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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/JOGO DE EMPURRA
Funcionários isentam TAM e Infraero
Servidores tentaram eximir, em depoimento à Polícia Civil, as respectivas empresas de responsabilidade em acidente
Tal qual um jogo de empurra, pilotos da TAM atribuíram problema à pista de Congonhas; funcionários da Infraero negaram
PAULO SAMPAIO
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois comandantes da TAM e
dois técnicos da Infraero (estatal que administra os aeroportos) tentaram ontem, em depoimento à Polícia Civil de São
Paulo, isentar suas empresas da
responsabilidade pelo acidente
com o vôo JJ 3450.
Em um jogo de empurra-empurra, os comandantes que pilotaram a mesma aeronave dois
dias antes do acidente afirmaram que o avião não tinha problemas mecânicos, apesar do
reversor direito estar inoperante, mas reclamaram das
condições da pista principal de
Congonhas em dias de chuva.
Designados para vistoriar as
condições da pista mais de uma
hora antes do acidente, os dois
técnicos da Infraero afirmam
que não existiam poças d'água e
que havia condições de as operações continuarem. Tanto
que, afirmaram, foram realizados 40 pousos e decolagens até
o momento do acidente, o que
dá a entender que o problema
seria com a aeronave da TAM.
Em depoimento, o comandante Marcelo Sousa Soares,
que pilotou a mesma aeronave
dois dias antes do acidente, mas
não passou por Congonhas,
afirmou à polícia que o avião
não tinha problemas mecânicos e que os reversores são
"meros acessórios auxiliares".
Ele salientou que a pista de
Congonhas apresenta dificuldades de pouso em dias de chuva. E que essas condições pioraram com a reforma do local.
Soares disse que teve dificuldade em aterrizar na pista, mas
não informou o dia.
O comandante José Eduardo
Batalha Brosco, que pilotou a
aeronave no dia anterior ao acidente, também tentou diminuir a importância da inoperância do reversor (dispositivo
que auxilia na frenagem da aeronave). Ele salientou que o
pouso é feito em segurança
mesmo sem os reversores.
Brosco narrou dificuldades
para pousar a aeronave no dia
anterior ao acidente com o vôo
JJ 3450 em Congonhas por
causa da pista escorregadia. Segundo ele, houve "momentos
de tensão". Ele disse que teve a
"sensação de que a aeronave
não pararia a tempo".
Sem pressão
Os dois pilotos, que tiveram
autorização da TAM para dar
entrevista a uma emissora de
TV, negaram sofrer pressões
por parte da empresa, segundo
o promotor Mário Luiz Sarrubbo, designado para acompanhar as investigações no 27º
DP (Campo Belo). Ontem, os
comandantes e os técnicos não
falaram com a imprensa.
Segundo o promotor Mário
Luiz Sarrubbo, que acompanha
as investigações, os técnicos da
Infraero, Esdras Barros e Agnaldo Molina, disseram que a
pista de Congonhas não tinha
lâminas d'água quando eles vistoriaram o local, menos de duas
horas antes do acidente.
Os dois inspecionaram a pista após um piloto da Gol comunicar que ela estava escorregadia. Os técnicos informaram à
torre sobre as condições da pista por volta das 17h30 do dia 17,
quando o aeroporto foi reaberto. O acidente com o avião da
TAM ocorreu às 18h51.
Segundo Sarrubbo, técnicos
demoraram 15 minutos para fazer uma checagem, apenas visual da pista, que mede 1.940
metros -a medição com uma
régua só é feita quando existem
poças d'água. "É o procedimento de praxe", disse Sarrubbo.
Segundo o diretor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos
Camacho, a análise é rápida
porque o pessoal é treinado e já
conhece os pontos de acúmulo
de água na pista.
O comandante Ronaldo Jenkins, coordenador de segurança de vôo do Snea (Sindicato
Nacional das Empresas Aéreas), disse desconhecer a existência de sistemas de monitoramento do nível de água na
pista que não sejam os usados
em Congonhas. "A questão é
outra. Não se formariam poças
d'água na pista se a drenagem
fosse eficiente. Não existe isso
de pista com água, o sistema
tem de drenar, se tem poço,
tem defeito."
Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO,
da Reportagem Local
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