientes públicos.
Na tarde de terça-feira, o juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública, José Roberto Peiretti de Godoy, concedeu a tutela antecipada. Com o ofício do juiz em mãos, Thays foi novamente barrada no metrô.
Ontem, o juiz, a pedido do advogado, expediu nova ordem, determinando o cumprimento da tutela antecipada sob pena de crime de desobediência e de responsabilidade.
Só depois de ter sido intimada por uma oficial de Justiça, a diretoria da Companhia do Metropolitano liberou a passagem de Thays e Boris.
Um advogado da empresa acompanhou a oficial de Justiça até a estação Marechal Deodoro e instruiu os funcionários a deixar Thays e seu cão passarem.
O chefe de segurança da companhia, Davi José de Sousa, quis mandar uma escolta junto, mas Thays recusou. Mesmo assim, dois seguranças acompanharam-nos até a estação Sé.
O percurso foi tranquilo e as pessoas não estranharam a presença do cão. A auxiliar de limpeza Arlinda Nascimento, 57, que estava no mesmo vagão, disse que não tinha problema o labrador estar ali. "Ele está bem limpinho".
Thays, que se formou em direito pela Universidade de São Paulo (USP) em 1998 e hoje trabalha como oficial de Promotoria no Ministério Público, e o cão Boris estão se adaptando um ao outro.
Eles estão sendo treinados por Moisés Vieira dos Santos Júnior, um instrutor de Florianópolis (SC), que veio para São Paulo para ensinar Thays e Boris a andar pela cidade. Nos ônibus, eles não sofreram restrições e têm circulado normalmente.
O metrô faz parte do cotidiano da oficial de Promotoria e, por isso, é preciso ensinar o cão a transitar em suas dependências.
Ela mora na Lapa (zona noroeste). Vai de ônibus até a estação Barra Funda do metrô, onde embarca e segue até a Sé. De lá, ela vai segue para a estação São Bento, próxima ao prédio do Ministério Público onde trabalha.
Esta é a segunda tentativa de Thays com cão-guia. Em 1997, com o labrador Othello, ela conseguiu autorização especial para frequentar a faculdade e o 1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, onde trabalhava na época. A experiência não deu certo.
"Eu me sinto mais segura com o cão-guia. Em São Paulo, há muitos obstáculos aéreos, como os orelhões, e a bengala não resolve. O cão pára antes e evita acidentes", declara.

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