São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Hospital descumpre protocolo da gripe suína

Pacientes que procuraram os hospitais São Luiz e Nove de Julho não receberam questionários sobre viagens recentes

Em um dos casos, paciente foi tratada como se tivesse gripe comum e só teve diagnóstico correto após procurar outro hospital


MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase 50 dias após o Brasil divulgar os primeiros infectados da gripe A (H1N1), a gripe suína, alguns hospitais de São Paulo ainda não seguem à risca orientações do protocolo de atendimento do Ministério da Saúde para casos suspeitos.
A Folha constatou que em atendimentos nos hospitais São Luiz e Nove de Julho não foi feito o questionamento básico sobre o histórico do paciente: se esteve recentemente em outro país (principalmente Argentina, Chile, Canadá, EUA e México) ou se manteve contato com alguém que acabou de retornar do exterior.
Esse questionamento é importante, segundo o Ministério da Saúde, porque, num primeiro momento, a informação sobre a viagem internacional é um importante indício de que a doença pode não ser uma gripe comum, mas a gripe suína.
Todos os casos registrados no país, segundo o governo, tiveram origem no exterior (o paciente viajou ou teve contato com alguém que viajou).

Tratamento comum
Roberta Costa Xavier, 28, que trabalha como revisora em uma agência de publicidade, diz ter sido uma das vítimas das falhas de atendimento.
Ela teve a gripe suína confirmada após fazer exames no Instituto Emílio Ribas, uma das três unidades de referência para onde os casos suspeitos estão sendo encaminhados. Contudo, enfrentou percalços quando surgiram os sintomas.
Ela esteve na Argentina no feriado de Corpus Christi e, de volta ao Brasil, sentiu febre e dores no corpo. Correu para o Hospital São Luiz (Itaim), mas diz ter recebido tratamento de gripe comum. Ninguém perguntou nada sobre viagens.
"Não recebi nem atestado médico e voltei a trabalhar." Como os sintomas não passavam, três dias depois procurou outro hospital, onde o caso foi encaminhado corretamente e a gripe suína acabou confirmada.
"Acabei piorando e colocando outras pessoas em risco", diz. Desde então, duas colegas de Roberta apresentaram sintomas e fizeram exames para saber se têm a gripe A (os resultados ainda não saíram).
Ontem, o jornalista da Folha José Benedito da Silva buscou atendimento no Hospital Nove de Julho após ter febre e dor de garganta e também verificou a falta de questionamento.
Embora houvesse na mesa do médico um encarte com as recomendações oficiais para a doença, ele não foi questionado sobre viagens.
A Folha conversou com outros pacientes desses hospitais que fizeram relatos parecidos.
Segundo a assessoria dos hospitais São Luiz e Nove de Julho, as diretrizes de atendimento são seguidas.
O São Luiz afirma que Roberta não apresentava sintomas da gripe no atendimento, o que foi determinante para a abordagem.
O Nove de Julho afirma que José Benedito não tinha febre, principal sintoma, e assim, não foi tratado como suspeito.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvêncio Furtado, o fato de o paciente não ter febre alta em um exame preliminar não deve ser motivo para se descartar a possibilidade da gripe. "Se o paciente relatar que teve febre ou outros sintomas, deve-se investigar", diz.


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