São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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OPERAÇÃO LINCE

Baltazar afirma que fez "as consultas de praxe"

Chefe da PF de SP diz estar tranqüilo depois de prisões de subordinados

IURI DANTAS
EM SÃO PAULO

Ex-coordenador de segurança do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e adepto de frases como "quem anda direito tem direitos", o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, afirmou ontem ter a "consciência tranqüila" sobre a prisão de funcionários seus por corrupção e outros crimes.
Anteontem, durante a Operação Lince desencadeada pela PF, foram presas seis pessoas em Ribeirão Preto, incluindo dois delegados -um deles chefe do escritório da PF na cidade- e um agente federal. Eles são acusados de ligação com esquemas de roubo de carga e adulteração de combustíveis.
Em entrevista à Folha, Baltazar afirma que fez "as consultas de praxe" sobre os policiais nomeados por ele para cargos de confiança que foram presos pela PF. Ele também nega ter sido escanteado pela direção-geral da PF nas ações desencadeadas em São Paulo -Anaconda e Shogun, quando também ocorreram prisões de policiais federais. Leia os trechos da entrevista:
 

Folha - A PF já prendeu diversas pessoas que o sr. nomeou. O sr. está confortável no cargo?
Francisco Baltazar da Silva -
Tenho a consciência tranqüila. A PF passa por um processo de depuração que é salutar. Não quero prejulgar absolvendo ou condenando quem quer que seja, até porque está tudo sub judice. Se o colega estava trilhando o caminho certo e desviou do caminho, o problema é dele. Cada um de nós é responsável. Nomeei sim, mas fiz as consultas de praxe.

Folha - O sr. se sente sob suspeita? Teme ser preso?
Baltazar -
Não. Na operação em que se prendeu o Law Kim Chong [contrabandista que teria subornado cerca de 200 pessoas, entre elas policiais federais], falou-se que a PF de São Paulo está sob suspeita. O Law existe não é de fevereiro do ano passado para cá, não só esse Law como muitos outros Laws. Eu sei o que eu faço, não estou brincando. É óbvio que, se sei que alguém está envolvido, não vou convidar para um cargo. Mas é lógico que é difícil.

Folha - A relação do sr. com a direção em Brasília fica prejudicada?
Baltazar -
A Folha diz que fui alijado das megaoperações. Isso é mentira. Aquele telefone branco meu é criptografado, linha direta com Brasília. Houve um troço pontual na Operação Anaconda [quando a PF desbaratou uma quadrilha que vendia sentenças e prendeu dois delegados da PF]? Houve. Foi sanado? Foi sanado. A vida continua. É óbvio que a gente sabe das operações. A gente tem o perfil dos colegas, sabe quando o cara é meio esquisito.

Folha - O sr. chegou a prometer que em dez dias derrubaria o diretor-geral Paulo Lacerda durante a Anaconda, tamanha era sua queixa. O diálogo foi restabelecido?
Baltazar -
Só restaria algo pessoal se eu fosse muito ignorante. Foi pontual, mas recebeu uma dimensão grande. Não sou indisciplinado, respeito hierarquia, vou fazer 32 anos aqui. E a PF é o que é baseada em hierarquia e disciplina. Mas, baseado na hierarquia e disciplina, não quer dizer que eu, como subordinado, não possa contestar, não possa discutir uma posição, ter outra opinião.


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