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Sobrevivente da cheia depende de favor de amigos para comer
Cícero Silva ficou 9 h agarrado em árvore; hoje, vive em abrigo
ENVIADO A UNIÃO DOS PALMARES (AL)
Em 18 de junho, Cícero Mariano da Silva, 45, passou nove horas agarrado a um coqueiro e escapou da cheia do
rio Mundaú, em União dos
Palmares (81 km de Maceió).
Levado a um abrigo coletivo,
ele ainda não conseguiu deixar o local, onde mora com a
família em um cercado de 25
m2 há mais de um mês.
Ex-funcionário de um frigorífico que ruiu na enchente, "Botinha", como Silva é
conhecido, continua desempregado. Ele passa os dias
andando na cidade atrás de
"mistura" para as refeições
-principalmente carne.
Silva usa a amizade conquistada no trabalho para
conseguir ajuda na feira da
carne, um grande galpão onde os açougueiros cortam e
vendem animais abatidos.
"Sempre tem um ou outro
que ajuda", diz ele. "Hoje, o
amigo deu uma rabada, que
já vai para a panela." Botinha
não reclama da vida que leva
na escola transformada em
abrigo e afirma que não pretende se mudar para uma
tenda, como quer o governo.
"Fui ver a barraca e é muito pequena", disse ele. "O cabra entra, mas não pode ficar
em pé", reclamou. "Eu não
vou viver numa casinha de
cachorro", declarou.
A mesma coisa pensa o funileiro José Cícero Medeiros
de Moura, 36, que perdeu sua
casa e sua oficina na enchente. Após a tragédia, ele acampou sobre os escombros e só
saiu de lá há 15 dias, depois
que um trator passou por cima do seu barraco.
NA OFICINA
Mas Moura não procurou
um abrigo coletivo. Preferiu
morar em uma oficina de funilaria, onde conseguiu emprego e recebe cerca de R$
400 por mês -um quinto do
que faturava mensalmente
com o negócio próprio.
Durante as duas semanas
em que viveu nos escombros,
o funileiro garimpou materiais de construção. Planejava erguer um galpão em um
terreno qualquer. Porém, dos
cerca de 2.000 tijolos que recolheu, ladrões levaram a
metade. Também ficou sem
as 300 telhas que juntou.
Moura dorme sobre tábuas
colocadas ao longo das vigas
de madeira que sustentam o
teto da oficina. E usa a carcaça de um carro como armário
para guardar o saco de roupas que lhe restou.
(FÁBIO GUIBU)
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