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CENTRO VIVO
Projeto da administração Serra prevê rebaixar floreiras da praça, que hoje servem de abrigo a moradores de rua
ONGs vêem ação higienista na reforma da Sé
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
"A tônica das ações desenvolvidas pela prefeitura no centro de
São Paulo tem sido a exclusão dos
moradores de rua." A afirmação é
do padre Júlio Lancellotti (da Pastoral do Povo de Rua) que se diz
espantado com o projeto de reforma da praça da Sé, publicado ontem na Folha. Representantes da
Fundação Travessia e da ONG
Cheiro de Capim, que atendem
crianças em situação de risco,
também criticaram a proposta.
A reforma prevê, entre outras
ações, o rebaixamento dos canteiros que existem na praça e que,
atualmente, servem de abrigo a
moradores de rua. De acordo com
a Emurb, que desenvolve o projeto, a mudança levará a uma maior
visibilidade da praça, o que deve
facilitar o policiamento, aumentar a circulação de pedestres e desestimular a permanência dessa
população na região.
"A Sé concentra muitos moradores de rua devido a muitos fatores, como a disponibilidade de
material reciclável e facilidade de
alimentação. A gente tem que ver
qual a intervenção social necessária para essa região, não espantar
os moradores de rua achando
que, com isso, vai resolver o problema", disse o padre.
Na avaliação de Lancellotti, outras ações do prefeito José Serra
(PSDB), como a "Operação Limpa" -ofensiva policial realizada
no início de março pela prefeitura
na região da "cracolândia"-e a
instalação de cercas ao redor da
praça da República manifestam o
mesmo raciocínio, pelo qual os
moradores de rua são vistos como
invasores do espaço urbano.
"Não é trancando praças e espantando as pessoas, como na
Operação Limpa, que o problema
vai ser resolvido. Isso pode dar
uma ilusão de que a situação melhorou, mas é uma ilusão", afirma
Max Dante, 44, gerente de atendimento da Fundação Travessia,
que atende cerca de cem crianças
e adolescentes do centro por mês.
Quanto à Sé, Dante defende que a
prefeitura deveria criar condições
de abrigo para as pessoas que
atualmente dormem no local.
Para Andrea Apóstolo, 35, diretora executiva da ONG Cheiro de
Capim, todas obras de revitalização são bem-vindas, desde que
contemplem a questão social.
"Acho que a praça vai se tornar
mais agradável, mas a gente tem
essa preocupação: o que vai ser
feito com os moradores de rua
durante esse processo?"
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