DA SUCURSAL DO RIO

Da janela do seu apartamento, em Copacabana, zona sul do Rio, uma aposentada de 80 anos filmou, durante dois anos, a movimentação da venda de drogas e a acintosa exposição de homens armados na ladeira dos Tabajaras -acesso a uma favela da região.
A partir dessas imagens, a polícia do Rio já prendeu 22 pessoas, entre elas nove policiais militares.
Foi uma operação demorada e ampla, somando 32 horas de gravação distribuídas em 22 fitas.
Da janela da sala do apartamento em que morou por 38 anos em Copacabana, vizinho da favela dos Tabajaras, a aposentada documentou, com uma câmera de vídeo amadora, até crianças e adolescentes comprando e usando drogas como cocaína, maconha, crack, cola de sapateiro e cheirinho-de-loló (droga caseira à base de clorofórmio).
Alguns dos clientes aparentavam idade entre seis e oito anos. Mulheres com roupas típicas de classe média aparecem adquirindo e experimentando drogas. As imagens foram publicadas ontem pelo jornal carioca "Extra".
A saga da aposentada -uma ex-empregada doméstica nascida em Alagoas- começou depois de exaustivas queixas à Polícia Militar sobre o comércio de drogas em frente ao seu prédio. Como as reclamações não surtiram efeito, ela decidiu comprar, a prestação, uma câmera de vídeo. Pagou R$ 800 de entrada e desembolsou R$ 150 por cinco meses para quitá-la.
Colocava sua câmera em cima de listas telefônicas e filmava o movimento. Por várias vezes, viu traficantes com binóculos virados para a sua janela, alvo de tiros não se sabe se acidentais. Decidiu colocar uma película escura nos vidros para não ser vista e baixava a persiana antes de gravar.
A aposentada narrava e comentava o que via. "Não vou dizer que não tenho medo deles, mas, deixar de filmar esses bandidos, isso não vou mesmo."


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