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ANÁLISE
Com ou sem o Pronasci, país terá queda de violência
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
A culpa é de Rousseau
(1712-1778). O bom Jean-Jacques tanto martelou a ideia
de que o homem é originalmente bom, mas a sociedade
o corrompe que as pessoas
acabaram por acreditar nisso
e associam as instituições
modernas à violência.
Uma queixa recorrente entre os indivíduos de mais de
40 anos é que antes as coisas
eram diferentes.
Se olharmos para o horizonte de anos e décadas, eles
podem ter razão. Várias partes do globo, Brasil inclusive,
vivem epidemias de violência. Se, porém, considerarmos a série histórica dilatada, a conclusão a que chegam autores como o psicólogo evolucionista Steven Pinker é que a humanidade está
se comportando melhor.
Muito provavelmente por
influência de Rousseau, o
"establishment" científico
costumava ver a violência do
passado como menos mortífera que a presente. Alguns
chegaram a afirmar que os
conflitos na Idade da Pedra
eram "simbólicos".
Novos dados e análises,
produzidos por autores como
Lawrence Keeley e Stephen
LeBlanc, mostram que os homens se massacram desde
sempre, só que antes o faziam com muito mais afinco.
Como bem observa Pinker,
"na década de Darfur e do
Iraque e logo após o século
de Stálin, Hitler e Mao, afirmar que a violência está diminuindo pode parecer algo
entre a alucinação e a obscenidade". É evidente que, por
números absolutos, o século
20 é o campeão. Calcula-se
que os conflitos deste período tenham matado mais de
100 milhões de pessoas.
Os confrontos pré-históricos, porém, eram mais frequentes e matavam porcentagens muito maiores da população. Se as taxas de letalidade verificadas entre os
"bons selvagens" fossem
aplicadas ao século 20, os
óbitos excederiam 2 bilhões.
A escravidão foi virtualmente extinta e a tortura está
em baixa. As guerras já não
são consideradas meio legítimo de conquista de território.
Outro indicativo é a consistente queda da criminalidade em países desenvolvidos. O Brasil, com ou sem
Pronasci, parece estar nesse
caminho. Ainda levará tempo até ostentarmos índices
civilizados, mas, a menos
que ocorra uma tragédia demográfica, chegaremos lá.
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