São Paulo, quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Lista contra barulho vira confusão entre boate e vizinhança

Após o abaixo-assinado, moradores afirmam sofrer coação de donos da casa noturna A Loca, que os acusa de falsificar nomes

Manifesto pede a saída da balada da rua Frei Caneca; troca de acusações deu origem a queixa na polícia e inquérito na Promotoria


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem confusão daquelas na rua Frei Caneca, uma travessa da avenida Paulista que desce na direção da região central.
De um lado, moradores dizem sofrer coação e intimidação dos donos de uma boate gay por terem assinado um manifesto pedindo a saída da balada dali. Do outro, o pessoal da casa noturna A Loca acusa os vizinhos de falsificar nomes do abaixo-assinado, que já teria 3.000 signatários desde que começou a circular, em 5 de maio.
O caso foi parar na polícia, que registrou um boletim de ocorrência, e no Ministério Público, que abriu um inquérito civil. A defesa da boate foi apresentada nesta semana à Promotoria, em 200 páginas.
A queixa da vizinhança é sobre o barulho. Eles dizem que o clube, aberto 14 anos atrás, no começo só funcionava aos fins de semana. Depois, passou a abrir também às quintas-feiras e hoje só fecha às segundas.
A boate diz ter todas as licenças e alvarás para continuar aberta. A prefeitura confirma a situação regular do lugar. Só neste ano, diz a Subprefeitura da Sé, o Psiu fez cinco vistorias na Loca e constatou que o barulho do tráfego de carros e pedestres na rua é equivalente àquele dentro da balada, o que inviabiliza a aplicação de multa.
"Eles abaixam o som quando o Psiu, que vem com veículos da Guarda Municipal, aparece. A boate tem olheiros. É muita sujeira, brigas e gritaria a noite inteira", diz o morador O.K., que, por medo de retaliação, pede para não ter o nome revelado.

Poluição sonora
"O dono da Loca, um argentino, já conhece alguns moradores. Ele ficou sabendo da adesão de alguns ao abaixo-assinado e começou a ir atrás para pressionar", afirma Fernando, outro vizinho da boate.
"É aquela velha história de ruído e as pessoas se sentem incomodadas. A reclamação de poluição sonora ali é antiga", diz o promotor Marcos Lúcio Barreto, que assumiu o caso.
"O problema é bem diferente. Foram colocados comerciantes assinando uma declaração contra a boate. Falamos com eles, que disseram que jamais foram procurados. Um boletim de ocorrência foi feito na polícia, não é assim como eles estão falando. As pessoas que fizeram a coisa errada agora querem posar de vítima", afirma Julio Baldermann, um dos donos da Loca.
Segundo os moradores, a suposta coação feita pelos sócios da boate ocorria na companhia de um advogado, que dizia ter um "dossiê" sobre a vida dos signatários e falava nomes de pais e filhos e números de documentos pessoais.
A Samorcc, a associação do bairro Cerqueira César, diz que, durante a suposta intimidação, um dos donos da boate passou a andar com um cachorro da raça pit bull pela rua.
"Eles perguntam: "O que você tem contra a Loca?". Se fizessem uma abordagem legítima, por que não deixariam cartão de visita?", diz outro morador.
"Falsas e sistemáticas denúncias aos órgãos fiscalizadores da prefeitura, acusações truculentas e um abaixo-assinado no qual comerciantes da rua Frei Caneca figuram nele sem nem sequer terem sido consultados demonstram o grau de histeria dos denunciantes", diz nota da casa noturna.
A discórdia entre vizinhos e a boate foi acirrada com a proposta de tornar a Frei Caneca oficialmente a rua gay da cidade, por ali circularem e viverem muitos homossexuais e travestis. A casa noturna diz ter sido contra o projeto, proposto por uma ONG. Em dois anos, 12 bares e boates foram abertos na região da rua Frei Caneca.


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