São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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BARBARA GANCIA

Morte transforma Brizola em herói nacional

O extraterrestre que porventura tenha desembarcado no país nesta semana corre o risco de interpretar alguns fatos pela metade.
Se ele foi exposto à propaganda eleitoral, deve estar com a impressão de que Paulo Maluf é filho ou neto de algum Paul Getty ou Henry Ford. A Eucatex já foi uma senhora empresa. Mas nem que um dia tivesse sido um colosso como a Standard Oil ou a Ford de outros tempos seria capaz de gerar dividendos com somas próximas das que surgem nos extratos das contas supostamente pertencentes a Maluf.
E o que o ET visitante deduziria das vaias dirigidas a Lula no velório de Leonel Brizola? Aviltante que foi, a agressão dos brizolistas ao menos serviu para colocar em evidência o descompasso do nacionalismo mais primário em relação ao mundo real. Tomara que o extraterrestre acidental possa ter percebido que essa visão delirante é a de uma minoria.
Sobre Leonel de Moura Brizola, então, o que o ET deve estar pensando? Nos dias que sucederam à morte do pedetista, pintou-se um Brizola heróico, que impediu um golpe sangrento em 1961 e levou suas convicções até o fim.
Sim, mas será que ninguém vai contar ao ET sobre o lado incendiário de Brizola? Sobre sua complacência com a bandidagem e sobre os acordos selados com bicheiros, que estão na raiz da violência que hoje assola o Rio?
Engraçado esse nosso pudor em face da morte. Em vez de falar abertamente sobre o atraso que Brizola representou, optamos por supervalorizar seu dom para dar apelidos jocosos aos adversários ou por enaltecer a construção de uma arena para desfiles de escolas de samba.
Por falar em samba, quem espera ver ginga com bola no filme "Pelé Eterno", que estréia hoje nos cinemas, deve ir preparado. As imagens dos gols são emocionantes, o lencinho que levei por precaução saiu encharcado do auditório do Palácio dos Bandeirantes, onde assisti à "avant-première". Mas receio que o filme não vá comover a geração "Matrix". Os gols do rei são intercalados por imagens de Pelé e família sentados em um sofá emitindo frases ensaiadas. O tom é o de uma aula de OSPB e a apresentação das imagens está mais para Primo Carbonari do que para o Canal 100 de Carlos Niemeyer. A história é contada de forma cronológica, o que torna o final arrastado. A ponto de meu sobrinho, um santista roxo de 12 anos, passar a última meia hora de filme perguntando: "Falta muito para acabar, tia?".

QUALQUER NOTA

Iluminação
Quando perguntaram à humorista Ellen de Generes o que fará com a réplica da tocha olímpica que levou por participar do revezamento, ela disparou: "Vou usar para fazer cooper à noite".

Tempo na badalação
Parreira pode ter errado ao colocar a boa forma de Ronaldo nas mãos da Cicarelli. Mas quem prestou atenção ao comentário percebeu um puxão de orelha nas entrelinhas. Ele veio na torcida do técnico para que o jogador "volte a dormir cedo".

Cadê meu picolé?
Eu não disse que o texto da carta ao banco suíço não tinha sido redigido pelo punho de Maluf?

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