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Pobre em escola privada vai melhor no Enem
Comparação de notas por renda familiar mostra que alunos igualmente pobres se saem melhor em colégios privados do que em públicos
Mesmo usando até metade da renda com educação, pais dizem preferir ensino privado por haver menos violência e mais facilidade de cobrança
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Ferreira, morador de São Rafael (zona leste de SP), leva as filhas de bicicleta à escola particular
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo dia o operador de máquina Cláudio Roberto Ferreira, 35, leva de bicicleta a filha
Ana Beatriz, 8, à escola. Mora
numa casa de três cômodos
-cozinha, banheiro e quarto-
num loteamento irregular no
distrito de São Rafael (extremo
leste de SP). Com quatro pessoas na família, metade da renda de R$ 600 é usada para pagar
a escola das duas filhas.
Na esperança de um futuro
melhor, matriculou Ana Beatriz
na Paulista Instituição de Ensino, colégio próximo à sua casa,
que teve, na rede privada, a sexta menor média no ranking do
Enem na cidade entre alunos
do ensino médio regular.
Apesar de a posição da escola
não ser muito boa se comparada à das outras particulares, os
números do Enem mostram
que a menina provavelmente
terá desempenho escolar melhor estudando na instituição
do que numa escola estadual.
Uma comparação das notas
do Enem considerando a renda
familiar dos alunos mostra que
estudantes igualmente pobres
se saem melhor em escolas particulares do que em públicas.
No último exame, 17 pontos
separavam a média da rede privada e a média da rede pública.
Quando se considera apenas
alunos com renda familiar inferior a dois salários mínimos, a
distância cai pela metade (oito
pontos), mas persiste em favor
das particulares.
Os dados do Enem mostram
também que, apesar de o perfil
de aluno de escolas particulares ser de maior renda que o da
rede pública, 15% dos que estudaram apenas em colégios privados têm renda familiar inferior a dois salários mínimos.
"Tenho sobrinhos que estudam em escola pública e a gente
ouve muitas histórias de professores agredidos, vê na TV casos até de morte dentro da sala
de aula. Na escola particular,
elas estão seguras e têm um estudo melhor", diz Ferreira.
Uma mudança em seu trabalho fez com que sua renda caísse de R$ 1.000 para R$ 600.
Ferreira adiou as obras da casa,
como o acabamento do piso de
concreto, mas não deixou de
pagar as mensalidades. "Sempre priorizamos a escola."
História parecida conta o
motorista de ônibus Everaldo
de Azevedo, 37. Ele recebe pensão de R$ 1.000 do INSS por
causa de um problema físico.
Sua mulher está desempregada. Mesmo assim, não tira a filha Natália do Colégio Tauá, na
Ilha do Governador (zona norte do Rio), onde paga R$ 120 de
mensalidade, além de material
didático e alimentação.
"Cortamos refrigerante, pizza, cerveja e quase tudo para
poder manter nossa filha numa
escola particular. Lá, pelo menos, tenho como cobrar, pois,
se vejo que ela não está aprendendo, posso ameaçar trocar de
colégio ou exigir mais esforço
do professor. Na escola pública,
isso não acontece."
Apesar de argumentos como
menos violência e mais facilidade de cobrança, Ailton Fernandes, diretor do Sindicato
dos Professores de São Paulo
que já deu aulas em escolas públicas e privadas, diz que muitas vezes há escolas públicas do
bairro com desempenho melhor que essas particulares.
"Mas pesa muito na hora da escolha dos pais o fato de, na rede
privada, haver menos paralisações por greve, conselho de
classes ou outras razões."
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