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Pescador contrário a gasoduto no RJ é morto
Paulo César dos Santos Souza, 40, era fundador de uma associação que se opunha a projeto da Petrobras em Magé
Consórcio GLP Submarino executava a obra, embargada pela prefeitura horas antes do assassinato na noite de sexta-feira
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
Fundador de uma associação
que se opunha a um projeto da
Petrobras na baía de Guanabara, o pescador Paulo César dos
Santos Souza, 40, foi assassinado na noite de sexta em Magé
(região metropolitana do Rio).
A obra havia sido embargada
seis horas antes. Em abril, os
pescadores bloquearam o empreendimento por 36 dias.
O crime ocorreu por volta de
23h, na casa do tesoureiro da
Associação dos Homens do
Mar (Ahomar). Segundo testemunhas, três homens invadiram o local e, após espancá-lo,
mataram-no com cinco tiros na
face e na nuca diante da mulher
e dos filhos de 8 e 16 anos.
O projeto da Petrobras na
praia de Mauá, na baía de Guanabara, é executado pelo consórcio GLP Submarino, que
reúne as empresas GDK S.A. e
Oceânica. Estão sendo construídos dois dutos para escoamento de gás de cozinha entre
o terminal da Ilha Redonda,
perto da Ilha do Governador
(zona norte do Rio), e a Refinaria de Duque de Caxias.
Os pescadores reclamam de
degradação ambiental, da redução à metade do pescado no
mar e de acidentes provocados
por embarcações do consórcio.
Na sexta, após vistoria das secretarias de Meio Ambiente e
Fazenda de Magé, que apontou
42 supostas irregularidades, a
prefeitura cassou a licença do
canteiro de obras, que foi lacrado, seis horas antes do crime.
O corpo de Souza foi enterrado ontem de manhã no cemitério Nossa Senhora da Guia, em
Magé. Cerca de 50 pessoas
acompanharam o cortejo, inclusive o presidente da associação, Alexandre Anderson de
Souza, que afirma já ter sofrido
três atentados -o mais recente
em 1º de maio. O caso foi registrado na 66ª DP (Piabetá).
O tesoureiro da Ahomar estava afastado da "linha de frente" do movimento havia quatro
meses. Segundo uma fonte ouvida pela Folha, ele era contra
as manifestações, inclusive
porque sua mulher trabalha no
canteiro de obras. Anderson,
porém, afirma que ele se afastou, antes da admissão da mulher, porque estava com medo.
"Não há muita dúvida quanto à vinculação do homicídio e
as denúncias da associação",
disse Marcelo Freixo (PSOL),
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa do Rio.
A GDK, empresa que lidera o
consórcio, é a mesma que doou
um jipe Land Rover ao ex-dirigente do PT Silvio Pereira. A
Folha telefonou ontem para os
escritórios da GDK em São
Paulo, Rio e Salvador e mandou
e-mail para a assessoria de imprensa, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.
A Petrobras disse que vai
aguardar as investigações antes
de se pronunciar sobre o crime.
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