|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lista contra barulho vira confusão entre boate e vizinhança
Após o abaixo-assinado, moradores afirmam sofrer coação de donos da casa noturna A Loca, que os acusa de falsificar nomes
Manifesto pede a saída da balada da rua Frei Caneca; troca de acusações deu origem a queixa na polícia e inquérito na Promotoria
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem confusão daquelas na
rua Frei Caneca, uma travessa
da avenida Paulista que desce
na direção da região central.
De um lado, moradores dizem sofrer coação e intimidação dos donos de uma boate gay
por terem assinado um manifesto pedindo a saída da balada
dali. Do outro, o pessoal da casa
noturna A Loca acusa os vizinhos de falsificar nomes do
abaixo-assinado, que já teria
3.000 signatários desde que começou a circular, em 5 de maio.
O caso foi parar na polícia,
que registrou um boletim de
ocorrência, e no Ministério Público, que abriu um inquérito
civil. A defesa da boate foi apresentada nesta semana à Promotoria, em 200 páginas.
A queixa da vizinhança é sobre o barulho. Eles dizem que o
clube, aberto 14 anos atrás, no
começo só funcionava aos fins
de semana. Depois, passou a
abrir também às quintas-feiras
e hoje só fecha às segundas.
A boate diz ter todas as licenças e alvarás para continuar
aberta. A prefeitura confirma a
situação regular do lugar. Só
neste ano, diz a Subprefeitura
da Sé, o Psiu fez cinco vistorias
na Loca e constatou que o barulho do tráfego de carros e pedestres na rua é equivalente
àquele dentro da balada, o que
inviabiliza a aplicação de multa.
"Eles abaixam o som quando
o Psiu, que vem com veículos da
Guarda Municipal, aparece. A
boate tem olheiros. É muita sujeira, brigas e gritaria a noite inteira", diz o morador O.K., que,
por medo de retaliação, pede
para não ter o nome revelado.
Poluição sonora
"O dono da Loca, um argentino, já conhece alguns moradores. Ele ficou sabendo da adesão de alguns ao abaixo-assinado e começou a ir atrás para
pressionar", afirma Fernando,
outro vizinho da boate.
"É aquela velha história de
ruído e as pessoas se sentem incomodadas. A reclamação de
poluição sonora ali é antiga",
diz o promotor Marcos Lúcio
Barreto, que assumiu o caso.
"O problema é bem diferente. Foram colocados comerciantes assinando uma declaração contra a boate. Falamos
com eles, que disseram que jamais foram procurados. Um
boletim de ocorrência foi feito
na polícia, não é assim como
eles estão falando. As pessoas
que fizeram a coisa errada agora querem posar de vítima",
afirma Julio Baldermann, um
dos donos da Loca.
Segundo os moradores, a suposta coação feita pelos sócios
da boate ocorria na companhia
de um advogado, que dizia ter
um "dossiê" sobre a vida dos
signatários e falava nomes de
pais e filhos e números de documentos pessoais.
A Samorcc, a associação do
bairro Cerqueira César, diz
que, durante a suposta intimidação, um dos donos da boate
passou a andar com um cachorro da raça pit bull pela rua.
"Eles perguntam: "O que você
tem contra a Loca?". Se fizessem uma abordagem legítima,
por que não deixariam cartão
de visita?", diz outro morador.
"Falsas e sistemáticas denúncias aos órgãos fiscalizadores da prefeitura, acusações
truculentas e um abaixo-assinado no qual comerciantes da
rua Frei Caneca figuram nele
sem nem sequer terem sido
consultados demonstram o
grau de histeria dos denunciantes", diz nota da casa noturna.
A discórdia entre vizinhos e a
boate foi acirrada com a proposta de tornar a Frei Caneca
oficialmente a rua gay da cidade, por ali circularem e viverem
muitos homossexuais e travestis. A casa noturna diz ter sido
contra o projeto, proposto por
uma ONG. Em dois anos, 12 bares e boates foram abertos na
região da rua Frei Caneca.
Texto Anterior: Rio: Justiça manda prender 4 PMs acusados de matar engenheira Próximo Texto: Frases Índice
|