São Paulo, quarta-feira, 25 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ECONOMIA

Congonhas é "mina de ouro" para empresas

Cerca de 30% a 35% das receitas de TAM e Gol vêm exclusivamente de aeroporto, que funciona como central de operações

Lucro da TAM aumentou 174% em 2006, e o da Gol, 62%; vôos de até duas horas por Congonhas dão duas vezes mais rentabilidade

MAELI PRADO
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O aeroporto de Congonhas é uma "mina de ouro" para a TAM, Gol e Varig, donas de 91,9% do tráfego aéreo no país. Nos últimos anos, o uso intensivo de Congonhas como estratégia central das empresas multiplicou a lucratividade.
No ano passado, a TAM aumentou seu lucro em 174%, para R$ 555,9 milhões. A Gol, em 62%, para R$ 684,5 milhões.
Dos 140 aeroportos brasileiros, Congonhas proporciona sozinho cerca de 30% a 35% das receitas das duas companhias, segundo estimativas de analistas e da própria TAM (no caso de sua participação). A Gol não divulga esse percentual.
Vôos de até duas horas de duração partindo ou chegando a Congonhas proporcionam, segundo analistas, duas vezes mais rentabilidade às empresas do que outros aeroportos. São, basicamente, rotas de executivos viajando a negócios.
Das grandes companhias, a TAM é a mais dependente de Congonhas: 22% de seus vôos passam pelo aeroporto. No caso da Gol, 18%, segundo o Nectar (Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo).
A Varig, comprada neste ano pela Gol, tem 33% dos seus vôos passando pelo aeroporto, mas apenas 2,9% do mercado.

Dependência
"Sem Congonhas, as empresas perderiam vantagens de eficiência operacional relevantes, já que o aeroporto permite ganhos de economia de escala devido à maior densidade de tráfego e multiplicidade de destinos. Tendo pressão em custos, surge outro motivo para aumento de preços", afirma Alessandro Oliveira, do Nectar (ver texto nesta página).
"A lucratividade das empresas aumentou muito graças ao gerenciamento de custos e às mudanças estruturais na operação", afirma Eduardo Puzziello, do banco Fator.
Gol e Varig têm juntas 50% dos "slots" (vagas para pousos e decolagens) em Congonhas. A TAM, 45%. De cada dez vôos no Brasil, dois passam pelo aeroporto paulistano, o mais movimentado do país.
Desde o acidente do dia 17, as ações da TAM na Bovespa caíram 20%. As da Gol, 12%. Especialistas afirmam que a pressão de baixa vai continuar no curto prazo, mas as empresas tendem a se recuperar.
A solução dada às operações em Congonhas será o fator mais importante. "O destino de Congonhas e outros fatores de infra-estrutura serão decisivos", diz Mel Fernandes, do banco Brascan.
Graças ao aeroporto paulistano, Gol e TAM se transformaram em duas das mais lucrativas empresas aéreas do mundo. Com sua localização e volume de passageiros, elas têm em Congonhas sua principal base de operações e de distribuição de passageiros -ou "hub", no jargão do setor.

Menos tempo no chão
Devido à concentração do tráfego no aeroporto, as empresas conseguem fazer com que os aviões, independente do destino ou origem, cheguem quase sempre lotados. Essa demanda também faz com que fiquem no solo por menos tempo.
Enquanto em outros aeroportos do país a média de tempo em solo por aeronave varia de 40 minutos a uma hora, em Congonhas é a metade disso.
Tendo Congonhas como "hub", o modelo permite ainda que aeronaves grandes, como o Airbus-A320 da TAM ou o Boeing 737-800 da Gol, possam voar entre 12 e 15 horas diárias, proporcionando fortes ganhos de escala às empresas.
Segundo especialistas, o Brasil tem pouquíssimas cidades que poderiam comportar vôos de aeronaves com mais de 150 lugares de ponta-a-ponta, ou seja, sem passar por um aeroporto (como Congonhas) para desembarcar ou embarcar passageiros que acabam tomando destinos diferentes.
Apenas 10 pares de cidades (origem e destino) no Brasil concentram cerca de 50% da demanda de passageiros no país. Desses dez pares, sete incluem Congonhas (para pousos ou decolagens).

Perda de eficiência
Segundo os especialistas, dificilmente outros aeroportos, como os internacionais de Guarulhos (SP) ou o Tom Jobim (RJ), poderão substituir o paulistano sem perdas significativas de escala.
Com menos vôos e clientes distribuídos por Congonhas, as empresas perderiam eficiência. Por exemplo: sem um vôo entre Porto Alegre e Salvador que possa passar por Congonhas, as companhias provavelmente teriam de esperar mais tempo por passageiros com suas aeronaves no solo.
No início da tarde de ontem, em conversa com analistas, Líbano Barroso, vice-presidente financeiro da TAM, afirmou que a empresa esperava o detalhamento, pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), da resolução do governo que determinaria as mudanças no aeroporto de São Paulo.
"Entendemos que, dado que o aeroporto de Congonhas tem um tráfego que permanecerá como ponte aérea em viagens de duas horas, a expectativa é que a escala seja voltada para o mercado de executivos e que os negócios sofram menos impacto que o lazer", disse Barroso.
Pela decisão da Anac do início da noite de ontem, de manter em Congonhas a operação de vôos com até duas horas de duração, a agência -vista pelo mercado como pró-empresas- mantém o principal filão das companhias aéreas.
Na TAM, 70% dos vôos são de executivos a negócios, segundo o banco Brascan. E eles proporcionam o dobro da lucratividade à companhia quando passam por Congonhas.


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