São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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MARIA LEOMACI SILVA (1952-2008)

E a coragem ao desbravar a Amazônia

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A mesma bravura que apelidou Maria Leomaci de "Leãomaci", o leão da selva amazônica -a filha é quem diz que a mulher "era grossa mesmo, não adianta"-, deu-lhe coragem para enfiar-se no mato e drenar barrigas d'água dos pacientes terminais de hepatite, aliviar a febre de índios com malária e ensinar a todos como não morrer às pencas na floresta.
De Patos, cidade no sertão da Paraíba onde nasceu, fugiu aos 13 apaixonada por um mestre de obras. Casou em Manaus. Fez medicina, especializou-se em doenças tropicais e foi para Rio Branco criar os filhos sozinha.
Como médica do projeto de assentamento do Incra, lá ia ela, dois dias sobre o jipe por 60 km de de barro até Plácido de Castro, "salvar centenas de vidas". Malária, pegou duas vezes. Por isso gritava no fim de tarde: "Não sai a essa hora por causa do mosquito", fosse aos dois filhos, sete netos ou Eliana, a menina do mato que começou como agente de saúde e acabou filha de criação.
Tempos em que "ia com o médico e hoje senador Tião Viana (PT-AC)" fazer campanha contra a malária na Amazônia. Realidade distinta do consultório. "Dizia que era médica de pobre; rico não pegava essas doenças."
E veio a fama de "extremista" -por desenganar pacientes sem cura. "É melhor esperar um milagre, porque a medicina não tem o que fazer", dizia. Assim agiu ao saber do câncer. Fez quimioterapia, "mas não quis ficar entubada em hospital." Morreu domingo, aos 55, em casa.


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