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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/ECONOMIA
Congonhas é "mina de ouro" para empresas
Cerca de 30% a 35% das receitas de TAM e Gol vêm exclusivamente de aeroporto, que funciona como central de operações
Lucro da TAM aumentou
174% em 2006, e o da Gol,
62%; vôos de até duas horas
por Congonhas dão duas
vezes mais rentabilidade
MAELI PRADO
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O aeroporto de Congonhas é
uma "mina de ouro" para a
TAM, Gol e Varig, donas de
91,9% do tráfego aéreo no país.
Nos últimos anos, o uso intensivo de Congonhas como estratégia central das empresas
multiplicou a lucratividade.
No ano passado, a TAM aumentou seu lucro em 174%, para R$ 555,9 milhões. A Gol, em
62%, para R$ 684,5 milhões.
Dos 140 aeroportos brasileiros, Congonhas proporciona
sozinho cerca de 30% a 35% das
receitas das duas companhias,
segundo estimativas de analistas e da própria TAM (no caso
de sua participação). A Gol não
divulga esse percentual.
Vôos de até duas horas de duração partindo ou chegando a
Congonhas proporcionam, segundo analistas, duas vezes
mais rentabilidade às empresas
do que outros aeroportos. São,
basicamente, rotas de executivos viajando a negócios.
Das grandes companhias, a
TAM é a mais dependente de
Congonhas: 22% de seus vôos
passam pelo aeroporto. No caso da Gol, 18%, segundo o Nectar (Núcleo de Estudos em
Competição e Regulação do
Transporte Aéreo).
A Varig, comprada neste ano
pela Gol, tem 33% dos seus
vôos passando pelo aeroporto,
mas apenas 2,9% do mercado.
Dependência
"Sem Congonhas, as empresas perderiam vantagens de eficiência operacional relevantes,
já que o aeroporto permite ganhos de economia de escala devido à maior densidade de tráfego e multiplicidade de destinos. Tendo pressão em custos,
surge outro motivo para aumento de preços", afirma Alessandro Oliveira, do Nectar (ver
texto nesta página).
"A lucratividade das empresas aumentou muito graças ao
gerenciamento de custos e às
mudanças estruturais na operação", afirma Eduardo Puzziello, do banco Fator.
Gol e Varig têm juntas 50%
dos "slots" (vagas para pousos e
decolagens) em Congonhas. A
TAM, 45%. De cada dez vôos no
Brasil, dois passam pelo aeroporto paulistano, o mais movimentado do país.
Desde o acidente do dia 17, as
ações da TAM na Bovespa caíram 20%. As da Gol, 12%. Especialistas afirmam que a pressão
de baixa vai continuar no curto
prazo, mas as empresas tendem a se recuperar.
A solução dada às operações
em Congonhas será o fator
mais importante. "O destino de
Congonhas e outros fatores de
infra-estrutura serão decisivos", diz Mel Fernandes, do
banco Brascan.
Graças ao aeroporto paulistano, Gol e TAM se transformaram em duas das mais lucrativas empresas aéreas do mundo.
Com sua localização e volume
de passageiros, elas têm em
Congonhas sua principal base
de operações e de distribuição
de passageiros -ou "hub", no
jargão do setor.
Menos tempo no chão
Devido à concentração do
tráfego no aeroporto, as empresas conseguem fazer com que
os aviões, independente do destino ou origem, cheguem quase
sempre lotados. Essa demanda
também faz com que fiquem no
solo por menos tempo.
Enquanto em outros aeroportos do país a média de tempo em solo por aeronave varia
de 40 minutos a uma hora, em
Congonhas é a metade disso.
Tendo Congonhas como
"hub", o modelo permite ainda
que aeronaves grandes, como o
Airbus-A320 da TAM ou o
Boeing 737-800 da Gol, possam
voar entre 12 e 15 horas diárias,
proporcionando fortes ganhos
de escala às empresas.
Segundo especialistas, o Brasil tem pouquíssimas cidades
que poderiam comportar vôos
de aeronaves com mais de 150
lugares de ponta-a-ponta, ou
seja, sem passar por um aeroporto (como Congonhas) para
desembarcar ou embarcar passageiros que acabam tomando
destinos diferentes.
Apenas 10 pares de cidades
(origem e destino) no Brasil
concentram cerca de 50% da
demanda de passageiros no
país. Desses dez pares, sete incluem Congonhas (para pousos
ou decolagens).
Perda de eficiência
Segundo os especialistas, dificilmente outros aeroportos,
como os internacionais de Guarulhos (SP) ou o Tom Jobim
(RJ), poderão substituir o paulistano sem perdas significativas de escala.
Com menos vôos e clientes
distribuídos por Congonhas, as
empresas perderiam eficiência.
Por exemplo: sem um vôo entre
Porto Alegre e Salvador que
possa passar por Congonhas, as
companhias provavelmente teriam de esperar mais tempo
por passageiros com suas aeronaves no solo.
No início da tarde de ontem,
em conversa com analistas, Líbano Barroso, vice-presidente
financeiro da TAM, afirmou
que a empresa esperava o detalhamento, pela Anac (Agência
Nacional de Aviação Civil), da
resolução do governo que determinaria as mudanças no aeroporto de São Paulo.
"Entendemos que, dado que
o aeroporto de Congonhas tem
um tráfego que permanecerá
como ponte aérea em viagens
de duas horas, a expectativa é
que a escala seja voltada para o
mercado de executivos e que os
negócios sofram menos impacto que o lazer", disse Barroso.
Pela decisão da Anac do início da noite de ontem, de manter em Congonhas a operação
de vôos com até duas horas de
duração, a agência -vista pelo
mercado como pró-empresas-
mantém o principal filão das
companhias aéreas.
Na TAM, 70% dos vôos são de
executivos a negócios, segundo
o banco Brascan. E eles proporcionam o dobro da lucratividade à companhia quando passam por Congonhas.
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