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BARBARA GANCIA
McDia Infeliz
Não seria mais coerente apoiar um movimento para esclarecer a juventude sobre os riscos da obesidade?
ALÔ, RONALD MCDONALD, o palhacinho preferido das crianças obesas! Quer dizer que
amanhã tem McDia Feliz na rede de
lanchonetes McDonald's?
Para quem não sabe, o McDia Feliz é aquele sábado do ano em que toda a renda obtida com a venda do
sanduíche Big Mac é doada ao Graac
(Grupo de Apoio ao Adolescente e à
Criança com Câncer).
A campanha, de âmbito nacional,
é divulgada nas escolas e conta com
o trabalho dedicado de dezenas de
milhares de voluntários, entre os
quais constam instituições financeiras, como o Banco Real, que neste
ano adquiriu 7.000 vales-Big Mac
para distribuir entre seus funcionários, e grandes empresas, como a
Philco, que desenvolveu uma campanha com os seus vendedores para
dar vales-Big Mac de acordo com a
performance de cada um.
Não é comovente ver o país inteiro
se juntar em mutirão por uma boa
causa? Bem, como não me incomodo em fazer o papel de estraga prazeres, respondo ao meu próprio questionamento com um sonoro NÃO.
Antes que você diga que sou do contra ou que estou pouco me lixando
para as crianças e os adolescentes
com câncer, gostaria de lembrá-lo,
meu nobre leitor, de que a comida
do McDonald's faz mal à saúde.
Comprovadamente. O documentário indicado ao Oscar, "Super Size
Me - A Dieta do Palhaço", de Morgan Spurlock, está aí que não deixa
mentir. Depois que o filme foi lançado nos EUA, o McDonald's se viu
obrigado a tirar as gigantescas porções "super size" do cardápio.
Os funcionários do banco Real e
da Philco podem fazer com seus estômagos o que bem entenderem,
mas, se tenho escolhas melhores,
por que eu deveria comer algo que é
nocivo à saúde para ajudar crianças
e adolescentes com câncer?
Aliás, porque será que o McDonald's escolheu justamente as crianças, indefesas, como o objeto de sua
campanha? Não seria mais coerente
apoiar um movimento para esclarecer a juventude sobre os graves riscos da obesidade?
Parece mesmo que algumas pessoas só usam a cabeça para apoiar o
chapéu. Não está na cara que a qualidade da alimentação influi, e muito,
na saúde e na longevidade? Pois o
McDonald's fazer campanha para
ajudar crianças com câncer não é
mais ou menos a mesma coisa que
uma Philip Morris ou uma Souza
Cruz da vida promoverem campanhas para levantar fundos em prol
das vítimas de câncer no esôfago e
no pulmão? Não é o equivalente aos
fabricantes de bebidas alcoólicas financiarem campanhas para ajudar
as vítimas de acidentes de trânsito?
Apoiar qualquer ação do McDonald's significa incentivar o consumo diário de carne, hábito que está
devastando o planeta, a começar pela Amazônia. É de admirar que empresas de porte não vejam nada de
errado em ligar o seu nome ao de
uma campanha canhestra como a do
McDia Feliz. Se desejam doar dinheiro para ajudar a quem precisa,
por que não o fazem diretamente,
depositando o tutu na conta corrente do Gracc, da Santa Casa ou de outra entidade de escolha? Será que
ninguém no banco Real ou na Philco
se deu conta de que parte do dinheiro doado ao McDia Feliz vai parar,
na forma de impostos, nos cofres do
governo?
barbara@uol.com.br
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