São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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ADMINISTRAÇÃO

Cidade está acima do limite legal de endividamento; Marta diz que "isso vai ter de ser repensado" em maio

Bomba-relógio da dívida de SP fica para 2005

Ciete Silvério/Folha Imagem
Marta e seu vice, Hélio Bicudo, ao apresentar o balanço da gestão


PEDRO DIAS LEITE
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita Marta Suplicy (PT) elencou ontem uma série de aspectos que considera positivos durante o balanço de três anos e meio de sua gestão ontem, mas não soube responder como vai lidar com o problema da escalada da dívida paulistana.
"Quando chegar maio, isso vai ter de ser repensado, porque a cidade de São Paulo não pode parar. Eu gostaria de saber quais são as outras alternativas, se vocês tiverem", disse a prefeita, se dirigindo aos jornalistas.
A dívida, de R$ 26,1 bilhões, está hoje muito acima do limite permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o que pode "engessar" o próximo governo, afetando sua capacidade de investimento.
A obrigatoriedade de cumprir o limite da lei está suspensa por uma resolução do Senado, mas recomeça a valer a partir de maio de 2005. Depois de apenas quatro meses de mandato, o próximo prefeito, seja Marta ou algum de seus concorrentes, voltará a ficar sujeito aos limites.

Pior cenário
Se nada for feito, a partir de maio de 2005 a prefeitura paulistana terá de gastar quase um quarto de todo o seu Orçamento para o pagamento da dívida.
O raciocínio é o seguinte:
1) hoje São Paulo deve 2,35 vezes o que arrecada -quase o dobro da relação máxima fixada pela Lei de Responsabilidade Fiscal;
2) pela lei, a diferença terá de ser gradativamente reduzida até que, em 2016, se enquadre ao limite máximo (1,2, ou seja, dívida equivalente a 120% da arrecadação);
3) para que isso aconteça, a cidade terá de gastar mais cerca de 10% de sua receita anual para o pagamento de juros da dívida;
4) como São Paulo já utiliza 13% de tudo o que arrecada para esse fim, o próximo prefeito pode ter 23% de seu Orçamento engessado pelo pagamento da dívida.
A questão preocupa inclusive os partidos que disputam contra Marta a eleição de outubro. "A inépcia desta gestão inviabilizou econômica e financeiramente a cidade", criticou o vereador Ricardo Montoro (PSDB), do partido de José Serra.
A prefeitura culpa principalmente o acordo de renegociação da dívida com o governo federal feito em 2000 entre Celso Pitta (1997-2000) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
O acordo previa o pagamento de uma parcela de 20% do total da dívida depois de 30 meses da negociação, em novembro de 2002.
Essa parcela, de R$ 3 bilhões, correspondia a quase um terço do Orçamento paulistano em 2002, o equivalente a todos os gastos com saúde e educação. Como a gestão Marta não pagou, os juros subiram de 6% para 9%, como estava previsto no contrato, o que provocou um aumento de R$ 4 bilhões no total da dívida.
O assessor de imprensa de Pitta, Antenor Braido, disse que a renegociação foi feita em termos vantajosos. Sobre a parcela corresponder a um terço do Orçamento, Braido afirmou que Marta deveria ter levado adiante projetos de Pitta, como a venda do Pacaembu, para obter recursos.
Todo o secretariado da prefeita compareceu à cerimônia de apresentação do balanço. Questionada sobre o que ainda falta fazer, a petista respondeu: "É só um balanço. Não vou fazer campanha agora". Amanhã, o PT confirma, em convenção, seu nome como candidata à reeleição.


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