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SP paga o 2º pior salário para delegado
Governo paulista paga R$ 3.000 no início de carreira; em Mato Grosso, ganho chega a R$ 8.552, o maior valor do país
Para a associação da classe, baixos vencimentos desestimulam profissionais e abrem brecha para casos de corrupção na categoria
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Estado de São Paulo paga o
segundo menor salário do país
para um delegado em início de
carreira. Apesar de ser a maior
economia do Brasil, o Estado fica à frente apenas da Paraíba
no valor da remuneração.
Para se ter uma idéia, o Orçamento paulista para este ano é
de R$ 81,292 bilhões. Já o da
Paraíba é de R$ 3,987 bilhões.
Segundo dados da Secretaria
da Segurança Pública do Estado, o salário inicial bruto paulista é de R$ 3.000 para um delegado que trabalha em um município com menos de 50 mil
habitantes. A Paraíba paga R$
2.865,80 em todas as cidades.
Em cidades com mais de 500
mil moradores, o salário é de
R$ 3.483,35. O valor é inferior
ao que ganha um agente de terceira classe (a mais baixa) do
Distrito Federal, R$ 5.062,17.
A Folha fez um levantamento do salário inicial dos delegados em todos os Estados (veja
quadro). O maior é o de Mato
Grosso, R$ 8.552,32. Segundo a
associação de delegados de polícia do Estado, o salário é melhor porque eles conseguiram
equiparação com os procuradores estaduais.
A função atrai pessoas de todo o país. "No último concurso
para delegado, mais da metade
dos inscritos era de outros Estados", disse o presidente da
associação, Nilton Teixeira, ex-investigador em São Paulo.
Progressão salarial
De acordo com o governo
paulista, o delegado fica três
anos ganhando o salário inicial
e depois passa para outra faixa.
Atualmente, há 3.239 delegados no Estado -153 recebem o
vencimento inicial. De acordo
com a secretaria, a progressão é
feita somente quando há vagas.
Metade das vagas é preenchida
por merecimento, e a outra
parte, por antigüidade.
Segundo a Adpesp (associação dos delegados do Estado de
São Paulo), não há um plano de
carreira estabelecido e um delegado pode ficar até 16 anos na
quarta classe (uma após a inicial, a segunda mais baixa).
Uma tabela feita pela Adpesp
mostra que um delegado de
classe especial, a mais alta, com
40 anos de carreira, ganha cerca de R$ 7.600 brutos, menos
do que o salário inicial em Mato
Grosso e o pago pelo Distrito
Federal, que é de R$ 8.355,42.
Em São Paulo, o piso da classe especial é de R$ 5.885,81. A
esse valor, diz o governo, não
está somada a gratificação do
qüinqüênio, que eles recebem a
cada cinco anos de serviço.
Segundo o presidente da Adpesp, André Di Rissio, um baixo
salário dá margem à corrupção
e provoca evasão de pessoal. "É
incompatível com a atividade
de um delegado. Faz mal para a
auto-estima e prejudica a população. Se continuar assim, os
novos delegados que procurarem a carreira ou entrarão mal-intencionados ou terão que se
manterem por si só."
De acordo com Di Rissio,
muitos largam a profissão, fazem outros concursos ou vão
ser policiais fora do Estado.
Foi o caso do delegado Mário
Henrique Jorge, 34. Paulista de
Presidente Prudente, ele passou menos de um ano como delegado em São Paulo e resolveu
fazer concurso no Distrito Federal. Há sete anos, trabalha lá
e ganha quase o triplo do que
receberia no Estado. "Saí de
São Paulo por questão salarial e
de condições de trabalho", diz.
Um delegado da capital -ele
não quer se identificar-, há dez
anos na polícia, ainda está na
chamada quarta classe e ganha
cerca de R$ 500 acima do salário inicial. Há oito anos, ele dá
aulas para aumentar a renda.
"Ganho mais na faculdade, mas
não deixo a polícia porque amo
o que faço", diz.
Estímulo à corrupção
Baixo salário pode gerar corrupção e provocar evasão, dizem especialistas em segurança pública. "Há o perigo de as
pessoas deixarem de fazer seu
serviço em troca de dinheiro ou
favor", afirma o coronel José
Vicente da Silva, ex-secretário
nacional de Segurança Pública.
Segundo o professor Claudio
Beato, coordenador do Centro
de Estudos em Criminalidade e
Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais,
delegados acabam procurando
uma segunda atividade para
complementar a renda. "Dão
consultoria em segurança privada, se tornam comerciantes.
Isso desprofissionaliza."
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