São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sobrevivente da cheia depende de favor de amigos para comer

Cícero Silva ficou 9 h agarrado em árvore; hoje, vive em abrigo

ENVIADO A UNIÃO DOS PALMARES (AL)

Em 18 de junho, Cícero Mariano da Silva, 45, passou nove horas agarrado a um coqueiro e escapou da cheia do rio Mundaú, em União dos Palmares (81 km de Maceió). Levado a um abrigo coletivo, ele ainda não conseguiu deixar o local, onde mora com a família em um cercado de 25 m2 há mais de um mês.
Ex-funcionário de um frigorífico que ruiu na enchente, "Botinha", como Silva é conhecido, continua desempregado. Ele passa os dias andando na cidade atrás de "mistura" para as refeições -principalmente carne.
Silva usa a amizade conquistada no trabalho para conseguir ajuda na feira da carne, um grande galpão onde os açougueiros cortam e vendem animais abatidos.
"Sempre tem um ou outro que ajuda", diz ele. "Hoje, o amigo deu uma rabada, que já vai para a panela." Botinha não reclama da vida que leva na escola transformada em abrigo e afirma que não pretende se mudar para uma tenda, como quer o governo.
"Fui ver a barraca e é muito pequena", disse ele. "O cabra entra, mas não pode ficar em pé", reclamou. "Eu não vou viver numa casinha de cachorro", declarou.
A mesma coisa pensa o funileiro José Cícero Medeiros de Moura, 36, que perdeu sua casa e sua oficina na enchente. Após a tragédia, ele acampou sobre os escombros e só saiu de lá há 15 dias, depois que um trator passou por cima do seu barraco.

NA OFICINA
Mas Moura não procurou um abrigo coletivo. Preferiu morar em uma oficina de funilaria, onde conseguiu emprego e recebe cerca de R$ 400 por mês -um quinto do que faturava mensalmente com o negócio próprio.
Durante as duas semanas em que viveu nos escombros, o funileiro garimpou materiais de construção. Planejava erguer um galpão em um terreno qualquer. Porém, dos cerca de 2.000 tijolos que recolheu, ladrões levaram a metade. Também ficou sem as 300 telhas que juntou.
Moura dorme sobre tábuas colocadas ao longo das vigas de madeira que sustentam o teto da oficina. E usa a carcaça de um carro como armário para guardar o saco de roupas que lhe restou.
(FÁBIO GUIBU)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.