São Paulo, sábado, 25 de maio de 2002

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SEGURANÇA

Documento do PCC afirma que membros da organização criminosa "são fruto de uma sociedade opressora"

Manifesto foi apreendido pela polícia

DA REPORTAGEM LOCAL

O PCC passa por um processo de ""ideologização" desde a rebelião que parou 29 presídios ao mesmo tempo em São Paulo -o maior motim visto na história do país, ocorrido a 18/2/2001.
A opinião é do promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco, que investiga ações da facção desde 1996. ""Eles ainda não têm uma ideologia, mas estão mudando o modo de pensar", diz.
Na ação de anteontem, por exemplo, a polícia apreendeu um manifesto do PCC manuscrito na casa da mulher de um dos fundadores da facção, César Augusto Roris da Silva, o Cesinha.
No texto, que não foi divulgado, Cesinha diz que eles "são fruto de uma sociedade opressora", ao defender as idéias do "partido" -como eles chamam o PCC.
""Está escrito de forma organizada, com bom português, em duas páginas e meia", diz o promotor. O mesmo discurso, de que os presos estão defendendo seus direitos, foi ouvido ontem no depoimento de algumas das principais lideranças interrogadas no Deic.
O PCC tem um estatuto, com regras de fidelidade e punições para traidores, inspirado em texto semelhante produzido pelo Comando Vermelho, do Rio. Seu lema é ""paz, justiça e liberdade".
""O que nos preocupa é a forte hierarquia, um de cima manda e o que está embaixo cumpre", afirma o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic.
Ao gravar as conversas entre membros do PCC, a polícia encontrou referências às Brigadas Vermelhas no discurso de seus membros, quando eles falavam sobre a ""filosofia da facção".
O nome Brigadas Vermelhas pode estar associado ao grupo extremista italiano, fundado nos anos 70, que ganhou notoriedade ao sequestrar e assassinar, em 78, o líder do partido democrata-cristão na Itália, Aldo Moro.
Neste ano, o PCC partiu para atentados a bomba a prédios públicos e emboscadas a veículos oficiais, prática incomum para seu modo de atuação. Desde janeiro, ocorreram 14 ataques, com quatro mortos e 17 feridos.
No organograma da organização, divulgado ontem pela polícia, há nomes que foram relacionados com função específica dentro da facção criminosa.
Uma mulher de nome Flávia, ligada a Cesinha, seria a contadora -responsável por controlar as contas da facção. O preso Andrezão, André Batista da Silva, é apontado como o tesoureiro. Ele seria o responsável por autorizar os pagamentos.
(ALESSANDRO SILVA)


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