São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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Feito à mão

Letra manuscrita começa a ser banida nos EUA, mas, no Brasil, ainda encontra adeptos apaixonados ; em São Paulo, escola de caligrafia existe desde 1915

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

Uma história de amor com a escrita começou em 1915, quando Antônio De Franco abriu sua escola de caligrafia. Até hoje, mil alunos por ano aprendem as técnicas para escrever ao estilo "comercial inglês" ensinadas por Antônio De Franco Neto.
Desde 1968, Dora Böttger, 68, escreve diplomas em letra "inglesa cursiva enfeitada" e orienta quem quer seguir na mesma profissão.
Os dois paulistanos estão na contramão de uma tendência que cresce nos EUA, onde 40 Estados pretendem abolir a chamada letra de mão. Ambos afirmam: este tipo de escrita não vai acabar.
O Estado de Indiana (EUA) deve ser o primeiro a aderir à letra bastão (de forma), com o argumento de que a digitação em computadores, iPhones e tablets vai se sobrepor ao lápis e à caneta.
Tudo bobagem para De Franco Neto, 62, que com o irmão, Flávio, 54, e o filho Antônio, 27, toca a escola criada pelo avô. "Eles [americanos] não estão vendo a importância de preservar esse hábito. Daqui a dez anos, quando faltar luz, eles não vão saber fazer um "o" direito", diz.
Para ele, "é fundamental escrever bem para enfrentar alguns gargalos ao longo da vida, como vestibulares e concursos públicos".
Além das góticas inglesa e alemã, De Franco ensina em sua escola a ronde francesa e outras variações. Digitar ali, só no celular moderno que ele carrega.
Um de seus alunos é justamente um jovem brasileiro de 15 anos que mora nos EUA e já está se esquecendo do português. De Franco ensina a ele cada detalhe. "Se estudar, em dois meses você terá a letra mais bonita da classe", diz ao garoto Mário.
"Ele está com a letra muito ruim e as professoras estão reclamando lá. É bom que ele nem saiba que estão querendo abolir a letra lá", afirmou a tia do rapaz, a engenheira Lucila de Ávila Castilho, 53.
Uma das mais aplicadas é a professora angolana Branca Mirella Campos Aires, 27. Vai todo dia à escola, na avenida Eusébio Matoso, para escrever por horas. Em vez da caneta, ela usa uma pena.
Além de melhorar a escrita para seus alunos, vai se tornar calígrafa para fazer convites de casamento e diplomas. Para isso, fará em dois meses o curso que dura dez, para poder voltar a seu país.

GERAÇÕES
Segundo De Franco Neto, foi mesmo uma história de amor que deu origem à escola de caligrafia da família.
De acordo com ele, sua bisavó italiana, Ida Nóbile De Franco, que era nobre e foi educada num castelo, deixou Veneza rumo ao Brasil depois de se apaixonar por um plebeu, com quem se casou e teve quatro filhos.
Em São Paulo, ensinou uma das artes que aprendeu a cada um deles. A Antônio De Franco, a caligrafia. A história amorosa já é contada pela quarta geração.

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folha.com.br/fg3819


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