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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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SAÚDE

Responsável concluiu apenas ensino técnico; dona do laboratório disse que não sabia da necessidade de profissional

Gel suspeito não tinha farmacêutico

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
GUSTAVO HOFMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

O técnico responsável pela fabricação do gel oftálmico Methyl Lens Hypac, que pode ter causado cegueira em pelo menos 13 pacientes, não tem qualificação para elaborar medicamentos. Fábio Luís da Silva não é farmacêutico e concluiu apenas o ensino técnico, de nível médio, em bioquímica.
A declaração foi dada em depoimento ontem à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pirataria, na Câmara dos Deputados, que investiga a produção de remédios falsos.
A proprietária do laboratório Lens Surgical, que produzia o medicamento, Gildenice Mendes de Oliveira, afirmou que não sabia da necessidade de nível superior para a produção do gel oftálmico.
Também foram ouvidos os sócios do laboratório José Soares da Silva e José Roberto Coelho, este último considerado um laranja pelos deputados, e Raimundo José dos Santos, acusado de ser o responsável pela administração da empresa, embora não apareça em sua composição acionária.
O Lens Surgical não possui registro no Ministério da Saúde para a produção de medicamentos nem autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para funcionar.
O gel oftálmico era fabricado com o registro de uma empresa de cosméticos, a HEJ, que tinha permissão apenas para a produção de óleo de massagem.
Após a descoberta dos casos de cegueira no Rio, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) descobriu em Campinas uma rede de sete empresas suspeitas de fabricar 16 tipos de gel oftalmológico, sem registro, para uso pós-operatório -todos à base de metilcelulose.
Silva aparece como responsável técnico em outros dois desses medicamentos -Methil for Eyes 4% e Colírio de Nitrato de Prata 1%. Outros nove nem sequer têm registro de um responsável técnico.
Os negócios do grupo começaram com o marido de Oliveira, o farmacêutico Claudio Torres, que já morreu. Ele possuía uma farmácia de manipulação e, segundo Oliveira, comprou a empresa HEJ apenas pelo registro no Ministério da Saúde.
O gel oftálmico estaria contaminado por uma bactéria, o que pode ter causado cegueira em alguns pacientes. O deputado Josias Quintal (PSB-RJ) chegou a pedir a prisão preventiva de Oliveira, Luís da Silva, Soares da Silva e José dos Santos por formação de quadrilha, falsidade ideológica e crime hediondo, mas retirou os requerimentos alegando que foram "intempestivos".


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