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SAÚDE
Laboratório recebeu mais de 200 relatos de problemas de pessoas que usaram item contaminado em cirurgia de catarata
Fabricante de medicamento admite falhas
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sócio da divisão de produtos
correlatos do laboratório farmacêutico OftVision, de São Paulo, o
médico Antônio Carlos Nunes de
Abreu, 49, reconhece que sua empresa não tinha boas práticas de
fabricação. "Nós tínhamos um
controle, mas não era o ideal que a
Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] determina."
Todos os produtos do laboratório estão suspensos no país desde
18 de junho deste ano depois de
um lote contaminado por bactérias do produto OftVisc, utilizado
em cirurgias de catarata, ter causado infecção ocular em pacientes. Os primeiros casos foram relatados à Vigilância Sanitária do
Estado de São Paulo em março. A
empresa recebeu mais de 200 relatos de problemas. Cerca de 30
pacientes seguem sob acompanhamento. A empresa informa
ter gastado R$ 2 milhões no auxílio às vítimas -vendeu a sede para pagar parte do prejuízo. "Sou
médico, imagine o que sinto."
Abreu, que tem 25% de participação no setor de produtos correlatos, assim como outros três sócios, atribui aos demais donos a
responsabilidade pelo que ocorreu. A reportagem não localizou
os outros proprietários. Segundo
Abreu, houve um desentendimento e eles estão afastados. O
médico não quis fornecer os contatos dos outros sócios.
Folha - A inspeção da Vigilância
Sanitária mostrou que havia liberações do produto sem controle de
qualidade.
Antônio Carlos Nunes de Abreu - A
gente fica no escritório, não sabe o
que realmente ocorreu. Na realidade, alguns lotes ele [o químico
do laboratório] soltou sem laudo.
Folha - O sr. demitiu o químico?
Abreu- Demiti o químico e toda
a área de produtos. Neste mês,
contratamos um farmacêutico
responsável e um outro para garantir a qualidade.
Folha - Isso não existia antes?
Abreu - Não.
Folha - Por quê?
Abreu - Porque as pessoas que
estavam envolvidas nunca se
preocuparam.
Folha - Mas o senhor não é sócio?
Abreu - Também sou. Mas cuidava da área de lentes intra-oculares. Nunca acompanhei. Fico na
área administrativa. Cada um tem
sua função.
Folha - A vistoria verificou que
não havia validação da esterilização.
Abreu - Não era validado. O que
vinha dentro [da seringa do produto] é esterilizado dentro da empresa, na autoclave. Nossa autoclave não tinha sistema de gráfico,
agora todo o ciclo está em gráfico,
documentado. Eles [uma empresa terceirizada recém-contratada]
é que validam. Colocam lá uma
cultura [de bactérias] e falam se o
equipamento está esterilizando.
Fazem de seis em seis meses.
Folha - É obrigação de vocês fornecer um produto estéril. Por que
isso não ocorreu?
Abreu - Nós tínhamos um controle, mas não era o ideal que a
Anvisa determina. Não cumprimos alguns itens. As pessoas que
trabalhavam achavam que o processo era garantido. Modificamos, readequamos a empresa.
Não tínhamos boas práticas de fabricação. Os envolvidos [diretamente na fabricação] é que têm de
ter certeza do que fazem. Estou
assumindo pela empresa.
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