São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/JOGO DE EMPURRA

Funcionários isentam TAM e Infraero

Servidores tentaram eximir, em depoimento à Polícia Civil, as respectivas empresas de responsabilidade em acidente

Tal qual um jogo de empurra, pilotos da TAM atribuíram problema à pista de Congonhas; funcionários da Infraero negaram

PAULO SAMPAIO
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois comandantes da TAM e dois técnicos da Infraero (estatal que administra os aeroportos) tentaram ontem, em depoimento à Polícia Civil de São Paulo, isentar suas empresas da responsabilidade pelo acidente com o vôo JJ 3450. Em um jogo de empurra-empurra, os comandantes que pilotaram a mesma aeronave dois dias antes do acidente afirmaram que o avião não tinha problemas mecânicos, apesar do reversor direito estar inoperante, mas reclamaram das condições da pista principal de Congonhas em dias de chuva.
Designados para vistoriar as condições da pista mais de uma hora antes do acidente, os dois técnicos da Infraero afirmam que não existiam poças d'água e que havia condições de as operações continuarem. Tanto que, afirmaram, foram realizados 40 pousos e decolagens até o momento do acidente, o que dá a entender que o problema seria com a aeronave da TAM. Em depoimento, o comandante Marcelo Sousa Soares, que pilotou a mesma aeronave dois dias antes do acidente, mas não passou por Congonhas, afirmou à polícia que o avião não tinha problemas mecânicos e que os reversores são "meros acessórios auxiliares".
Ele salientou que a pista de Congonhas apresenta dificuldades de pouso em dias de chuva. E que essas condições pioraram com a reforma do local. Soares disse que teve dificuldade em aterrizar na pista, mas não informou o dia. O comandante José Eduardo Batalha Brosco, que pilotou a aeronave no dia anterior ao acidente, também tentou diminuir a importância da inoperância do reversor (dispositivo que auxilia na frenagem da aeronave). Ele salientou que o pouso é feito em segurança mesmo sem os reversores.
Brosco narrou dificuldades para pousar a aeronave no dia anterior ao acidente com o vôo JJ 3450 em Congonhas por causa da pista escorregadia. Segundo ele, houve "momentos de tensão". Ele disse que teve a "sensação de que a aeronave não pararia a tempo".

Sem pressão
Os dois pilotos, que tiveram autorização da TAM para dar entrevista a uma emissora de TV, negaram sofrer pressões por parte da empresa, segundo o promotor Mário Luiz Sarrubbo, designado para acompanhar as investigações no 27º DP (Campo Belo). Ontem, os comandantes e os técnicos não falaram com a imprensa.
Segundo o promotor Mário Luiz Sarrubbo, que acompanha as investigações, os técnicos da Infraero, Esdras Barros e Agnaldo Molina, disseram que a pista de Congonhas não tinha lâminas d'água quando eles vistoriaram o local, menos de duas horas antes do acidente.
Os dois inspecionaram a pista após um piloto da Gol comunicar que ela estava escorregadia. Os técnicos informaram à torre sobre as condições da pista por volta das 17h30 do dia 17, quando o aeroporto foi reaberto. O acidente com o avião da TAM ocorreu às 18h51. Segundo Sarrubbo, técnicos demoraram 15 minutos para fazer uma checagem, apenas visual da pista, que mede 1.940 metros -a medição com uma régua só é feita quando existem poças d'água. "É o procedimento de praxe", disse Sarrubbo.
Segundo o diretor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, a análise é rápida porque o pessoal é treinado e já conhece os pontos de acúmulo de água na pista. O comandante Ronaldo Jenkins, coordenador de segurança de vôo do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), disse desconhecer a existência de sistemas de monitoramento do nível de água na pista que não sejam os usados em Congonhas. "A questão é outra. Não se formariam poças d'água na pista se a drenagem fosse eficiente. Não existe isso de pista com água, o sistema tem de drenar, se tem poço, tem defeito."


Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, da Reportagem Local


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