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SAÚDE
Responsável concluiu apenas ensino técnico; dona do laboratório disse que não sabia da necessidade de profissional
Gel suspeito não tinha farmacêutico
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
GUSTAVO HOFMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
O técnico responsável pela fabricação do gel oftálmico Methyl
Lens Hypac, que pode ter causado
cegueira em pelo menos 13 pacientes, não tem qualificação para
elaborar medicamentos. Fábio
Luís da Silva não é farmacêutico e
concluiu apenas o ensino técnico,
de nível médio, em bioquímica.
A declaração foi dada em depoimento ontem à CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) da Pirataria, na Câmara dos Deputados, que investiga a produção de
remédios falsos.
A proprietária do laboratório
Lens Surgical, que produzia o medicamento, Gildenice Mendes de
Oliveira, afirmou que não sabia
da necessidade de nível superior
para a produção do gel oftálmico.
Também foram ouvidos os sócios do laboratório José Soares da
Silva e José Roberto Coelho, este
último considerado um laranja
pelos deputados, e Raimundo José dos Santos, acusado de ser o
responsável pela administração
da empresa, embora não apareça
em sua composição acionária.
O Lens Surgical não possui registro no Ministério da Saúde para a produção de medicamentos
nem autorização da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) para funcionar.
O gel oftálmico era fabricado
com o registro de uma empresa
de cosméticos, a HEJ, que tinha
permissão apenas para a produção de óleo de massagem.
Após a descoberta dos casos de
cegueira no Rio, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) descobriu em Campinas uma
rede de sete empresas suspeitas de
fabricar 16 tipos de gel oftalmológico, sem registro, para uso pós-operatório -todos à base de metilcelulose.
Silva aparece como responsável
técnico em outros dois desses medicamentos -Methil for Eyes 4%
e Colírio de Nitrato de Prata 1%.
Outros nove nem sequer têm registro de um responsável técnico.
Os negócios do grupo começaram com o marido de Oliveira, o
farmacêutico Claudio Torres, que
já morreu. Ele possuía uma farmácia de manipulação e, segundo
Oliveira, comprou a empresa HEJ
apenas pelo registro no Ministério da Saúde.
O gel oftálmico estaria contaminado por uma bactéria, o que pode ter causado cegueira em alguns
pacientes. O deputado Josias
Quintal (PSB-RJ) chegou a pedir a
prisão preventiva de Oliveira, Luís
da Silva, Soares da Silva e José dos
Santos por formação de quadrilha, falsidade ideológica e crime
hediondo, mas retirou os requerimentos alegando que foram "intempestivos".
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