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GUERRA URBANA
Ministério Público ficou sem acessar sistema de segurança no período em que a polícia reagiu aos ataques do PCC
Para promotores, medida foi uma "censura" do secretário Abreu Filho aos que investigam as mortes em ações policiais
Governo bloqueia dados para Promotoria
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Estadual ficou uma semana sem ter
acesso aos dados do sistema de
informações criminais da Secretaria da Segurança Pública
de São Paulo, o Infocrim. O bloqueio durou da última quarta-feira até a manhã de ontem.
Se pudesse consultar o Infocrim, uma base de dados que
registra em tese os crimes ocorridos na Grande São Paulo e os
respectivos boletins de ocorrência, os promotores poderiam ter elaborado por conta
própria a lista das vítimas nos
supostos confrontos da polícia
com integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Vence hoje o prazo de 72 horas dado pelo procurador-geral
de Justiça de São Paulo, Rodrigo Pinho, para que a Secretaria
da Segurança Pública forneça a
lista com o nome das vítimas.
O Ministério Público ficou
sem acesso ao Infocrim nos dez
pontos na cidade de São Paulo
em que o sistema pode ser consultado. Esses dez terminais de
computador estão na sede da
Promotoria, na região central, e
no fórum criminal da Barra
Funda, na zona oeste.
Cinco promotores ouvidos
ontem pela Folha, sob a condição de que seus nomes não fossem revelados, contaram que
era possível acessar a porta de
entrada do sistema, mas, quando se tentava fazer a consulta,
aparecia a mensagem de erro.
A alegação da Secretaria da
Segurança Pública era que o erro ocorrera porque havia um
congestionamento no sistema
por causa do elevado número
de acessos a base de dados.
A reportagem da Folha, porém, consultou três delegacias
entre ontem e anteontem e nenhuma delas relatou problemas de acesso ao Infocrim.
O Infocrim voltou a funcionar na Promotoria um dia depois de o procurador-geral ter
se encontrado com o secretário
da Segurança Pública, Saulo de
Castro Abreu Filho, e com o governador Cláudio Lembo.
Oficialmente, o Ministério
Público não comenta o "apagão" do Infocrim. Promotores
ouvidos pela Folha classificam
a medida como "censura" do
secretário Abreu Filho aos que
defendem uma investigação rigorosa das mortes nos supostos confrontos com a polícia.
Há a suspeita de que a polícia
possa ter matado inocentes. A
secretaria reduziu anteontem
o número de vítimas ligadas ao
PCC de 110 para 79.
O corte das informações do
Infocrim para os promotores
faz parte de uma escalada de
restrição às informações sobre
os mortos da última semana.
No último sábado, a Folha revelou que Abreu Filho mandara centralizar em seu gabinete
os dados que serão usados para
elaborar os laudos do IML.
A recusa do secretário de fornecer a lista de mortos também
faz parte desse movimento.
O braço-de-ferro entre
Abreu Filho e Pinho tem antecedentes. O secretário ficou enfurecido quando Pinho encaminhou ao Tribunal de Justiça
uma acusação formal contra
ele por abuso de autoridade. O
abuso teria ocorrido quando o
secretário chamou agentes de
um grupo de elite da polícia para resolver um congestionamento em que ele estava num
sábado, em maio de 2005.
Um sócio de um restaurante
e um manobrista foram algemados e levados a uma delegacia. Depois, descobriu-se que o
congestionamento fora provocado por cones colocados pela
CET para sinalizar uma festa
de Pentecostes.
Abreu Filho tentou dar o troco a Pinho ao apoiar dois de
seus adversários na eleição para procurador-geral. Ele
apoiou inicialmente Carlos
Mund (que ficou em terceiro
na disputa). Depois, fez lobby
junto ao então governador Geraldo Alckmin para dar posse
ao segundo colocado -Luís
Daniel Pereira Cintra. Perdeu
novamente -Alckmin reconduziu Pinho ao cargo.
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