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Hospital descumpre protocolo da gripe suína
Pacientes que procuraram os hospitais São Luiz e Nove de Julho não receberam questionários sobre viagens recentes
Em um dos casos, paciente foi tratada como se tivesse gripe comum e só teve diagnóstico correto após procurar outro hospital
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase 50 dias após o Brasil
divulgar os primeiros infectados da gripe A (H1N1), a gripe
suína, alguns hospitais de São
Paulo ainda não seguem à risca
orientações do protocolo de
atendimento do Ministério da
Saúde para casos suspeitos.
A Folha constatou que em
atendimentos nos hospitais
São Luiz e Nove de Julho não
foi feito o questionamento básico sobre o histórico do paciente: se esteve recentemente
em outro país (principalmente
Argentina, Chile, Canadá, EUA
e México) ou se manteve contato com alguém que acabou de
retornar do exterior.
Esse questionamento é importante, segundo o Ministério
da Saúde, porque, num primeiro momento, a informação sobre a viagem internacional é
um importante indício de que a
doença pode não ser uma gripe
comum, mas a gripe suína.
Todos os casos registrados
no país, segundo o governo, tiveram origem no exterior (o
paciente viajou ou teve contato
com alguém que viajou).
Tratamento comum
Roberta Costa Xavier, 28,
que trabalha como revisora em
uma agência de publicidade,
diz ter sido uma das vítimas das
falhas de atendimento.
Ela teve a gripe suína confirmada após fazer exames no
Instituto Emílio Ribas, uma
das três unidades de referência
para onde os casos suspeitos
estão sendo encaminhados.
Contudo, enfrentou percalços
quando surgiram os sintomas.
Ela esteve na Argentina no
feriado de Corpus Christi e, de
volta ao Brasil, sentiu febre e
dores no corpo. Correu para o
Hospital São Luiz (Itaim), mas
diz ter recebido tratamento de
gripe comum. Ninguém perguntou nada sobre viagens.
"Não recebi nem atestado
médico e voltei a trabalhar."
Como os sintomas não passavam, três dias depois procurou
outro hospital, onde o caso foi
encaminhado corretamente e a
gripe suína acabou confirmada.
"Acabei piorando e colocando outras pessoas em risco",
diz. Desde então, duas colegas
de Roberta apresentaram sintomas e fizeram exames para
saber se têm a gripe A (os resultados ainda não saíram).
Ontem, o jornalista da Folha
José Benedito da Silva buscou
atendimento no Hospital Nove
de Julho após ter febre e dor de
garganta e também verificou a
falta de questionamento.
Embora houvesse na mesa
do médico um encarte com as
recomendações oficiais para a
doença, ele não foi questionado
sobre viagens.
A Folha conversou com outros pacientes desses hospitais
que fizeram relatos parecidos.
Segundo a assessoria dos
hospitais São Luiz e Nove de
Julho, as diretrizes de atendimento são seguidas.
O São Luiz afirma que Roberta não apresentava sintomas da gripe no atendimento, o
que foi determinante para a
abordagem.
O Nove de Julho afirma que
José Benedito não tinha febre,
principal sintoma, e assim, não
foi tratado como suspeito.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvêncio Furtado, o fato de
o paciente não ter febre alta em
um exame preliminar não deve
ser motivo para se descartar a
possibilidade da gripe. "Se o paciente relatar que teve febre ou
outros sintomas, deve-se investigar", diz.
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