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CIDADANIA
Depois de duas tentativas, apesar de autorização da Justiça, Thays Martinez consegue o direito de usar o meio de transporte
Cego vai poder usar cão-guia no metrô
EUNICE NUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Pela primeira vez, e por decisão
judicial, o metrô de São Paulo permitiu a circulação de um deficiente visual acompanhado de um
cão-guia em seus trens.
O episódio aconteceu ontem,
por volta das 17h30 depois de
uma batalha judicial iniciada na
tarde da última sexta-feira, quando Thays Martinez, 26, foi impedida de entrar no metrô com o
cão labrador Boris.
Seu advogado, Marcial Barreto
Casabona, entrou com uma ação
e pediu uma antecipação de tutela
(uma espécie de liminar) para que
ela pudesse andar com o cão no
metrô. Ele basou-se na lei municipal 12.492/97, que permite aos deficientes visuais transitar com
cão-guia em ambientes públicos.
Na tarde de terça-feira, o juiz da
3ª Vara da Fazenda Pública, José
Roberto Peiretti de Godoy, concedeu a tutela antecipada. Com o
ofício do juiz em mãos, Thays foi
novamente barrada no metrô.
Ontem, o juiz, a pedido do advogado, expediu nova ordem, determinando o cumprimento da
tutela antecipada sob pena de crime de desobediência e de responsabilidade.
Só depois de ter sido intimada
por uma oficial de Justiça, a diretoria da Companhia do Metropolitano liberou a passagem de
Thays e Boris.
Um advogado da empresa
acompanhou a oficial de Justiça
até a estação Marechal Deodoro e
instruiu os funcionários a deixar
Thays e seu cão passarem.
O chefe de segurança da companhia, Davi José de Sousa, quis
mandar uma escolta junto, mas
Thays recusou. Mesmo assim,
dois seguranças acompanharam-nos até a estação Sé.
O percurso foi tranquilo e as
pessoas não estranharam a presença do cão. A auxiliar de limpeza Arlinda Nascimento, 57, que
estava no mesmo vagão, disse que
não tinha problema o labrador estar ali. "Ele está bem limpinho".
Thays, que se formou em direito
pela Universidade de São Paulo
(USP) em 1998 e hoje trabalha como oficial de Promotoria no Ministério Público, e o cão Boris estão se adaptando um ao outro.
Eles estão sendo treinados por
Moisés Vieira dos Santos Júnior,
um instrutor de Florianópolis
(SC), que veio para São Paulo para ensinar Thays e Boris a andar
pela cidade. Nos ônibus, eles não
sofreram restrições e têm circulado normalmente.
O metrô faz parte do cotidiano
da oficial de Promotoria e, por isso, é preciso ensinar o cão a transitar em suas dependências.
Ela mora na Lapa (zona noroeste). Vai de ônibus até a estação
Barra Funda do metrô, onde embarca e segue até a Sé. De lá, ela vai
segue para a estação São Bento,
próxima ao prédio do Ministério
Público onde trabalha.
Esta é a segunda tentativa de
Thays com cão-guia. Em 1997,
com o labrador Othello, ela conseguiu autorização especial para
frequentar a faculdade e o 1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, onde trabalhava na época. A
experiência não deu certo.
"Eu me sinto mais segura com o
cão-guia. Em São Paulo, há muitos obstáculos aéreos, como os
orelhões, e a bengala não resolve.
O cão pára antes e evita acidentes", declara.
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