São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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PRESÍDIO SEM LEI

Uma presa foi morta durante o motim iniciado ontem após uma disputa entre duas facções criminosas

Pastoral diz que Suzane é refém em rebelião

CLAUDIA JORDÃO
DO "AGORA"

Cerca de cem presas da Penitenciária Feminina da Capital, em Santana, zona norte de São Paulo, iniciaram uma rebelião por volta do meio-dia de ontem e permaneciam amotinadas com pelo menos oito reféns até o fechamento desta edição. Uma presa foi morta pelas detentas. Com 450 vagas, o presídio tinha 670 presas ontem.
Entre as reféns, segundo a Pastoral Carcerária, está Suzane Louise von Richthofen, presa após confessar ter participado do assassinato dos próprios pais, o casal Marísia e Manfred von Richthofen, em 31 de outubro de 2002, quando tinha 19 anos de idade.
O crime foi cometido com a ajuda do namorado dela, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, e do irmão dele Cristian Cravinhos de Paula e Silva, que agrediram o casal, enquanto dormia, com barras de ferro. Eles foram acusados de duplo homicídio qualificado por motivo torpe e meio cruel.
A detenta Quitéria Silva Santos, 36, foi atacada a facadas e pauladas e morreu ao dar entrada na Santa Casa, no centro da capital.
Onze funcionárias foram feitas reféns -no entanto, até o início da noite de ontem, três delas haviam sido libertadas.
O padre Valdir João Silveiro, coordenador da Pastoral Carcerária, ouviu de duas presas que Suzane havia sido tirada à força da enfermaria da penitenciária, local onde ela trabalhava, e levada pelas presas ao pavilhão 3 ou ao 4, locais onde estavam as rebeladas.
Um advogado de Suzane chegou à portaria do presídio, mas não obteve autorização para entrar. A Secretaria da Administração Penitenciária não confirmou a informação da presença de Suzane entre as reféns.
Segundo a secretaria, a rebelião começou devido a uma briga entre as facções PCC (Primeiro Comando da Capital) e TCC (Terceiro Comando da Capital).
Por ordem da facção, ainda segundo a secretaria e de funcionários do presídio, as integrantes do PCC teriam a intenção de ""cortar a cabeça" de duas rivais do TCC.
Durante a rebelião, as duas presas do TCC juradas de morte foram isoladas por funcionários da penitenciária e, em seguida, levadas para outro presídio, cujo nome não foi divulgado.
As rebeladas reivindicavam o retorno das duas transferidas em troca da liberdade das reféns.
Por volta das 18h30 de ontem, as negociações das rebeladas com juízes-corregedores foram suspensas e programadas para retornar somente na manhã de hoje.
As reféns passariam a noite em poder das presas. Não havia informações sobre as condições em que as reféns estavam.

Morte
Quitéria sofria de problemas mentais e, segundo funcionários, falava demais e incomodava as outras presas à noite. Ela foi morta cerca de uma hora depois do início da rebelião. As presas queimaram colchões e guaritas.
Em razão da violência da rebelião, 12 presas que estão com seus bebês foram transferidas para a Penitenciária Feminina do Butantã às 16h de ontem. Cerca de 40 policiais (incluindo oito mulheres) da tropa de choque entraram no presídio por volta das 14h, mas saíram cerca de uma hora depois.


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