São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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MARIA D'ALVA GIL KINZO (1951-2008)

Uma história da democracia brasileira

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos no país entendiam de partidos políticos como ela. Era irromper uma crise no apoio da base governista no Congresso e a imprensa correr a ouvi-la, sedenta por afirmações. Mas Maria D'Alva Kinzo costumava ser tão tímida quanto precisa. "Cada frase sua era assentada em pesquisa. E ela só falava sobre o que sabia."
Assim a moça de olhos puxados e "pouco falar", neta de japoneses de Okinawa nascida em Paranagi (PR), formou-se em ciências sociais e foi estagiária do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento -diz a irmã, sob a batuta de Fernando Henrique Cardoso. Foi no doutorado em Oxford, na Inglaterra, que defendeu a tese "Oposição e Autoritarismo - Gênese e Trajetória do MDB", que virou livro e referência sobre os partidos democráticos.
Apesar de "neutra e objetiva nas pesquisas", diz uma amiga, era tucana, das que viram o PSDB emergir do MDB, uma entre tantos ex-alunos de FHC -cuja preocupação maior era a fragmentação dos partidos, para ela, nociva à jovem democracia. E, com seus seminários em Londres, virou referência sobre política brasileira.
Tornou-se professora da USP em 1987, onde virou livre-docente. Só deixou de lecionar em 2005, ao descobrir o câncer. Voltou-se ao tratamento e a tocar piano, como fazia aos 6 anos, "para manter a coordenação motora".
Amante de óperas, boa comida e bom vinho, não abria mão de sair para se divertir, mesmo na cadeira de rodas. As muitas amigas se revezavam, diz a irmã, para levá-la. Morreu domingo, aos 57.


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