São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

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ANÁLISE

Com ou sem o Pronasci, país terá queda de violência

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

A culpa é de Rousseau (1712-1778). O bom Jean-Jacques tanto martelou a ideia de que o homem é originalmente bom, mas a sociedade o corrompe que as pessoas acabaram por acreditar nisso e associam as instituições modernas à violência.
Uma queixa recorrente entre os indivíduos de mais de 40 anos é que antes as coisas eram diferentes.
Se olharmos para o horizonte de anos e décadas, eles podem ter razão. Várias partes do globo, Brasil inclusive, vivem epidemias de violência. Se, porém, considerarmos a série histórica dilatada, a conclusão a que chegam autores como o psicólogo evolucionista Steven Pinker é que a humanidade está se comportando melhor.
Muito provavelmente por influência de Rousseau, o "establishment" científico costumava ver a violência do passado como menos mortífera que a presente. Alguns chegaram a afirmar que os conflitos na Idade da Pedra eram "simbólicos".
Novos dados e análises, produzidos por autores como Lawrence Keeley e Stephen LeBlanc, mostram que os homens se massacram desde sempre, só que antes o faziam com muito mais afinco.
Como bem observa Pinker, "na década de Darfur e do Iraque e logo após o século de Stálin, Hitler e Mao, afirmar que a violência está diminuindo pode parecer algo entre a alucinação e a obscenidade". É evidente que, por números absolutos, o século 20 é o campeão. Calcula-se que os conflitos deste período tenham matado mais de 100 milhões de pessoas.
Os confrontos pré-históricos, porém, eram mais frequentes e matavam porcentagens muito maiores da população. Se as taxas de letalidade verificadas entre os "bons selvagens" fossem aplicadas ao século 20, os óbitos excederiam 2 bilhões.
A escravidão foi virtualmente extinta e a tortura está em baixa. As guerras já não são consideradas meio legítimo de conquista de território.
Outro indicativo é a consistente queda da criminalidade em países desenvolvidos. O Brasil, com ou sem Pronasci, parece estar nesse caminho. Ainda levará tempo até ostentarmos índices civilizados, mas, a menos que ocorra uma tragédia demográfica, chegaremos lá.


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