São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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CENTRO VIVO

Projeto da administração Serra prevê rebaixar floreiras da praça, que hoje servem de abrigo a moradores de rua

ONGs vêem ação higienista na reforma da Sé

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

"A tônica das ações desenvolvidas pela prefeitura no centro de São Paulo tem sido a exclusão dos moradores de rua." A afirmação é do padre Júlio Lancellotti (da Pastoral do Povo de Rua) que se diz espantado com o projeto de reforma da praça da Sé, publicado ontem na Folha. Representantes da Fundação Travessia e da ONG Cheiro de Capim, que atendem crianças em situação de risco, também criticaram a proposta.
A reforma prevê, entre outras ações, o rebaixamento dos canteiros que existem na praça e que, atualmente, servem de abrigo a moradores de rua. De acordo com a Emurb, que desenvolve o projeto, a mudança levará a uma maior visibilidade da praça, o que deve facilitar o policiamento, aumentar a circulação de pedestres e desestimular a permanência dessa população na região.
"A Sé concentra muitos moradores de rua devido a muitos fatores, como a disponibilidade de material reciclável e facilidade de alimentação. A gente tem que ver qual a intervenção social necessária para essa região, não espantar os moradores de rua achando que, com isso, vai resolver o problema", disse o padre.
Na avaliação de Lancellotti, outras ações do prefeito José Serra (PSDB), como a "Operação Limpa" -ofensiva policial realizada no início de março pela prefeitura na região da "cracolândia"-e a instalação de cercas ao redor da praça da República manifestam o mesmo raciocínio, pelo qual os moradores de rua são vistos como invasores do espaço urbano.
"Não é trancando praças e espantando as pessoas, como na Operação Limpa, que o problema vai ser resolvido. Isso pode dar uma ilusão de que a situação melhorou, mas é uma ilusão", afirma Max Dante, 44, gerente de atendimento da Fundação Travessia, que atende cerca de cem crianças e adolescentes do centro por mês. Quanto à Sé, Dante defende que a prefeitura deveria criar condições de abrigo para as pessoas que atualmente dormem no local.
Para Andrea Apóstolo, 35, diretora executiva da ONG Cheiro de Capim, todas obras de revitalização são bem-vindas, desde que contemplem a questão social. "Acho que a praça vai se tornar mais agradável, mas a gente tem essa preocupação: o que vai ser feito com os moradores de rua durante esse processo?"


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