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DANÇA DA CHUVA
Prefeitura faz parceria gratuita com fundação "especializada em corrigir desvarios" meteorológicos
Entidade esotérica fará alerta climático
DA REPORTAGEM LOCAL
Tornados? Vendavais? Inundações? Para se prevenir dessas
calamidades climáticas, a administração José Serra (PSDB) firmou parceria com a Fundação
Cacique Cobra Coral, entidade
que se define como "esotérica-científica e especializada em corrigir desvarios do clima".
Publicado no "Diário Oficial
da Cidade" na semana passada,
o convênio não prevê nenhum
custo para os cofres públicos.
O secretário municipal das
Subprefeituras, Walter Feldman, um dos responsáveis pelo
Centro de Gerenciamento de
Emergências da cidade, diz estar
interessado nos boletins climáticos da agência de meteorologia
Tunikito, que faz parte do mesmo grupo da fundação, comandada pela médium Adelaide
Scritori -que não respondeu
aos telefonemas da Folha.
A Tunikito também trabalha
com seguro e locação de carros.
De acordo com o site da entidade, a principal fonte das previsões meteorológicas de Adelaide
-que teria poderes sobrenaturais- é o espírito do chefe indígena americano Cobra Coral,
que em outras encarnações teria
sido Galileu Galilei e Abraham
Lincoln. O espírito de Cobra Coral seria capaz de "empurrar
uma frente fria de um lugar para
o outro, fazer sumir uma iminente geada e assim por diante".
O site a descreve como uma
mulher de meia-idade que se
desloca em um Corsa e despacha
três vezes por semana à sede da
fundação, na cidade de Guarulhos, Grande São Paulo.
Entre as catástrofes previstas
pela fundação está a tempestade
do dia 25 de maio deste ano, a
pior chuva que atingiu São Paulo
desde dezembro de 1988 -e que
fez o rio Tietê transbordar depois de três anos.
Feldman diz que recebeu comunicado da fundação sobre a
enchente cerca de um mês antes.
"Queremos aproveitar o trabalho científico que eles fazem."
E o lado esotérico? "Vamos supor que eles tenham informações esotéricas de que no dia 30
de setembro vai acontecer uma
grande chuva em São Paulo,
mesmo sem boletins científicos
que comprovem. O que vamos
fazer é aumentar nossa atenção,
porque talvez [nós] não tenhamos captado uma informação."
Para Maria Gertrudes Justi,
professora de meteorologia da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, o fato de a Cobra Coral
dizer ser possível prever o tempo
com meses de antecedência põe
em dúvida a qualidade do trabalho feito. "Há um limite de 10 a
15 dias para previsões. É preciso
levar em conta que trabalhamos
com modelos matemáticos", diz
Justi, presidente da Sociedade
Brasileira de Meteorologia.
Essa não é a primeira decisão
inusual que envolve as subprefeituras nesta gestão. Em março,
Feldman distribuiu aos subprefeitos "pedômetros", aparelhos
que contam o número de passadas do usuário. Em julho, o subprefeito da Capela do Socorro,
José Augusto da Silva Ramos,
propôs que os moradores da zona sul combatessem a superpopulação de ratos com jibóias.
"O pedômetro era um estímulo para melhorar a qualidade de
vida dos subprefeitos. Já as cobras foram usadas como figura
de linguagem para que as pessoas cuidassem do lixo", explica
o secretário.
(FABIO SCHIVARTCHE)
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